O renascimento do algodão paraibano
A Paraíba tem uma rica e extensa história de produção de algodão. Ao final do século XIX e início do século XX, o produto desempenhou um papel crucial na economia do Brasil e da Paraíba, impulsionando o desenvolvimento de cidades, ferrovias e infraestrutura produtiva. A indústria têxtil floresceu localmente graças à produção de algodão, contribuindo, ainda mais, para o crescimento econômico do estado.
Desde a década de 1990, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem liderado os esforços nacionais para revitalizar a produção e exportação de algodão. Por meio do cruzamento de espécies coloridas, a instituição conseguiu desenvolver um produto com resistência e comprimento de fibra adequados para processos industriais, o que impulsionou a retomada da cotonicultura na região Semiárida.
Além de do desenvolvimento de novas variedades de algodão, a Embrapa tem trabalhado em sistemas de produção sustentáveis que permitem um manejo eficiente de recursos naturais, como solo e água, o controle de pragas, doenças e plantas daninhas, bem como a melhoria da eficiência de insumos aplicados para melhorar a qualidade das fibras de algodão produzidas no Brasil.
A Embrapa também tem apoiado a agricultura familiar na produção de algodão, fornecendo tecnologias que economizam tempo e melhoram a qualidade de vida na zona rural. Além disso, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba (Emater-PB), em parceria com a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), tem fornecido assistência técnica para o combate de pragas na produção de algodão orgânico.
O algodão colorido tem se mostrado uma cultura cada vez mais promissora para o estado da Paraíba, despertando interesse tanto nos mercados têxteis nacionais quanto internacionais. A Certificação de Indicação Geográfica, conquistada em 2012, e a Declaração de Patrimônio Cultural Imaterial para o algodão colorido da Paraíba, em 2022, ajudam a reconhecer os esforços para tornar o estado uma referência em algodão agroecológico no Brasil.
Entre outros marcos para o setor local, tem-se que a Organização Não Governamental (ONG) Arribaçã, sediada no estado, foi agraciada com o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social de 2019 por projeto desenvolvido, desde 2023, para a produção de algodão orgânico nas regiões paraibanas da Borborema e Cariri.
Em 2016, foi reinaugurada a Usina de Beneficiamento de Algodão Antônio Inácio da Silva, anteriormente conhecida como Usina Boa Viagem, em Pirpirituba-PB. Nela, o algodão orgânico é descaroçado sem contaminação por organismos geneticamente modificados. Esse procedimento resultou em um aumento de 30% no preço do produto mediante o recebimento do “Selo Orgânico IBD”. Entre os parceiros do projeto estão prefeituras de municípios produtores e a Prefeitura de Pirpirituba; o Governo do Estado por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (SECTIES)/Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado (Fapesq-PB), Secretaria da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS), Companhia de Desenvolvimento da Paraíba; a Embrapa Algodão; e várias indústrias têxteis como Têxtil Norfil S/A, Calvin Klein, Reserva, Malhas Menegotti, Anselmi e Instituto Renner.
O estado também tem se destacado por iniciativas como o Programa Paraíba Produtiva, resultado de um Termo de Cooperação Técnica entre a Empaer, SECTIES, Fapesq e SEAFDS. O Programa atende seis arranjos produtivos, incluindo o algodão, com investimentos de R$ 2,5 milhões. Em 2015, havia cinco famílias em um município produzindo algodão orgânico. Atualmente, são 327 famílias em 60 municípios, um crescimento que expressa o potencial de desenvolvimento socioeconômico local pela produção de algodão orgânico.
Uma das demonstrações da força do algodão paraibano é a presença na Semana de Moda de Milão, na Itália, com as criações da marca Natural Cotton Color. A empresa trabalha com cerca de 50 agricultores que fornecem algodão colorido e utilizam, aproximadamente, 10 toneladas do produto por ano. A marca tem desempenhado um papel crucial para aumento da introdução do algodão orgânico colorido no mercado consumidor e da lucratividade do produto em toda a cadeia produtiva.
Outra empresa que internacionaliza a produção de algodão paraibana é a Santa Luzia Redes e Decoração. Ela combina sustentabilidade ambiental com inovação, produzindo itens a partir de fios reciclados e algodão colorido sem aditivos ou corantes. Seus produtos são vendidos para clientes que entendem de compromisso socioambiental. Atualmente, a Santa Luzia Redes e Decoração exporta para cerca de 23 países em todos os continentes. Em 2019, a empresa foi reconhecida com o Prêmio de Excelência Artesanal Cone Sul pelo Conselho Mundial de Artesanato e tornou-se parceira do Senai-PB.
O algodão colorido paraibano também ganhou destaque internacional quando a estilista pessoense Elis Janoville, radicada na França desde 2007, concorreu ao prêmio “Go for Good” da Galeria Lafayette em Paris. Sua grife Panapaná foi uma das finalistas da premiação que começou com 16 marcas que deveriam utilizar algodão orgânico de uma comunidade.
Em Ingá, desde 2021, uma articulação entre diferentes setores também tem impulsionado a produção de algodão orgânico. O governo estadual oferece assistência técnica, enquanto a prefeitura fornece terra e outros recursos naturais. Os produtores rurais trabalham organizados em cooperativa e empresas parceiras garantem a aquisição do algodão, que é transformado em fios e tecidos. A Prefeitura de Ingá também recuperou o terreno para instalação do maquinário, com apoio das empresas Companhia Industrial Cataguases e Dalila Têxtil, que reformaram o galpão e adquiriram o equipamento, oferecendo um prazo de pagamento de cinco anos para a cooperativa de agricultores.
Os casos de apoio e articulação institucional aqui destacados reforçam o potencial exportador da produção de algodão paraibano e, principalmente, como a atuação conjuntas dos eixos da agricultura familiar, empresas privadas e Estado podem gerar uma fórmula exitosa para o desenvolvimento sustentável.
Fontes: Redes Santa Luzia, Agência Econordeste, SECTIES-PB, Portal Correio, G1, UOL.