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Chita e trabalho artesão: símbolos da cultura brasileira

por Autor: Giuseppe Severgnini (graduado em Ciências Econômicas/UFPB), membro do Probex COMEX UFPB. publicado 20/03/2024 11h58, última modificação 20/03/2024 11h58

A chita é um tecido leve, geralmente estampado com padrões coloridos e vibrantes. É frequentemente usado na confecção de roupas, acessórios de moda, decoração de interiores e artesanato. Segundo a professora de tecnologia têxtil do curso de moda da Faculdade Boa Viagem (FBV), Débora Pontes, a comercialização internacional da chita teve origem no século XV, na Índia. A viagem do tecido foi iniciada por meio da Companhia da Índias Orientais, que importava o tecido, juntamente com especiarias, como cravo, canela e pimenta. Segundo Duarte (2021), o chintz, como era chamada a chita, foi levado para a Europa pelos portugueses durante o período colonial e tornou-se popular em várias partes do mundo devido à sua durabilidade, versatilidade e estética.

Na cultura brasileira, a chita foi introduzida durante o período colonial, quando os portugueses começaram a importar o tecido da Índia para o Brasil. Inicialmente, o tecido era utilizado na confecção de roupas simples para escravos e trabalhadores, devido à sua durabilidade e baixo custo (Duarte, 2021). Com o tempo, o tecido se popularizou entre todas as classes sociais devido à sua acessibilidade e também por suas estampas coloridas e alegres, que refletiam a cultura e as tradições brasileiras. Sua presença é tão marcante que, hoje em dia, ela é considerada um símbolo da identidade nacional e é frequentemente associada a festas populares, como o Carnaval e o São João. 

Na Região Nordeste, a chita está enraizada como elemento da história e tradições, sendo amplamente utilizada em diversas formas de expressão cultural. Na confecção de trajes tradicionais nordestinos, ela aparece em vestidos de quadrilha junina, saias rodadas, blusas e outros acessórios. Na decoração, pode ser encontrada em cortinas, colchas, almofadas, toalhas de mesa, entre outros itens decorativos. Além disso, muitos artesãos usam a chita em suas criações, como bonecas de pano, bolsas, lenços, calçados, carteiras etc.

 

A artesã Adriana Siqueira, paulista, residente em João Pessoa-PB há 6 anos, confecciona várias peças artesanais à base do tecido chita, tanto para o Carnaval quanto para o São João, como tiaras, ombreiras e presilhas. Para ela, o tecido é de grande relevância para a cultura brasileira. Confira a entrevista realizada por Giuseppe Severgnini (graduado em Ciências Econômicas), colaborador externo do Probex COMEX UFPB, com a artesã, Adriana:

 

Giuseppe Severgnini (entrevistador): "Como a CHITA faz parte do seu trabalho?"

 

Adriana Siqueira (artesã): “A chita é a estrela do meu trabalho. Praticamente, toda a concepção dos acessórios nasce inspirada nas cores, flores e estampas que compõem o tecido. É um tecido que acho lindo desde a infância, pois me lembra os vestidos de São João, das quadrilhas da igreja, da escola... Sempre fui encantada por esse tecido. Mas foi somente quando vim morar em João Pessoa que comecei a inseri-lo no artesanato que crio. Eu faço acessórios com flores de chita e agora estou pesquisando e vendo novas possibilidades de reuso de sobras do tecido na criação de novas peças. A chita 100% algodão é um dos tecidos mais baratos, custando, entre R$ 11,00 e R$ 16,00 o metro, o que facilita a compra de várias estampas para ter uma gama grande de oferta e possibilidades de criação de acessórios em variadas cores e padrões. Gosto de frisar que uso a chita de algodão, pois hoje no mercado encontra-se o tecido de poliéster, porém de qualidade muito baixa. Como disse anteriormente, as flores das estampas da chita são o que dão vida à minha criação, pois cada flor dá uma forma e volume diferenciados às peças. As flores passam por um processo de engomado e sobreposição, ganhando características tridimensionais, um efeito único e muito bonito nas peças. E, a partir delas, outras técnicas e materiais são empregados nas criações, como fitas, penas, pedrarias, bordados e outros tecidos. Por ser brasileira e também usada principalmente na época de São João e Carnaval no Nordeste, a chita é encontrada facilmente e em grande variedade nas lojas de tecido locais e também nas lojas online, sendo um material de fácil reposição durante o ano todo.”

 

Giuseppe Severgnini (entrevistador): "Qual o valor percebido pelos consumidores na compra dos materiais com chita?"

 

Adriana Siqueira (artesã): Percebo que, a cada dia, há uma maior valorização e percepção da beleza de um trabalho feito com um material que julga-se ser simples e barato. A chita é um tecido lindo e extremamente versátil, podendo ser aplicado de inúmeras maneiras na arte e no artesanato. Recebendo muitos tipos de acabamentos, pode ser usada para vários suportes e finalidades e quanto mais criativo seu uso, mais valor é agregado à peça. O tecido de chita tem sido valorizado e utilizado por vários designers, artistas e artesãos nesses últimos anos, seja na decoração, vestuário ou acessórios, e está tendo uma aceitação cada dia maior do público, que também tem buscado por peças únicas, autorais e que valorizam a riqueza cultural que a chita representa, muito mais do que o valor precificado do material, pois sabe que nas mãos de um bom artista/artesão tudo se transforma. Mas, para isso, é necessário também que a valorização se inicie por nós, artistas que utilizam esse material, e também pela forma como mostramos isso ao público. Eu, particularmente, faço questão de ressaltar que a chita é a estrela do meu trabalho, pois, por incrível que pareça, depois da peça pronta muitas pessoas demoram a reconhecer que as flores são feitas com esse tecido. Acredito que esse valor cultural da chita tem que ser mesmo ensinado e destacado ao público por nós, para que ele, de fato, reconheça o valor desse tecido que é tão a cara do Brasil”.

 

Referências:

Chita: como o tecido indiano virou sensação nordestina. Curiosamente, s.d. Disponível em: <https://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/chita-como-o-tecido-indiano-virou-sensacao-nordestina>. Acesso em: 07 de março de 2024.

 

DUARTE, Jorge J. P. O TECIDO CHITA COMO ÍCONE CULTURAL DA MODA BRASILEIRA. XVII Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador, 2021. Disponível em: <http://www.enecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-568/132212.pdf>. Acesso em: 07 de março de 2024.