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UFPB: três décadas de ensino de Arte




Gabriel Bechara Filho - 11.08.2008

Disponível em: http://www.agencia.ufpb.br/ver.php?pk_noticia=7276
publicado: 13/07/2016 10h10, última modificação: 13/07/2016 10h10

UFPB: três décadas de ensino de Arte





A Licenciatura em Educação Artística da UFPB foi fundada por uma educadora nacionalmente conhecida e respeitada, a falecida professora Laís Aderne Gabriel Bechara Filho Professor e Crítico de Arte. O exercício da crítica jornalística nem sempre é popular, não apenas porque os leitores algumas vezes são refratários à reavaliações, como também pela falta de isenção em que essas críticas algumas vezes se revestem. A imparcialidade é, por conseguinte, um atributo indispensável para a credibilidade de um texto crítico que pode, eventualmente, comprometer o veículo de comunicação que o veicula quando essa qualidade está ausente, principalmente se o texto não é produto de colaboradores, mas faz parte do corpo de colunistas permanente de um jornal. Recentemente, foi publicado na imprensa paraibana um artigo que qualificava, literalmente, o Curso de Educação Artística da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que há muitos anos é coordenado pelo professor Vanildo Mousinho, como "um quase zero a esquerda", supostamente por não ter formado artistas de valor, ao longo dos anos. Julgamos ser essa uma opinião falha, pois desconsidera nomes importantes e variados de artistas que estudaram no referido curso, como Martinho Patrício, Maria Helena Mousinho, Chico Dantas, Fred Svendsen, José Pagano, Clóvis Jr., Rose Catão e mais recentemente, Sidney Azevedo, isso sem falar naqueles artistas plásticos que frequentaram com assiduidade o atelier de gravura do ex-professor Hermano José e de lá se lançaram no circuito nacional, como Walter Wagner. Não estou falando, no entanto, de simples artistas provincianos, mas de alguns nomes que circulam nacionalmente e internacionalmente em várias mostras importantes.


A Licenciatura em Educação Artística da UFPB foi fundada por uma educadora nacionalmente conhecida e respeitada, a falecida professora Laís Aderne, profissional cujos méritos de seu trabalho na Paraíba foram, imediatamente, reconhecidos pela UNB para onde se transferiu depois. O curso de Artes da UFPB até hoje não é um bacharelado, mas uma licenciatura, comprometido, principalmente, com a formação de professores do ensino do primeiro e segundo graus. Apesar de haver um projeto futuro para a criação de um bacharelado, o que sempre lutei para isso, a meta principal é formar professores e não artistas. Esse compromisso pedagógico sempre esteve presente também nos numerosos cursos de capacitação docente coordenados, no passado, pela professora Gislene Gentil e por mim, no Programa de Reciclagem em Educação Artística e no Projeto Arte na Escola sob a coordenação do doutor Erinaldo Alves e por mim também. Trabalhos importantes de pesquisa pedagógica acompanhando o desempenho das redes públicas foram monitorados pela doutora Maura Pena e hoje estão sendo estudados pelo professor Erinaldo Alves junto a Coordenação do Curso de Artes Visuais.

O Departamento de Artes da UFPB participou, em mais de uma ocasião, através do seu corpo docente, assessorando as secretarias de Educação do Estado e do Município de João Pessoa quanto ao perfil didático-pedagógico do ensino de arte nas escolas. O objetivo para o qual ele foi criado vem sendo cumprido, portanto, com grande responsabilidade, principalmente no acompanhamento permanente dos profissionais que dele saem. Mas não só professores e artistas o curso formou, de lá saíram também técnicos atuantes como Fernanda Svendsen, da Funjope, além da empreendedora marchand Rosely Garcia, o competente restaurador Otávio Maia e o crítico de arte e curador Eudes Rocha, recentemente convidado pela Prefeitura para inaugurar a Estação Ciência com uma curadoria sua. É bom lembrar que lecionaram no curso os críticos Paulo Sérgio Duarte e Jomard Muniz de Brito, os pintores Sebastião Pedrosa, Raul Córdula, Hermano José, a gravadora Teresa Carmem, a ceramista Marília Dias, o escultor João Batista, e hoje ainda conta no quadro permanente com nomes como os dos artistas Rosilda Sá, Maria Helena Mousinho, Alberto Lucena Jr., Francisco Pereira e Breno Matos .

O Compromisso com o ensino e a arte contemporânea sempre esteve presente, a menos que desconsideremos o trabalho de longos anos da maioria desses profissionais citados. Na minha gestão no NAC, entre 1995 a 97, todas as exposições de arte contemporânea eram apresentadas aos alunos de Educação Artística, sendo também todos os monitores das exposições convocados do próprio curso. A título de exemplo, a exposição histórica sobre o "Centro de Artes Plásticas da Paraíba" com obras de Lyra, Olívio Pinto, Hermano José e Ivan Freitas, entre outros, que recebeu o prêmio de melhor exposição do ano, foi produto de um trabalho de pesquisa de dois semestres com 20 alunos que catalogaram mais de 200 obras dispersas dos anos 40 e 50, no Rio de Janeiro, Recife, Natal e João Pessoa e entrevistaram vários artistas em Olinda, Rio de Janeiro e João Pessoa. Montamos no Projeto Arte na Escola, em parceria com o NAC, a primeira e melhor videoteca de arte do Nordeste, enquanto a ex- professora Rosires Carvalho mantinha durante sete anos um projeto de altíssimo nível no Centro Cultural de S. Francisco com monitores-alunos do curso de Educação Artística, integrando a produção nacional que lá se expunha, tanto com o ensino universitário como o das escolas municipais e estaduais da capital.

O NAC acolheu inúmeras vezes, no passado, principalmente na operosa gestão do professor Alfonso Bernal, várias mostras de alunos do curso de Educação Artística que ao lado de artistas consagrados como Flávio Tavares, Marlene Almeida, Hermano José, Chico Dantas, Fred Svendsen, Sérgio Lucena, Miguel dos Santos, Walter Wagner e José Pagano expuseram os seus trabalhos saídos da brilhante oficina de litogravura. Ainda nessa gestão, passou pelo NAC a importante pesquisadora e artista gaúcha Diana Domingues que de forma pioneira introduziu as discussões sobre arte e tecnologia na Paraíba, nos idos dos anos 90, antes mesmo dela se tornar uma referência nacional sobre o assunto. Esse curso sobre Arte e Novas Mídias como outros de extensão do NAC eram dirigidos, principalmente, para os alunos do Curso de Educação Artística quando a integração passou a ser mais efetiva a partir da gestão do professor Alfonso Bernal.


O NAC também recebeu, nesse período, três edições da coletiva "Abismos" do professor Jomard Muniz de Brito onde a produção de alunos do curso de Educação Artística dialogava junto à produção artística contemporânea de João Pessoa e do Recife, com grande repercussão no meio artístico de João Pessoa.
Por outro lado, a Pinacoteca da UFPB foi criada em 1989 pelo professor e artista plástico Hermano José para realizar essa integração entre a produção dos alunos e a circuito artístico. Foi lá que Martinho Patrício realizou, ainda como aluno do curso, em 1990, a sua primeira individual que se transformou na matriz do seu trabalho futuro até se qualificar hoje como um dos mais importantes artistas contemporâneos do Nordeste conhecido nacionalmente. Desde então, sucessivas exposições de alunos foram realizadas também pela professora doutora Lívia Matos tanto na Pinacoteca como no NAC, durante a sua gestão. Mas um alerta precisa ser feito: A critica de arte hoje pressupõe um conhecimento especializado de teoria e história da arte que o diletantismo de alguns artistas não tem alcance para atingir. Não por acaso alguns dos maiores curadores nacionais como o professor Tadeu Chiarelli, o professor Cochiaralli e o professor Agnaldo Farias, só para citar alguns dos mais importantes, tem todos PHD com larga experiência e titulação além de atuarem como docentes na Universidade. Eles fazem uma critica objetiva, academicamente fundamentada, como se realiza na maior parte do mundo e desprovida de paixões, diletantismo ou viés tendencioso a serviço de grupúsculos de artistas, como não raro encontramos por aqui. Essa é uma tendência internacional em que curadorias e a critica de arte é função de especialistas com titulação e madura passagem pela Universidade. Os catálogos dos principais museus de arte da Europa e dos EUA, onde a qualificação universitária é condição básica para ser acolhido por essas instituições, é a maior prova disso. Numa Paraíba ainda semi-agrária, no entanto, onde os laços de amizade se sobrepõem a esses critérios, toda boçalidade é permitida, todo o atrevimento é tolerado, todo o "arrumadinho" é aceito, sem questionamento vindo de profissionais que até mesmo, sequer o curso de graduação possui. Hoje o Departamento de Artes Visuais tem um corpo docente com vários doutores e inúmeros mestres. Já se prepara para lançar o Mestrado em Artes em parceria com a UFPE e a UFBA, instituições que não dariam o aval ao nosso departamento se não percebessem a seriedade como a Universidade Federal da Paraíba encara a formação artística. É verdade que o NAC hoje está em condição lamentável de manutenção, de onde os artistas fogem e para onde só alunos se habilitam expor, apesar do esforço meritório dos jovens professores iniciantes ao organizarem mostras de final de curso, o que sempre foi uma práxis em nosso curso. Mas o atual reitorado se prepara para construir um prédio próprio para atividades artísticas de extensão no Campus Universitário, onde a Pinacoteca da UFPB que tem um dos melhores acervos de arte paraibana, terá sede definitiva. Esse é o produto de décadas de esforço coletivo cujos méritos devem ser repartidos por todos os que fizeram e fazem o Curso de Educação Artística e o novo curso de Artes Visuais.

Gabriel Bechara Filho - Professor e Crítico de Arte