Conversando sobre Arte Entrevistado Walter Wagner
É sempre um prazer divulgar a obra de um artista de qualidade, o prazer é maior ainda quando
ele se acha fora do eixo Rio/São Paulo. Walter Wagner apresenta essas duas condições. Seu
trabalho merece ser conhecido por todos aqueles interessados em Arte. Com muita alegria
traze,os para os leitores esse artista e sua incrível obra. Obrigado Walter por sua participação.
Walter Wagner, conte algo sobre sua vida pessoal.
WW - Sou natural de João Pessoa.
Como você começou a se interessar por Arte?
WW - Há um principio de habilidade para arte não continuada em membros da minha família, imagino
hoje que fui à planta no meio da floresta em busca da luz do sol, suplantei a sombra.
Qual foi sua formação artística?
WW - Nos anos 80, fui para a Universidade e lá descobri a gravura em-metal. Freqüentei por seis anos o
ateliê de gravura em-metal da UFPB. Sobre a orientação de Hermano José, um bom artista que morou
no Rio de Janeiro por muitos anos, um admirador e freqüentador da casa do Mario Pedrosa. Para pintar,
utilizava também o ateliê do NAC — Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB. Em 1990, fui morar em
São Paulo, na cidade de Ituverava onde fiquei por um ano, neste período chegava a fazer trinta
desenhos todos os dias. Antes de partir para residir na capital, queimei toda a minha produção deste
período e anterior. Na capital, passei a freqüentar o ateliê de gravura do Museu Lasar Segall, para dar
seqüência as minhas gravuras, de 1992 a 2003.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver sua carreira na Paraíba?
WW - Não sou artista de ateliê, de fazer individual, gosto de exposições coletivas, tem troca é mais da
minha natureza. Quando morei em São Paulo tinha ateliê, como ia lá eventualmente fechei. Meu método de trabalho hoje é primeiro organizar as idéias, colocá-las no papel. Tenho um Banker no centro da cidade com as coisas que preciso para materializar o que imaginei como obra, depois de concluída fica lá empoeirando. É assim que pretendo expor os trabalhos sem assepsia. As dificuldades são proporcionais á região que se estar produzindo, e têm vários aspectos, o da formação do artista é a mais relevante. Retornando de uma residência na Alemanha em 2003 não conseguia mais produzir, foi um período de hibernação involuntário, entrei em declínio total as poucas coisas que realizei neste período como a residência e exposição no Centre de Diffusion Presse Papier no Canadá ficaram em suspensão, não houve desdobramento nos trabalhos, posso dizer que são anêmicos. Em meados de 2009 houve uma lenta retomada. É a vida.
Que artistas influenciam seu pensamento?
WW - Há principio deveria ter sido a História da Arte e a filosofia, mas, comecei sem elas. Sou da
periferia do Brasil e da periferia da minha cidade. Era eu e minha intuição, aqui na província,
contemplava as pinturas dos tetos das Igrejas barrocas como referência. Os artistas que realizaram as
pinturas da nossa mais importante Igreja barroca, a de São Francisco, aqui, em João Pessoa, são, em sua
maioria, anônimos. Em minha adolescência, as visitas a esta Igreja me deixavam de pescoço duro, de
tanto ficar olhando para cima. Depois, corria para casa, para pintar. Continuo a fazer isso hoje. Só que
não corro mais para casa na ânsia de pintar. Quanto às referências, claro que elas vieram a contribuir na
formação do meu pensamento. Os artistas Bruce Nauman, famoso por suas “instalações”, Joseph Beuys,
com seus múltiplos, sua teoria de arte e vida, Guignard e seu conceito do desenho a lápis duro,
deixando no papel encavos - para mim, isto é gravura; tenho utilizado tal método - e também Giorgio
Morandi, com seu universo intimista e aquela pintura que chamo de “pintura caramelada”, porque dá
vontade de comer.
Além dos estudos da arte, que outras fontes interferem em seus trabalhos?
WW - A vida é uma interferência constante na construção e desdobramento da minha poética,
apreender o entorno é um exercício diário, a vida é muito dinâmica.
Que exposição você considera a mais importante?
WW - A mais importante será aquela que vai me propiciar um afunilamento de tudo que já produzi e
isto será também proeminente no meu próximo livro que terá o título de ”Espada de São Jorge Comigo
ninguém pode” duas plantas do misticismo popular.
Gravura, desenho, fotografia, objeto, pintura, gravura ou instalação como elas se completam? Alguma
preferência?
WW - Meu trabalho hoje é excessivamente contaminado pelos meios, é de fato hibrido, não há
preferência.
Você acabou de lançar um livro cobrindo sua produção entre 1990-2011, qual foi à sensação?
WW - É, foi bem cômodo lançá-lo no facebook, estava na minha cama e em 2horas vendi 18 livros aos
amigos, e imagino que foi por meio do facebook que você chegou a mim. Uso ele como uma ferramenta
de trabalho, só aceito pessoas da arte, artistas, curadores, galerias e instituição de arte, objetivei o meu
propósito nas redes sociais e tenho uma atuação diária postando imagens dos trabalhos, divulgado e
vendendo meu modesto livro. É um meio pratico e alternativo ao circuito da arte, do qual não tenho
visibilidade nem media e nem mínima. A melhor sensação de produzir o livro foi perceber que existia a
possibilidade de continuidade e produzir projetos gráficos para outros artistas, é o que estou fazendo no
momento o livro de outra artista. Enfatizo que no meu fiz tudo, designer, fotografia e pesquisa, ele tem a minha medida e os problemas de um livro alternativo, levo dois anos para ser editado. Aprendemos na vida tentativa e erro, o próximo ficará melhor.
Qual sua opinião sobre as Bienais e as Feiras de Arte?
WW - Sem duvida, as instituições de arte e o mercado de arte cresceram no Brasil, e isto tem sido
preponderante para a produção dos artistas. Eu diria que as coisas estão mais ventiladas. Temos
excelentes curadores, Marcio Doctors, Paulo Herkenhoff e Rodrigo Naves. A arte no Brasil vai bem, e
sem modesta somos merecedores a arte contemporânea brasileira tem muita qualidade.
Estar fora do eixo Rio/São Paulo afeta a carreira?
WW - Morei quinze anos em São Paulo era um artista anônimo, hoje resido em João Pessoa e continua
anônimo, não há ressentimentos. A arte é sem duvida um arrebatamento, uma espécie de
deslocamento do indivíduo, fantástico. A política e os meios de circulação são complicados um bom
trabalho não é suficiente para se ter visibilidade. Na vida se faz escolhas, eu fiz as minhas.
Quais são seus planos para o futuro?
WW - O meu futuro será seguir o juízo e nada mais será lembrado, é a vida tudo passa.
O que você faz nas horas vagas?
WW - Penso e contemplo o horizonte, isto é bem importante para mim.
Atritos para fogo-fátuo.
Os homens primitivos batiam uma pedra contra a outra até obter fogo. Mas o que faziam eles
de fato, antes das primeiras faíscas surgirem dando origem a sua descoberta? No que
pensavam ao atritar corpos duros, impenetráveis e independentes? Tentariam eles unir as
duas pedras em uma só ou, ao contrário, estilhaçá-las em mil pedaços? É também a partir de
uma desconfortável idéia de atrito entre elementos irreconciliáveis que Walter Wagner parece
construir seus trabalhos. Pares díspares de objetos, materiais e procedimentos teimam em
conviver lado a lado no espaço de suas obras. E é desta convivência incômoda que extraem
sua força e dignidade. Ora são armários, casas, camas, mesas, cadeiras, tesouras e outras
estranhas ferramentas que povoam seu imaginário, friccionando-se uns com os outros. Ora são
pedaços de corpos, ossos e cabelos que comungam de um mesmo espaço, movidos
simultaneamente por forças de atração e repulsão. Cada um destes objetos e órgãos gravita
em uma sensualidade velada, povoada de espaços vazios, distâncias e silêncios que
intensificam as tensas relações energéticas entre eles. Em alguns de seus desenhos, camas,
ossos e outros objetos tentam se aproximar emanando linhas que os unem fragilmente. Na
série “Masculinos“, formas ovóides e fálicas se encontram com instrumentos cirúrgicos, numa
incômoda convivência da qual não conseguem escapar. Há um desejo de comunhão, de
interpenetração entre os objetos e órgãos de Walter Wagner, mesmo que esta comunhão
permaneça às vezes apenas como potência irrealizável ou como imposição engendrada
artificialmente pelo artista. Nos trabalhos da série “Mangabeira“, por exemplo, pequenas casas
de madeira são forçadas a permanecerem juntas através de cintas plásticas que as amarram.
Em alguns destes trabalhos, estão presentes ainda vidros entre as casas, elementos que ao
mesmo tempo em que aglutinam os objetos em único todo, intensificam a separação entre
suas partes. Casas são também elementos constantes em suas fotografias. Porém aqui as
casas são feitas de ruínas, com as quais o artista reconstrói suas arquiteturas imaginárias
através da justaposição. Manipulando digitalmente as fotografias, Walter Wagner recria suas
construções, intensificando o confinamento e a exterioridade oca de suas residências. Os
procedimentos construtivos que o artista utiliza não partem necessariamente de uma atividade
projetual em busca do equilíbrio estável e acolhedor, mas privilegiam a justaposição de
diferentes perspectivas que dificilmente habitariam um mesmo espaço. A justaposição de
elementos díspares está presente também na liberdade com que o artista opera plasticamente.
Em alguns de seus desenhos, por exemplo, a linha fina e delicada que delimita os corpos é
forçada a conviver com pesadas formas matéricas produzidas pela encáustica. Opacidade e
transparência, peso e leveza agarram-se uns aos outros em uma espécie de simbiose
orquestrada. A poética de Walter Wagner transita livre entre os meios, mesclando desenho,
escultura, instalação, fotografia e manipulação digital sem nenhum pudor. Longe de purismos,
o artista às vezes retrabalha as imagens de seus desenhos no computador na busca de um
novo olhar. Assim podemos ver imagens, que partindo do desenho manual, passam pela
alteração digital e são finalmente exibidas como fotografias. Tal é a liberdade com que o artista
passeia por seus procedimentos, que por vezes não sabemos ao certo se seus desenhos são
projetos para instalações (realizáveis ou não), ou se, ao contrário, nasceram depois delas.
Mesmo que formadas por justaposição de fragmentos e meios e pela descontinuidade temporal
e espacial, há um anseio pela unidade no trabalho de Walter Wagner, numa tentativa de reunir
sob o teto frágil da arte as sensações díspares e contraditórias que nos atravessam
continuamente. Com o desejo de amalgamar as experiências (traumáticas ou prazerosas) da
vida, o artista lança-se a sua própria sorte e arte. Consciente do atrito entre corpos estranhos a
que se dedica, Walter Wagner fricciona seus ossos e segredos, seus espaços e sensações até
que deles se desprendam o fogo-fátuo esfumaçado de sua arte. Onde há fumaça, há fogo e
onde há fogo, há algo que se ilumina.
Hugo Fortes, é artista visual e professor-doutor na Escola de Comunicações e Artes da USP.
São Paulo, março de 2010.
WALTER WAGNER – João Pessoa.PB
Estudos em gravura na Universidade Federal da Paraíba 1986 / 1999.
Estudos em gravura Museu Lasar Segall.1922 / 2002. São Paulo. SP
2011 - Prêmio CNI SESI Marco Antonio Vilaça. 2011/2012 (selecionado) - SP Arte
2011. Pavilhão da Bienal. 2009 - Grabadores Brasilenos Contemporâneo Centro
Cultural da Universidad Autonoma de Aguas Calientes. México. - Álbum Comemorativo
dos 10 Anos da galeria Gravura Brasileira. São Paulo.SP - 2008 - Hillyer Art Space
Brazilian Contemporary Printmakers. Washington. USA - Instituto de Artes Gráficas de
Oaxaca, Mexico. - Fundación São Sebastian, Cidade do México. - Grabadores
Brasilenos Contemporâneo, Museu de Arte Ciudad Juarez. México. - Projeto Nomadismo
Cultural, Casarão 34. Paraiba - 2007 - Brazilian Printmaking - Steuben West Gallery - Pratt
Institute - New York. US - Brazilian Printmaking - Goloborotkós Studio - Brooklyn, New York.
USA - 2006 - Galeria Gravura Brasileira. São Paulo. SP -Goloborotko´s Studio prints -
Gravura Brasileira em Nova Iorque. USA - Centre de Diffusion Presse Papier -
exposição e residência. Québec. Canadá - 2004 - Convite para residência no Centre
de Diffusion Presse Papier, Quebec. Canadá. - Gravadores Brasileiros na ArtFrankfurt.
Alemanha - Naturezas-mortas, interiores, arquiteturas e paisagens, Galeria Rosa
Barbosa, São Paulo. SP2003 - Projeto Horizonte Nômade. Centro Cultural Portão
NUMA-Sala Célia N. Lazarrotto, Curitiba. - Gravadores Brasileiros na ArtFrankfurt.
Alemanha - A GRAVURA VAI BEM OBRIGADO! – Galeria Virgilio, São Paulo. - Die
Internacionale Kuentlerkolonie Schloss Almoshof, Nuernberg - Alemanha, obras
permanente. - 2002 - 1ª SP Arte - Oca - Parque Ibirapuera, São Paulo. SP - Entorno -
Galeria da Funarte, São Paulo. SP - 1999 - Uma Roça um Oásis, Museu Lasar Segall,
São Paulo. SP - Mostra Rio Gravura, Palácio Gustavo Capanema, Funarte, Rio de
Janeiro. Rj - XII Mostra da Gravura de Curitiba, Mostra Brasil, Curitiba. PR - Programa
Rumos Visuais, Banco de dados, Itaú Cultural, São Paulo. SP - 1997 - 5º International
Art Triennal Madjneg, Lublim. Polônia - Reflexão 97, Arte Contemporânea e Gravura,
Curitiba. PR - VI Bienal Nacional de Santos, Santos. SP - 1995 - XI Bienal Gravura da
cidade de Curitiba. PR - Prêmio Gunthe de Pintura, MAC, São Paulo. SP
Exposições individuais
2002 - Galeria Rosa Barbosa, São Paulo.SP - 2002 - Gravura Brasileira, São Paulo.
SP - 1995 - Museu de Arte Contemporânea de Americana. SP - 1993 - Galeria de Arte
SESC Paulista, São Paulo. SP
Prêmios
1998 - 7º Salão de Arte Contemporânea de São Bernardo do Campo.SP;
Prêmio,desenho - Salão de pequenos formatos, Galeria Unama, Belém. PA, Prêmio,
escultura - 1997 - Saja Salão de Arte de Jacareí. SP; Prêmio, gravura. - 1996 - VII
Salão Municipal de Artes Plástica de João Pessoa. Pb; Prêmio, gravura - 1994 - IX
Bienal Ibero Americana de Dibujo y Estampa. México; prêmio, gravura - 1987 - II Salão
Municipal de Artes Plástica de João Pessoa – PB; Prêmio, pintura
Coleções
SESC, São Paulo. SP. Prefeitura de João Pessoa. PB. Galeria Unama, Belém. PA. Schloss
Almoshof, Nuernberg. Alemanha. Coleções privadas em varias cidades do Brasil em
Alemanha, França, New York e Itália.
http://www.wagnerwalter.blogspot.com
Wagner Walter acabou de lançar o livro Água de Poço com sua obra entre 1990 e 2011. 220
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