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Juventude, resistência e cultura
Rolezinho do Porto do Capim gravando conteúdo na UFPB. Imagem: foto publicada no perfil do projeto no Instagram.
Ação com jovens e adolescentes do porto do Capim, em João Pessoa, discute sexualidade, racismo, feminismo, homofobia e outras temáticas
Desde a década de 80 os moradores do Porto do Capim, em João Pessoa, sofrem com constantes ameaças de remoção territorial, essas intimidações são movidas por interesses econômicos.
Contudo, a comunidade do Porto do Capim tem demonstrado força popular para resistir aos projetos de intervenção e a juventude local é fundamental nas constantes ações de resistência que a comunidade precisa organizar.
Foi para fortalecer a juventude que surgiu o projeto “Rolezinho do Porto do Capim: Cultura e Protagonismo Juvenil”, uma ação de extensão que promove atividades de valorização da história, da cultura com jovens adolescentes da região do Varadouro, em João Pessoa. O projeto é uma ação do Departamento de História da UFPB, em parceria com a Fundação Casa de Cultura Companhia da Terra e o grupo de jovens Garças do Sanhauá.
Início da caminhada
Para entender a história do projeto “Rolezinho” é necessário conhecer também o projeto de extensão “Subindo a Ladeira” - projeto de educação patrimonial através da arte, que atua desde 2011 com crianças de 6 a 12 anos da comunidade do Porto do Capim, utilizando das linguagens artísticas (teatro, música, dança, radialismo e cinema) para dar acolhimento e pertencimento às crianças que participam.
Como explica a orientadora do projeto, a professora Regina Célia Gonçalves, quando as crianças participantes do “Subindo a ladeira” chegaram à adolescência, elas passaram a provocar os organizadores para dar continuidade ao projeto, agora também com discussões sobre temáticas como sexualidade, racismo, feminismo, homofobia, dentre outras.
Então, em 2017, a equipe de extensionistas organizou uma série de “conversatórios”, rodas de conversas com participantes do “Subindo a Ladeira”, profissionais de diversas áreas e jovens adolescentes da comunidade Porto do Capim. As rodas de conversa para discutir em grupo temas como tradição e cultura de massa, patrimônio, bem como as linguagens já trabalhadas na ação (teatro, música, produção cultural e outras).
“A vontade de contar para os outros jovens o que estava acontecendo no projeto era enorme e vinha de dentro dos participantes. Fazíamos muitas rodas de conversa, mas eles se encontraram mesmo foi dentro das redes sociais, lá estava a porta para contar suas experiências e empoderamentos”, explica a orientadora.
Dessas rodas de conversa surgiu o projeto “Rolezinho na UFPB: Cultura e Protagonismo Juvenil”. No nome da ação, de acordo com Yris Campos de Oliveira, estudante de História na UFPB e bolsista do projeto de extensão, faz referência à ocupação dos shoppings em São Paulo realizada pela juventude periférica no ano de 2014.
“O nome Rolezinho do Porto do Capim, foi dado pelos próprios adolescentes e faz referência ao fato das atividades se darem em grande medida fora da comunidade - mas não exclusivamente -, onde o projeto levava os jovens a darem um rolê pela cidade, pela própria UFPB.”
A juventude do Porto do Capim tinha nos “Rolezinhos na UFPB” a oportunidade de conhecer melhor o ambiente universitário e assim utilizar o espaço para produzir conteúdos sobre situações do cotidiano desses jovens junto com os estudantes da Universidade.
“Nesse mesmo período de tempo alguns participantes usaram os espaços da UFPB para gravar vídeos, atuar e aprender a arte da cinematografia e esse aprendizado ajudou muito o projeto com a chegada da pandemia do Covid 19” acrescenta Regina Célia.
Bruna Santos tem 17 anos e é uma das participantes do projeto de cultura e protagonismo juvenil, ela conta que a ação a auxiliou no desenvolvimento do seu senso crítico sobre temas que perpassam a sua realidade e dos seus colegas jovens, através de debate e de linguagens artísticas.
“Consegui desenvolver a empatia, conhecer outros pontos de vista de pessoas mais experientes, conversei com adultos que me ajudaram a desenvolver oratória e maturidade com debates e rodas de conversa. O projeto me passou de forma cultural os temas como: machismo, feminismo, racismo e homofobia, sempre de forma sucinta", explica sua experiência.
Mudanças nas ações em decorrência da pandemia
Com a pandemia do Coronavírus, os participantes foram obrigados a repensar as formas de atuação do projeto, antes se dava 90% de forma presencial e foi preciso utilizar outros meios para que a ação não parasse. Os jovens rolezeiros passaram a criar conteúdos para as redes sociais, especialmente o Instagram (@rolezinhodoportodocapim) e WhatsApp.
Em 2021, a ação fez parceria com o Projeto OBUNTU - Observatório Interdisciplinar e Assessoria em Conflitos Territoriais, coordenado pelo professor Hugo Belarmino de Morais do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos-UFPB, que auxilia a comunidade do Porto do Capim prestando assessoria jurídica quando necessário.
A parceria também se desdobrou na produção de um podcast, que agregou ainda o Subindo a Ladeira e as Garças do Sanhauá (o projeto coletivo de jovens moradores da comunidade Porto do Capim). “Ele [o podcast] é produzido, roteirizado e apresentado especialmente pelos próprios rolezeiros, com mediação e orientação do projeto”, explica a estudante de história, Yris Campos, que acompanha o trabalho do projeto nas mídias.
“Um dos focos do Rolezinho é intensificar a identificação dos jovens com o espaço que ocupam, a partir de atividades culturais colaborativas que provoquem a reflexão sobre seus direitos e ampliem suas possibilidades de expressão, o podcast é uma prova disso”, evidencia a bolsista.
Com o avanço da vacinação, está sendo possível gravar o podcast presencialmente em estúdio, contudo, os episódios do programa seguem sendo planejados remotamente.
É com atividades como essa que a ação auxilia a comunidade no desenvolvimento de reflexões sobre questões que interferem na realidade dos jovens do Porto do Capim. Nessa busca, a juventude é estimulada a exercer seu protagonismo com liberdade de expressão artística, intelectual e cultural.
Reportagem de Liryel Araújo (voluntária PROEX 2021), editada por Comunicação PROEX.