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Tiquinho de alegria
Extensinista da 'trupe' do projeto Tiqunho de alegria. Imagem: foto disponível no Instagram @tiquinhodealegria.
Projeto do CCS/UFPB atua há 11 anos no HULW
Imagine uma trupe de palhaços nos corredores do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), brincando e contando piada, com narizes vermelhos ou vestidos de Superman, interagindo com os presentes, sejam eles adultos, crianças, cuidadores ou profissionais de saúde. Antes da pandemia da Covid-19 esse cenário era realidade sempre que o projeto de extensão “Tiquinho de Alegria” entrava semanalmente nos corredores do HULW.
Baseado nos Doutores da Alegria, o projeto, atualmente sob responsabilidade do Centro De Referência e Atenção à Saúde (CRAS/UFPB), busca contribuir com a humanização da assistência hospitalar por meio da palhaçoterapia, uma terapia alternativa que utiliza estratégias lúdicas de riso, alegria, brincadeiras e ações educativas no enfrentamento da hospitalização.
Luciana Gomes Furtado, atual coordenadora da ação, explica a relevância do projeto de extensão dentro dos ambientes hospitalares, tanto para a auto estima das crianças como na luta contra as enfermidades. “Nossa presença é de grande importância para minimizar a melancolia presente no ambiente do hospital buscando melhorar o estado clínico das crianças, oferecendo-lhes uma razão para sorrir e melhorar o humor e assim esquecer um pouco a sua enfermidade”, explica a coordenadora.
A ação, que vem sendo realizada desde 2010, utiliza técnicas circenses [como o Clown, que é um exercício de reconhecimento do mundo usando o corpo e as emoções] para aperfeiçoar o desempenho dos palhaços. O Tiquinho de Alegria também foi pioneiro na Clínica de Doenças Infecciosas-DIP/HULW, uma clínica que exige um isolamento das crianças pelas características das enfermidades.
“Nosso maior alvo, a princípio, são as crianças, mas como palhaços cuidadores, reconhecemos que os adultos, acompanhantes e ou pacientes, também passam por situações estressantes’’, comenta Luciana Gomes.
A maior motivação de Luciana para coordenar a proposta é de reconhecer a relevância social do projeto que propõe um atendimento humanizado à comunidade, e que, como explica Luciana, ao mesmo tempo busca contribuir para a formação crítica e reflexiva dos estudantes.
Os palhaços que levam um tiquinho de alegria
A palhaça Catita, interpretada pela estudante de Fisioterapia Júlia Vitória D'Arruda, já tinha experiência nos palcos quando trocou o lugar do espetáculo e foi para o Hospital Universitário. Catita era um esboço, que foi adaptado para a realidade das intervenções e as necessidades do palco e do público.
“Catita é boba, tagarela e enérgica. Características que eu, como pessoa, tenho, mas que foram exageradas na personagem”, define Júlia, que já participou de várias edições do projeto.
Ela explica que o que caracteriza a palhaça é a curiosidade, ser uma péssima contadora de piadas e uma cantora desafinada, mas ela é amiga de todos e nunca os abandona. Catita também tem uma identidade visual definida: ela não esquece o nariz vermelho e o penteado maria chiquinha.
As visitas em grupo costumavam acontecer no fim de semana e era o momento mais esperado da semana para a estudante, que tinha um contato mais frequente com a clínica pediátrica e o público infantil. Em apenas uma manhã, Catita poderia passar em cinco quartos, com um ou mais pacientes, e na brinquedoteca, levando sorrisos e tirando um pouco do clima de melancolia do hospital.
“O hospital, por si só, não costuma ser um ambiente tão agradável, o processo de ‘doença’ é conturbado e não importa a idade, então se pelo menos por um momento, a gente conseguisse ‘tirar’ um pouco aquela pessoa dali e levar ludicidade e descontração, nosso objetivo era alcançado”, relembra a estudante.
Assim como todo projeto de extensão da UFPB, a ação “Tiquinho de Alegria” agrega valor acadêmico, com eventos e trabalhos, e de experiência para o estudante, dessa vez em forma de desenvoltura, coragem, autonomia e acolhimento do público.
“Nós tínhamos também produção científica, produção de relatórios, estudo para embasamento teórico, apresentações e construção de trabalhos para eventos e congresso, organização de ‘dias especiais’ (dia das crianças, páscoa, natal). É um projeto bem completo e dinâmico”, acrescenta a fisioterapeuta em formação.
Karen Vieira é estudante de Direito na UFPB, palhaça há cinco anos e já participou de diversos tipos de ações. Criadora e desenvolvedora da palhaça Maralinda, antes fazia parte do projeto de extensão da UFPB “PalhaSUS” mas logo que encontrou o Tiquinho de Alegria, se inscreveu para participar da ação, visando a oportunidade de dar continuidade ao trabalho já iniciado na ação anterior.
“O palhaço é um instrumento de cura para o próximo mas também cura quem tem o palhaço dentro de si. A Maralinda ajuda e cuida, é apenas isso que ela faz, olha além do padrão e além da burocracia, sempre com um olhar diferente dos outros da área hospitalar, já que eu não sou da área da saúde", explica a estudante.
A pandemia e as dificuldades da palhaçaria
A pandemia impossibilitou que os palhaços continuassem as visitas no HU, que precisaram mudar de palco e adaptar o espetáculo. Nesse período, cada um na sua casa, criou conteúdo para as redes sociais do projeto, mudando completamente a forma como o público era alcançado.
As lives e palestras online dominaram o conteúdo do projeto, que também investiu na produção de conteúdo sobre a atividade do palhaço cuidador e questões acadêmicas da palhaçoterapia e arte circense. Com destaque para Catita, que teve seus cinco minutos de blogueira ensinando a maquiagem que deve ser usada pelo palhaço no ambiente hospitalar.
Após 11 anos de extensão, o Tiquinho de Alegria está entrando em um período de suspensão até a volta das atividades presenciais. Enquanto as atividades não retornam, é possível acompanhar o projeto nas redes sociais Instagram e Facebook.
Reportagem de Grace Vasconcelos e Liryel Araújo (extensionistas PROEX 2021), editada por Comunicação PROEX.