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Acolher e integrar

Projeto de extensão oferta cursos de português para refugiados e migrantes
publicado: 01/12/2021 15h50, última modificação: 02/12/2021 16h56

Em 2021 a ação ofertou três turmas para estrangeiros

Em 2018, a crise econômica enfrentada pela Venezuela se transformou em uma crise migratória e milhares de venezuelanos deixaram o país rumo a países vizinhos. No Brasil, a maioria dos imigrantes entra no país por Paracaima, cidade do estado de Roraima que faz fronteira com a Venezuela.

Roraima, no entanto, não estava preparada para receber o fluxo de refugiados e entrou em colapso. A medida do Governo Federal para reordenar o estado e auxiliar os imigrantes foi realocar os migrantes em outros estados do País. 

Na Paraíba, os migrantes foram destinados às cidades Conde, João Pessoa e Campina Grande. Para que as devidas assistências aos migrantes fossem feitas, muitas instituições começaram projetos que pretendiam ajudar na integração dos refugiados ao novo país. A Universidade Federal da Paraíba, por meio de professores e da extensão universitária, foi uma das instituições que se preocupou com a assistência aos migrantes. 

Desde então, muitos projetos nasceram com o intuito de facilitar a adaptação dos refugiados à realidade de um país estrangeiro. Entre eles, o projeto de extensão “Refugiados e Migrantes na Paraíba: acolher e integrar”, idealizado pela professora Ana Berenice Martorelli. A ação é uma iniciativa do Departamento de Letras Estrangeiras e Modernas (DLEM/CCHLA) e está sendo financiado pelo edital PROBEX 2021-2022. Comemoração pelo dia do refugiado. Imagem foto disponível no SIGAA (2019).

O intuito da atividade de extensão é oferecer cursos de língua portuguesa para os imigrantes. Entretanto, a coordenadora adjunta, a professora Juliana Freire, avisa que esses cursos não são pensados como um curso comum de língua estrangeira, pois são  voltados para uma linguagem de acolhimento.

As necessidades deles [imigrantes] são diferentes, eles não têm a necessidade imediata de aprender o português formal. Eles precisam aprender a falar sobre eles em uma entrevista de emprego, aprender as palavras do cotidiano e do trabalho. Então, a gente tenta ajudá-los a desenvolver essas habilidades”, explica a coordenadora.

Aprendizado para todos

Há mais de um ano, após conhecer a ação através de amigos, Hamidreza Zaresangderazi, natural do Irã, estuda português em uma das turmas na turma abertas pelo projeto. Ele passou oito meses no Brasil e relembra a dificuldade de se integrar no país. Ele destaca que o projeto é de grande importância, principalmente por ajudar ambos os lados: as pessoas que querem aprender o idioma e os universitários que ganham experiência em sala. Por problemas pessoais, ele precisou voltar para o Irã e passou a frequentar as aulas online diretamente do país.

Curso de português para estrangeiros. Imagem: foto disponível no SIGAA/UFPB (2019).)Para Irys Delfino, bolsista do projeto e estudante de Letras-Inglês, o projeto tem grande impacto na vida dos participantes por dar oportunidades na sociedade em que eles estão vivendo e por suprir carências comuns no dia a dia de imigrantes, como procura por um emprego, tradução de documentos e até preenchimento de formulários. 

Além das aulas de português, o projeto também atua na tradução de documentos dos refugiados, como a carteira de motorista, e na revalidação de diploma de graduação. Além de promover campanhas de doação de roupas, alimentos e, por causa da pandemia, equipamentos de proteção individual

Os impactos do projeto, no entanto, não são vistos apenas nos imigrantes, mas também nos  extensionistas. “É uma oportunidade grandiosa para refletir sobre o meu papel como docente, uma vez que ele não se restringe somente ao ensino, mas também no acolhimento e integração pessoas na sociedade”, analisa a extensionista Irys, professora da turma de iniciantes, que abrange  cinco nacionalidades. A bolsista ainda destaca que a experiência faz com que ela entre em contato com outras culturas e aprimore sua performance em sala de aula. 

Reflexos das pandemia na ação

Antes da pandemia, o projeto mantinha duas turmas com cerca de dez alunos cada, mas com a gravidade dos casos de covid e a necessidade de distanciamento social, as aulas do curso de português que eram presenciais foram suspensas e passaram a ser virtuais. A adaptação deu tão certo que as turmas aumentaram na plataforma online. Juliana comenta que a mudança tem funcionado bem para os alunos, porque não exige que eles se desloquem até a Universidade. Captura de tela Oxbridge Conference on Brazilian studies - Vídeo no Youtube

Foi também os impactos da pandemia que levaram as coordenadoras Ana Berenice e Juliana Freire até a  IX Conferência Oxbridge sobre Estudos Brasileiros, uma conferência interdisciplinar realizada pelas sociedades brasileiras das Universidades de Oxford e Cambridge.

Na ocasião, além de apresentar o projeto que desenvolvem na UFPB, elas também falaram sobre como a pandemia afetou a vida de migrantes e refugiados. “Muitos deles chegaram em 2019, um pouquinho antes da pandemia começar, então a dificuldade foi ainda maior no sentido de que esse era o período em que eles estariam começando a adaptação”, explica Juliana. 

A coordenadora explica que, atualmente, o projeto conta com três turmas com até doze alunos cada. São duas turmas destinadas a estudantes que falam espanhol e uma turma para pessoas que falam inglês. O curso atende pessoas adultas, de qualquer nacionalidade, com aulas no turno da noite, porque muitos deles precisam trabalhar durante o dia.

As turmas são abertas por semestre, sendo nível básico ou intermediário para falantes de espanhol. O projeto realiza aulas online através do Google Meet, utilizando na metodologia slides, vídeos e ebooks para cada público, além do Google Classroom para que os estudantes tenham acesso a materiais didáticos e atividades semanais. Para participar, é necessário enviar um email para a coordenadora adjunta do projeto: juliana.freire@academico.ufpb.br

  Reportagem de Aléssia Guedes  e Grace Vasconcelos (bolsistas PROEX 2021), editada por Comunicação PROEX.