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Cavaquinho

Cordofone semelhante ao violão, porém com dimensões bem menores, possui quatro cordas de aço (ré-sol-si-ré) tocadas por uma palheta.
publicado: 17/01/2022 20h00, última modificação: 27/04/2022 10h48
Cavaquinho artesanal do lutier João Batista

Cavaquinho artesanal do lutier João Batista

Cavaquinho s. m. Cordofone semelhante ao violão, porém com dimensões bem menores, possui quatro cordas de aço (ré-sol-si-ré) tocadas por uma palheta. Não só o nome, mas o formato e afinação são de herança portuguesa. Essencial para criação do choro e das rodas de samba, está presente também no pagode, no baião, no frevo, no maxixe, entre vários outros ritmos brasileiros e manifestações da cultura popular. 

Segundo a classificação científica (ver MONTAGU 2011, p. 7), podemos enquadrar o cavaquinho como 3.2.1.3.2.2.  por se tratar de um cordofone (3) composto (3.2.) do grupo dos alaúdes (3.2.1.) com braço plano (3.2.1.3.) acoplado ou esculpido à caixa de ressonância (3.2.1.3.2.) sendo esse com fundo mais plano (3.2.1.3.2.2.). 

Visto que seja um instrumento vindo de Portugal, Giacometti (2004, p.164) ressalta que o cavaquinho é muito comum nas regiões de Minho e Douro Litoral em grupos de rusgas ou chulas.  Câmara Cascudo precisou que o cavaquinho presente na “América do Sul e do Norte, Antilhas, ilhas do Pacífico” foi exportado e “fabricado na Ilha da Madeira” (1989, p. 263). E Henrique Cazes complementa que além do Brasil, foi levado também ao Havaí onde se tem o ukulele. (2010, p. 44).

Na ilha da Madeira se usa a afinação comum ao Brasil e Cabo-Verde: ré-sol-si-ré. A extensão padrão do instrumento é de aproximadamente duas oitavas a partir do Ré³ e seu uso mais comum era rítmico-harmônico de acompanhamento em grupos musicais e blocos da cultura popular (KORMAN; OLIVEIRA, 2016, p. 2). No Brasil o cavaquinho atingiu visibilidade nas mãos de solistas como “Waldir Azevedo, Alceu Maia, Luciana Rabello e [Anderson Lima no frevo]” (MARCONDES, 2018). É comum  acompanhar os ternos de pau e corda, a flauta e o violão de seis ou sete cordas. Com a inserção de outros instrumentos solistas como sax, clarinete, bandolim e o trompete, o conjunto passaria a ser conhecido como regional do choro (KORMAN; OLIVEIRA, 2016, p. 2). No chorinho moderno o cavaquinho é acompanhado basicamente por dois violões, seis e sete cordas, bandolim e pandeiro.

Conforme Luis Arraes, tornou-se essencial para a criação do choro, o gênero musical genuinamente brasileiro, e nas rodas de samba. 

O cavaquinho também está presente no [...] pagode, [...], no baião, no frevo, no maxixe, na marcha de carnaval e em manifestações folclóricas musicais como Bumba-meu-boi, Folia de Reis, Pastoris, Ranchos, Moçambique, Fandango, Jongo, Carimbó, Cacuriá, Congada [e na Paraíba temos a nau catarineta]. Grande parte desses folguedos ocorre nas ruas e o cavaquinho neles aparece basicamente como instrumento de acompanhamento, fazendo poucas intervenções de solo, trazendo traços de sua origem portuguesa, nos remetendo a uma comparação com as manifestações culturais da região do Minho onde o cavaquinho teria surgido e adquirido popularidade. (ARRAES, 2015, p. 72-73)

 

Com a hegemonia industrial na fabricação de instrumentos musicais, dominando o mercado e com grande apelo comercial, o cavaquinho foi mais um instrumento que caiu nas linhas de produção em série. Essa industrialização enfraquece as pequenas luthierias que além do seu valor cultural prima pela qualidade timbrística do instrumento. No meio musical profissional e de estudantes mais exigentes, o som ideal é o dos instrumentos artesanais. Infelizmente o alto custo inviabiliza e torna bem restrito o público de instrumentistas que têm acesso a esse tipo de instrumento.

 

Referências:

ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. Coord. Oneyda Alvarenga, 1982-84, Flávia Camargo Toni, 1984-89. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: Ministério da Cultura; São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Universidade de São Paulo, 1989.

ARRAES, Luis C. O. Alencar. Tradição e inovação no cavaquinho brasileiro. Brasília, 2015. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/19765. Acesso em: 08/11/2021.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10 ed. São Paulo: Ediouro, 2001.

GIACOMETTI, Michel. 2004. Michel Giacometti caminho para um museu. Cascais: Museu da música portuguesa Casa Verdades de Faria. p.164-165.

KORMAN, Clifford Hill; OLIVEIRA, Luísa C. Mitre. Elementos idiomáticos do cavaquinho acompanhador aplicados ao piano no choro. In: XXVI CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA. Belo Horizonte. 2016. Anais eletrônicos. 

MARCONDES, João. As Características do cavaquinho. Souza Lima blog, 2018. Disponível em: <https://souzalima.com.br/blog/as-caracteristicas-do-cavaquinho/>. Acesso em: 03/12/2021.

MONTAGU, Jeremy et all. Revision of the Hornbostel-Sachs classification of musical instruments. MIMO Consortium. 2011. Disponível em http://www.mimointernational.com. Acesso em 19/12/2019.