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Viola machete
Viola machete s. f. É uma variante de menor dimensao da viola de 10 cordas. Trata-se de um cordofone com 5 pares de cordas utilizado no samba de roda ou samba rural do Reconcavo Baiano. Podemos classificá-la como 3.2.1.3.2.2 dentro do sistema de classificação atualizado por Montagu (2011). Essa classificaçao aponta que é um cordofone composto, com o suporte das cordas e o ressonador formando um todo indissociável. Consiste num alaúde com braço colado, ou seja, este é acoplado ao ressonador que possui formato de caixa.
Segundo a pesquisa da etnomusicóloga Nina Graeff, a viola machete apresenta diferentes técnicas de execuçao no samba baiano, de acordo com o contexto cultural do grupo que a toca, o que também acontece com os outros instrumentos de cordas utilizados nessa manifestaçao cultural, como o violao e o cavaquinho. Existe a técnica polegar-indicador, que faz uso desses dois dedos para executar padroes rítmicos dedilhados. Muitos dos violeiros atuais tocam a viola com um plectro ou palheta, o que diminui a complexidade dos toques, uma vez que quebra a independencia entre os dedos no momento do dedilhado. Existe também a técnica que confere um tratamento acórdico ao som, na qual as notas sao rasgadas na formaçao de acordes, e nao pontilhadas na formaçao de melodias. (GRAEFF, 2015, p.93-94) Quanto à técnica polegar-indicador, Samuel Araújo observou que alguns cavaquinistas brasileiros preservam a herança africana dos tocadores de cordofones com braço. (apud SATOMI, 2005)
Ao ser tocada, a viola apresenta um toque ou "tom" de machete, que recebe o nome de uma tonalidade musical - embora nao esteja diretamente relacionado a ela. Existem cinco tons ou toques de machete: Dó-maior; Sol-maior; Ré-maior; Lá-maior; e Mi-maior. Dentro das possibilidades sonoras de cada tom, os tocadores utilizam acordes de tonica, subdominante e dominante, principais funçoes harmonicas do sistema tonal ocidental, o que evidencia que nele se baseia seu aspecto harmonico-melódico. O aspecto rítmico, por outro lado, apresenta traços centro-africanos (GRAEFF, 2015, p. 87):
Os toques de machete estruturam-se sobre duas ou três partes que podem ser variadas e que correspondem a ciclos de 16 pulsos elementares. Esses são perceptíveis não apenas porque cada nota dedilhada coincide com um pulso, mas porque, mesmo durante as pausas, os dedos continuam a se movimentar de acordo com essa matriz temporal. Linhas-rítmicas manifestam-se inerentemente nos toques, fazendo-se sentir em sua configuração assimétrica, realçada pela acentuação das notas. (GRAEFF, 2015, p. 87)
Essa característica vai ao encontro de sua história, pois foi através de africanos em diáspora, trazidos ao Brasil através do tráfico e escravizaçao, no processo de dominaçao e exploraçao colonial empreendido pelos países europeus, que o samba de roda adentrou o território brasileiro. Nao se sabe com exatidao quando e onde o samba teve seu início, nem podemos apontar inequivocamente seus possíveis sinonimos (o termo "batuques", por exemplo, era utilizado de maneira genérica para apontar bailes de pessoas negras). No entanto, é possível afirmar que apresenta mais características do grupo de bantos advindo de terras da África central, que exerceram influencia na música secular brasileira através de sua maior integraçao social e linguística com o ambiente brasileiro, em relaçao ao grupo dos sudaneses da África ocidental, por exemplo, que isolavam-se nos cultos do candomblé e práticas linguísticas diferenciadas. (GRAEFF, 2015, p. 21-24)
Referencias:
GRAEFF, Nina. Os ritmos da roda: Tradiçao e transformaçao no samba de roda. Salvador: EDUFBA, 2015.
ARAÚJO, Samuel. Em conversa informal com Alice Satomi. Joao Pessoa, 2005.