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UFPB entrevista VALDIR BRAGA
Na foto, à partir da esquerda, Valdir Braga, Josiane de Campos Cruz e Luciano Leite Paulo.
O pesquisador falou à jornalista Lis Lemos, da Assessoria de Comunicação da UFPB, sobre sua trajetória e seu trabalho na entrevista a seguir.
UFPB - Gostaria de começar falando sobre sua formação e atuação na Universidade Federal da Paraíba. Há quanto tempo é professor da UFPB e como vê seu trabalho na instituição?
VALDIR BRAGA - Sou médico veterinário pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, doutor em Fisiologia pela USP e pós-doutor em Fisiologia pela Cornell University dos Estados unidos. Antes de vir para a UFPB, fui professor do Departamento de Medicina da Universidade de Chicago. Ingressei na UFPB em 2008, para montar, na ocasião, o curso de Medicina Veterinária em Areia. Nestes 10 anos de instituição, fui chefe do Departamento de Ciências Veterinárias do Centro de Ciências Agrárias (CCA), representante do campus junto ao Consepe e Consuni e estou como diretor do CBiotec desde 2011. Divido meu tempo na instituição entre a parte administrativa e minhas pesquisas, que versam sobre hipertensão arterial. Sou professor permanente dos programas de pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos e da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio). Já orientei três pós-doutores, 10 doutores, sete mestres e 28 alunos de iniciação científica. Atualmente, oriento cinco alunos de doutorado e três de mestrado. Ministro as disciplinas de Metodologia Científica, na pós-graduação, e Morfofisiologia, para a Graduação.
Quais as principais pesquisas que o senhor desenvolve hoje? Como elas podem melhorar na vida da comunidade?
Temos duas linhas de pesquisa principais: o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento da hipertensão arterial e o entendimento dos mecanismos determinantes da hipertensão arterial. Um dos vários projetos que estamos desenvolvendo é o tratamento de pacientes hipertensos com óleo de coco associado ao exercício físico, de modo a desmistificar o uso do óleo de coco pela população. Já publicamos dados preliminares, de estudos em animais, que ganhou repercussão mundial. Nossos dados preliminares em pacientes são promissores e, em breve, os resultados dessas pesquisas estarão à disposição da população. Também estamos investigando os efeitos do consumo de óleo de coco, canola e banha de porco no desenvolvimento de aterosclerose. Para além destes estudos, estamos desenvolvendo novos doadores de nitratos orgânicos com potencial terapêutico, para uso clínico em poucos anos.
O senhor também desenvolve projeto com o Instituto Karolinska, da Suécia, uma das mais conceituadas faculdades europeias de medicina. Como surgiu essa parceria?
A parceria surgiu do interesse mútuo em investigar os mecanismos que levam à hipertensão arterial. Os suecos defendem que a hipertensão tem origem renal. Nosso grupo de pesquisa acredita que a hipertensão arterial inicia-se com alterações no sistema nervoso. Portanto, decidimos unir forças para esclarecermos esses mecanismos. Submetemos um projeto ao edital lançado em conjunto entre a Capes e a agência sueca Stint e, dos sete projetos aprovados no Brasil em 2014, o nosso foi o único das regiões Norte e Nordeste.
Atualmente, o senhor está à frente desse projeto, denominado “Colaboração entre Brasil e Suécia para o entendimento dos mecanismos renais e neurais envolvidos na hipertensão arterial”. No que ele consiste e quais os principais resultados até o momento?
O projeto consiste em estudar como o organismo desenvolve hipertensão arterial e como podemos intervir para impedir que ela surja ou amenizar os sintomas causados pela pressão alta. Dentre as atividades do projeto, está previsto o intercâmbio de pesquisadores. Neste sentido, dois alunos de programa de pós-graduação da UFPB, Suênia Karla Pacheco Porpino, do doutorado em Biotecnologia da Renorbio, e Luciano Leite Paulo, do Programa de Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, tiveram a oportunidade de realizar seus doutorados-sanduíche no Instituto Karolinska, que abriga o maior número de Prêmios Nobel do mundo. Atualmente, a professora Josiane de Campos Cruz, do departamento de Biotecnologia do CBiotec e integrante do grupo de pesquisa liderado por mim, realiza seu estágio pós-doutoral no mesmo instituto. Além disso, realizamos missões anuais de trabalho ao Instituto e estamos organizando um workshop sobre óxido nítrico com os pesquisadores suecos para ocorrer aqui no Brasil em 2018. Para além da importante contribuição na formação de recursos humanos, esta profícua colaboração já resultou na publicação de dois artigos científicos em periódicos de alto fator de impacto: British Journal of Pharmacology, publicado em 2016, e Redox Biology, em 2017, com fatores de impacto de 5,49 e 6,33 respectivamente. Em ambos os artigos, há a presença de alunos e professores que atuam nos programas de pós-graduação da UFPB que citei, contribuindo para a internacionalização desses programas. Outros dois artigos já estão em redação para submissão.
O que será abordado no workshop sobre óxido nítrico com os pesquisadores suecos aqui no Brasil e como estão os preparativos para o evento?
Abordaremos os avanços recentes de diversos grupos de pesquisa no mundo sobre essa poderosa molécula que, entre outras funções, é capaz de relaxar os vasos sanguíneos e reduzir a pressão arterial. Nesse workshop, discutiremos também os dados gerados para parceria UFPB-Instituto Karolinska. Sobre os preparativos, estamos discutindo a melhor data e submeteremos projeto à Capes e ao CNPq em busca de recursos para ajudar na realização do evento.
Recentemente, a UFPB foi incluída no QS Ranking, um dos mais respeitados do mundo, entre as cem melhores instituições de ensino superior da América Latina. Como o senhor vê esse resultado e como isso impacta no seu trabalho?
A inclusão da UFPB entre as melhores universidades latino-americanas não é por acaso. Esse reconhecimento é fruto de muito trabalho de gestores, pesquisadores, professores, técnico-administrativos e discentes da instituição nos últimos anos. Isso nos motiva a trabalhar cada vez mais para enaltecer o nome da UFPB não só no cenário nacional mas principalmente no âmbito internacional.
Para o senhor, qual seria o caminho a ser seguido pelos pesquisadores mediante os cortes de verbas que as universidades públicas brasileiras estão sofrendo?
Dada a grave crise financeira que a ciência brasileira atravessa, um dos caminhos para continuarmos a fazer pesquisa de qualidade é intensificar nossos esforços rumo à internacionalização dos nossos programas de pós-graduação. Assim, criaremos oportunidades para que nossos pesquisadores, nos mais diferentes níveis de suas carreiras científicas, da iniciação científica ao pesquisador sênior, tenham a experiência de realizar missões de trabalho em instituições estrangeiras, que resultarão em ganhos para nossa instituição.
Fonte: ACS | Lis Lemos. Fotografias: arquivo pessoal do entrevistado.