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Projeto da UFPB avalia interações ecológicas para ampliar produção agrícola sustentável no Cariri Paraibano
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizam, no Cariri Paraibano, uma pesquisa para fomentar a implementação de paisagens agrícolas sustentáveis na região. A pesquisa teve início em fevereiro de 2022 e é realizada no Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação (LEAC) do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), sob a coordenação do professor Bráulio Almeida Santos.
O estudo também conta com docentes do Centro de Ciências Agrárias (CCA) do campus localizado na cidade de Areia, como os professores José Domingos Ribeiro Neto, Helder Araujo, Lenyneves Araujo e Lais Borges. Além disso, há parceiros do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) como o Prof. Alessandre Colavite; de outras universidades do Nordeste como Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal Rural do Semi-Árido; além das instituições mexicanas Universidad Nacional Autónoma de México e Instituto Potosino de Investigación Científica y Tecnológica.
A pesquisa avalia como as interações ecológicas de interesse agrícola, tais como herbivoria, polinização, predação e dispersão de sementes, respondem à modificação do ecossistema em diferentes escalas espaciais, com vistas à implementação de paisagens agrícolas sustentáveis no Cariri.
“Testamos a hipótese científica de que paisagens com níveis intermediários de conservação, com 40% a 60% de cobertura vegetal original, e manejadas com técnicas que conservam o solo, a biodiversidade e a água, favorecem simultaneamente a produção agrícola e a conservação das interações ecológicas”, disse o professor Bráulio Santos.
A pesquisa considera tanto as interações positivas para a agricultura, como a polinização e o controle de pragas, quanto as negativas como a herbivoria por insetos mastigadores, e o parasitismo por nematoides nas raízes. Os resultados fornecerão a base técnico-científica para o desenvolvimento de paisagens agrícolas sustentáveis na região mais seca do país.
A pesquisa do projeto “Interações ecológicas de interesse agrícola em paisagens modificada do Cariri Paraibano" fornece números inéditos acerca da indissociabilidade entre produção e conservação. O projeto busca, ainda, apoiar o Programa Nexus Caatinga, com o objetivo de garantir a segurança hídrica, alimentar e energética no Cariri paraibano.
Os pesquisadores estão trabalhando com 17 pequenos produtores rurais que cultivam milho e feijão com mão-de-obra familiar. Em cada sítio são coletadas amostras dos organismos envolvidos nas interações ecológicas, tanto em uma área cultivada da terra, quanto na área de vegetação nativa que circunda o roçado, em sua maioria são coletados artrópodes que vivem no ar, na folhagem, na superfície do solo ou no próprio solo, como abelhas, gafanhotos, lagartas, moscas, aranhas e besouros.
O docente explica que a maioria desses animais possui uma função positiva no agroecossistema, que ajuda na produção agrícola, seja diretamente, como uma abelha que poliniza o feijão, ou indiretamente, como uma vespa ou aranha que preda uma lagarta que se alimenta do milho.
Até o momento foram realizadas amostragens biológicas em 17 áreas cultivadas e 17 áreas de mata nativa nas cidades de São José dos Cordeiros, São João do Cariri, Cabaceiras e Boa Vista. Uma segunda fase de coletas de amostras será realizada em 2023 e prevê a incorporação de sítios em Serra Branca e Livramento.
Houve ainda o registro de imagens aéreas de alta resolução, por meio de drone, para quantificar e qualificar a paisagem que engloba o roçado em um raio de até 500m. Essas imagens servirão de base para a extração das variáveis locais e de paisagem de interesse, todas as informações serão utilizadas na construção de modelos estatísticos e no teste da hipótese da equipe de pesquisadores.
Dentre os resultados preliminares há ainda subprojetos em desenvolvimento. São 5 dissertações de mestrado e uma tese de doutorado ligadas aos Programas em Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio) e Ciências Biológicas (PPGCB) da UFPB. Há ainda 4 projetos de iniciação científica e em 2023 a previsão é de que o número de subprojetos aumente.
Segundo o professor Bráulio Santos, os processos de desertificação, ou seja, a degradação extrema da Caatinga atinge a todos e impacta principalmente os pequenos produtores, que não possuem recursos financeiros e humanos para superar as estiagens prolongadas e cada vez mais frequentes. Assim, a pesquisa tem uma importância nesse apoio à população do Cariri. “Conservar a infraestrutura verde de sua propriedade, ou seja, a Caatinga nativa, passa a ser a única alternativa para sustentar sua produção agrícola”, afirma o docente.
O projeto conta com financiamento principal da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), por meio do edital de demanda universal de 2021, mas também tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da própria UFPB, por meio do edital de apoio à produtividade lançado em 2021. O projeto segue até dezembro de 2025.