Você está aqui: Página Inicial > Contents > Notícias > Projeto da UFPB avalia interações ecológicas para ampliar produção agrícola sustentável no Cariri Paraibano
conteúdo

Notícias

Projeto da UFPB avalia interações ecológicas para ampliar produção agrícola sustentável no Cariri Paraibano

publicado: 05/10/2022 15h53, última modificação: 05/10/2022 15h55
Os pesquisadores estão trabalhando com 17 pequenos produtores rurais nas cidades de São José dos Cordeiros, São João do Cariri, Cabaceiras e Boa Vista

Foto: Acervo LEAC

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizam, no Cariri Paraibano, uma pesquisa para fomentar a implementação de paisagens agrícolas sustentáveis na região. A pesquisa teve início em fevereiro de 2022 e é realizada no Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação (LEAC) do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), sob a coordenação do professor Bráulio Almeida Santos.

O estudo também conta com docentes do Centro de Ciências Agrárias (CCA) do campus localizado na cidade de Areia, como os professores José Domingos Ribeiro Neto, Helder Araujo, Lenyneves Araujo e Lais Borges. Além disso, há parceiros do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) como o Prof. Alessandre Colavite; de outras universidades do Nordeste como Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal Rural do Semi-Árido; além das instituições mexicanas Universidad Nacional Autónoma de México e Instituto Potosino de Investigación Científica y Tecnológica.

A pesquisa avalia como as interações ecológicas de interesse agrícola, tais como herbivoria, polinização, predação e dispersão de sementes, respondem à modificação do ecossistema em diferentes escalas espaciais, com vistas à implementação de paisagens agrícolas sustentáveis no Cariri.

“Testamos a hipótese científica de que paisagens com níveis intermediários de conservação, com 40% a 60% de cobertura vegetal original, e manejadas com técnicas que conservam o solo, a biodiversidade e a água, favorecem simultaneamente a produção agrícola e a conservação das interações ecológicas”, disse o professor Bráulio Santos.

A pesquisa considera tanto as interações positivas para a agricultura, como a polinização e o controle de pragas, quanto as negativas como a herbivoria por insetos mastigadores, e o parasitismo por nematoides nas raízes. Os resultados fornecerão a base técnico-científica para o desenvolvimento de paisagens agrícolas sustentáveis na região mais seca do país.

A pesquisa do projeto “Interações ecológicas de interesse agrícola em paisagens modificada do Cariri Paraibano" fornece números inéditos acerca da indissociabilidade entre produção e conservação. O projeto busca, ainda, apoiar o Programa Nexus Caatinga, com o objetivo de garantir a segurança hídrica, alimentar e energética no Cariri paraibano.

Os pesquisadores estão trabalhando com 17 pequenos produtores rurais que cultivam milho e feijão com mão-de-obra familiar. Em cada sítio são coletadas amostras dos organismos envolvidos nas interações ecológicas, tanto em uma área cultivada da terra, quanto na área de vegetação nativa que circunda o roçado, em sua maioria são coletados artrópodes que vivem no ar, na folhagem, na superfície do solo ou no próprio solo, como abelhas, gafanhotos, lagartas, moscas, aranhas e besouros.

O docente explica que a maioria desses animais possui uma função positiva no agroecossistema, que ajuda na produção agrícola, seja diretamente, como uma abelha que poliniza o feijão, ou indiretamente, como uma vespa ou aranha que preda uma lagarta que se alimenta do milho.

Até o momento foram realizadas amostragens biológicas em 17 áreas cultivadas e 17 áreas de mata nativa nas cidades de São José dos Cordeiros, São João do Cariri, Cabaceiras e Boa Vista. Uma segunda fase de coletas de amostras será realizada em 2023 e prevê a incorporação de sítios em Serra Branca e Livramento.

Houve ainda o registro de imagens aéreas de alta resolução, por meio de drone, para quantificar e qualificar a paisagem que engloba o roçado em um raio de até 500m. Essas imagens servirão de base para a extração das variáveis locais e de paisagem de interesse, todas as informações serão utilizadas na construção de modelos estatísticos e no teste da hipótese da equipe de pesquisadores.

Dentre os resultados preliminares há ainda subprojetos em desenvolvimento. São 5 dissertações de mestrado e uma tese de doutorado ligadas aos Programas em Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBio) e Ciências Biológicas (PPGCB) da UFPB. Há ainda 4 projetos de iniciação científica e em 2023 a previsão é de que o número de subprojetos aumente.

Segundo o professor Bráulio Santos, os processos de desertificação, ou seja, a degradação extrema da Caatinga atinge a todos e impacta principalmente os pequenos produtores, que não possuem recursos financeiros e humanos para superar as estiagens prolongadas e cada vez mais frequentes. Assim, a pesquisa tem uma importância nesse apoio à população do Cariri. “Conservar a infraestrutura verde de sua propriedade, ou seja, a Caatinga nativa, passa a ser a única alternativa para sustentar sua produção agrícola”, afirma o docente.

O projeto conta com financiamento principal da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), por meio do edital de demanda universal de 2021, mas também tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da própria UFPB, por meio do edital de apoio à produtividade lançado em 2021. O projeto segue até dezembro de 2025.

* * *
Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Fotos: Acervo LEAC