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Pesquisadores da UFPB se mobilizam para evitar extinção de ave
Estação Ecológica de Murici (AL) abriga as últimas 50 unidades do passarinho no mundo. Foto: Arthur Barbosa
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) estão mapeando o habitat da ave choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi), criticamente ameaçada de extinção, a fim de subsidiar soluções para evitar sua extinção. Foram registradas apenas 17 choquinhas-de-alagoas no local e se estima a existência de somente 50 na natureza.
O passarinho foi identificado em fragmento de Mata Atlântica na Estação Ecológica de Murici, no município homônimo, no estado de Alagoas, em regiões com árvores mais altas. A área protegida, com aproximadamente dois mil hectares, é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
“Nossas análises indicam que há mais chances de encontrar a choquinha-de-alagoas nas regiões da floresta que têm árvores mais altas”, conta Hermínio Vilela, mestrando em Zoologia pela UFPB e principal responsável pela pesquisa, sob orientação do professor da UFPB Helder Farias.
Ele explica que, agora, a equipe está investigando a influência de fatores para o habitat da espécie, como a distância das árvores para a borda dos riachos.
“Verificamos que outra ave, a surucuá-de-barriga-amarela, compartilha os mesmos espaços com a choquinha-de-alagoas. Ou seja, a presença dela em uma região de floresta pode indicar a existência da choquinha-de-alagoas”.
De acordo com o pesquisador, rápidas mudanças ambientais, como a remoção de imensas áreas florestais, inviabilizam a adaptação dos seres vivos. “Essas rápidas mudanças ambientais podem provocar desequilíbrios ecológicos que, inicialmente, podem causar a extinção de algumas espécies e, mais tardiamente, o desaparecimento em massa do restante dos animais”.
A choquinha-de-alagoas foi descrita em 1985, a partir de expedições feitas por pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro. É um passarinho que comumente vive no interior de florestas conservadas da Mata Atlântica de altitude, acima de 400 metros do nível do mar.
Nessa época, a ave foi identificada em quatro locais diferentes: um no estado de Alagoas e três no de Pernambuco. Em mais ou menos 15 anos, desapareceu do território pernambucano.
“O status de conservação de uma espécie é definido em reuniões de especialistas e órgãos ambientais nos âmbitos regional, nacional e internacional. A choquinha-de-alagoas está criticamente ameaçada de extinção porque existe apenas em um único lugar no mundo, na Estação Ecológica de Murici, em Alagoas”.
O mestrando afirma que existem duas explicações para essa condição da ave: processos biogeográficos, acerca de como ela surgiu, e provavelmente devido ao histórico de desmatamento na região Nordeste, iniciado com as atividades de extração de pau-brasil e plantação de cana de açúcar, por volta de 1530, com a colonização dos portugueses. Recentemente, por conta do uso da terra para criação de gado.
Os pesquisadores da UFPB monitoraram a região durante um ano, seis meses entre 2018-2019 e mais seis meses entre 2019-2020. O lugar preferido da ave na floresta foi descoberto por meio de modelos matemáticos.
Emergência de conservação
Atualmente, só existem 9% da cobertura original de Mata Atlântica no estado de Alagoas e entorno de 12% da Mata Atlântica original em todo o Brasil. Esse fato já é um dos critérios para a ave estar na categoria de criticamente ameaçada (restrita a poucos fragmentos florestais).
“Essa ave é estritamente florestal. Não há evidências dela em pasto, áreas muito abertas como capoeiras ou regiões de mata secundária, como trechos de florestas que estão em regeneração”.
Além da choquinha-de-alagoas, há registros de quatro outras espécies que habitaram a região da estação ecológica: zidede-do-nordeste, cara-pintada, limpa-folha-do-nordeste e gritador-do-nordeste. No tempo da ciência, elas foram descritas recentemente, a partir da década de 1980. Pesquisas de monitoramento regulares só começaram a ser realizadas em 2010.
“Temos aí pelo menos 30 anos de pouquíssimos dados referentes ao tamanho da população dessas espécies entre 1980 e 2010. Infelizmente, dentre as quatro espécies descritas, já temos duas aves que são consideradas extintas, o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi) e o gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti)”.
A previsão da extinção choquinha-de-alagoas não é uma estimativa precisa. No entanto, se nada for feito, ela pode desaparecer em menos de 40 anos. Esse cenário pode ser revertido com a adoção de práticas de conservação da espécie.
“Saber o porquê de a ave escolher uma região em vez de outra será fundamental para saber quais as áreas mais prioritárias para serem conservadas e mais adequadas para possíveis solturas da ave, pois tais regiões seriam as mais indicadas para ela sobreviver”.
Para Hermínio Vilela, a emergência da conservação de algumas espécies reside no fato de os organismos serem peças fundamentais para fazer um ecossistema funcionar. Outra justificativa é a de que, sem a conservação, quem será prejudicado é os seres humanos.
“Às vezes, os prejuízos não são imediatos por causa da resiliência do ecossistema. Contudo, com o tempo, relações ecológicas importantes podem ser perdidas, provocando grandes impactos”.
“O exemplo mais didático para isso tudo é o seguinte: se houver uma drástica perda de espécies de abelhas, moscas, besouros, e de outros animais polinizadores, praticamente a nossa espécie entrará em um colapso real de escassez de alimento”, alerta o mestrando.
No ponto de vista do pesquisador, deixar de preservar espécies é sinônimo de aumento do custo de vida dos seres humanos, pois também dependemos dos recursos naturais para sobrevivermos.
A pesquisa tem colaboração de Pedro Develey, diretor da ONG Save Brasil, de Arthur Barbosa e de outros colaboradores externos. É financiada pela UFPB e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
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Reportagem e Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB