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Pesquisadores da UFPB alertam sobre insegurança alimentar internacional por causa da Covid-19
Os pesquisadores Thiago Lima, Atos Dias, Igor Palma e Lucas Amorim, do Grupo de Pesquisa Fome e Relações Internacionais (FomeRI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), alertam sobre insegurança alimentar internacional por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Em artigo publicado no site do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no último sábado (11), eles afirmam que a catástrofe que se desenha com a Covid-19 pode ser responsável por trazer à tona, mais uma vez, os perigos do isolacionismo, do protecionismo e do unilateralismo para a estabilidade do sistema internacional.
Segundo os pesquisadores, emerge a possibilidade de os governos implantarem barreiras a exportações para prevenirem eventual desabastecimento doméstico. Com isso, os preços dos produtos alimentícios poderiam sofrer distorções severas diante de uma escassez de oferta, tornando muito mais custoso para os importadores mais pobres o acesso a esses alimentos.
“Essa medida poderia afetar ainda a formação dos estoques nacionais de alimentos para situações de emergência e mesmo a compra de alimentos para doações humanitárias realizadas pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA)”, destaca os pesquisadores na publicação.
De acordo com os integrantes do grupo de pesquisa da UFPB, seria necessário um amplo esforço de cooperação internacional para que os países classificassem as etapas das cadeias produtivas e logísticas do setor agroalimentar como serviços essenciais, tornando-as isentas de, ao menos, parte das restrições de movimentação que visam impedir a disseminação do novo coronavírus.
Do mesmo modo, para os pesquisadores, governos e bancos deveriam garantir os recursos para que a demanda não desabasse e para que os gargalos logísticos pudessem ser alargados neste momento crítico.
Nesse contexto, para Thiago Lima, Atos Dias, Igor Palma e Lucas Amorim, um elemento não pode ser perdido de vista: as grandes potências são, quase todas elas, relativamente autossuficientes em alimentos. Além disso, possuem os recursos financeiros e logísticos (Marinha Mercante, por exemplo) para adquirir os alimentos em mercados que estejam abertos e, eventualmente, para tomá-los à força.
Portanto, possuem vulnerabilidade alimentar muito menor do que os países em desenvolvimento, sobretudo os mais pobres, quando a interdependência agroalimentar internacional é severamente sacudida.
Ao finalizar o artigo, os pesquisadores ponderam que ainda é muito cedo para se falar em colapso do sistema agroalimentar internacional. Em diversas partes do mundo, contudo, já começam a surgir notícias de produtores agrícolas que jogam sua produção fora ou que alimentam animais com frutas, porque não há para quem vendê-las.
Para eles, seria muito útil que um projeto de desglobalização fosse planejado e executado com ampla cooperação internacional, visando criar soberania alimentar onde fosse possível.
“Pensamos que é importante não haver abalos no comércio internacional de alimentos porque isso agravaria a crise. Propomos que as organizações internacionais devem fomentar um padrão de produção e consumo mais vinculado à produção nacional de cada país, em vez de ao comércio internacional”, defende Thiago Lima, professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB.
No ponto de vista dele, se as grandes organizações internacionais estão pressionando pela manutenção do funcionamento das cadeias agroalimentares internacionais como uma forma de garantir a segurança alimentar global em um contexto de gravíssima crise econômica, seria mais importante ainda que elas se unissem para defender, no curto e no médio prazo, planos de reforma agrária, da diminuição da dependência da importação de alimentos, da criação de estoques alimentícios para enfrentar eventuais carestias, bem como de programas socioeconômicos para fortalecer a resiliência dos povos do campo.
Diretores-gerais da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS), duas das principais entidades do sistema das Nações Unidas, e da Organização Mundial do Comércio (OMC) emitiram declaração conjunta, expondo preocupações a respeito da segurança alimentar internacional, no dia 31 de março, intitulada “Mitigating Impacts of COVID-19 on Food Trade and Markets”.
Ascom/UFPB