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Pesquisador da UFPB propõe fila única em estados que têm mais leitos privados
Estudo realizado pelo professor Alexandre Simas, do Departamento de Matemática da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com o economista Samy Dana, propõe fila única para Covid-19, em estados com mais leitos de Unidades de Tratamento (UTIs) no sistema privado. O relatório tem como coautores José Gallucci, Bruno Filardi e Rodrigo Rodriguez.
No documento, os pesquisadores buscaram, por meio de modelo matemático, medir a ocupação de leitos de UTI por acreditarem que será o maior gargalo na mortalidade de Covid-19 no Brasil.
Segundo o professor Alexandre Simas, o objetivo principal do trabalho é verificar se existem leitos suficientes para atender toda a demanda. "Se não houver, teremos duas saídas: endurecer as medidas de isolamento (lockdown) ou adquirir mais leitos de UTI", avalia o matemático.
O estudo projeta a previsão de mortes pela Covid-19 e o pico da doença em três estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas) e também no Brasil. Para isso, considera dois cenários, com fila separada e com fila única, supondo que o isolamento permanecerá em vigor.
No cenário com fila separada, as pessoas com plano de saúde teriam acesso à rede privada, mas, caso sobrecarregado, poderiam utilizar o sistema público; já pessoas sem plano só teriam direito aos leitos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No cenário com fila única, pacientes graves, com ou sem plano de saúde, teriam o mesmo acesso a leitos das redes pública e privada, em um sistema unificado. Para isso, o sistema público pagaria à rede privada pelo uso dos leitos, neste modelo já proposto por grupos de especialistas.
Por meio da separação de cenários nos estudos envolvendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas, os autores mediram o impacto social da fila única e constataram cenários diferentes em cada estado.
O estudo revela que a concepção de uma fila única para vagas de UTIs nos sistemas público e privado ajudaria estados como o Rio de Janeiro a evitar muitas mortes pela Covid-19. Contudo, no Amazonas, onde a situação já se agravou, a fila única não seria capaz de combater um “colapso” do sistema de saúde.
Em São Paulo, conforme o estudo, no cenário com fila única, a ocupação de leitos de UTI ficaria em um nível confortável com o isolamento atual. Estariam disponíveis 70% do total de leitos (15.753) para pacientes da Covid-19, o que totalizaria 11.027 leitos.
Já no cenário de fila separada, a utilização de leitos de UTI pública alcançaria o nível de 80% de ocupação durante o pico, considerando como cenário 5.063 leitos de UTIs públicas disponíveis para a Covid-19.
O matemático e estatístico Alexandre Simas tem expectativas de apresentar nos próximos dias projeções para a Paraíba.
“A gente pretende, sim, com certeza. Tudo é uma questão de ter dados de boa qualidade. Há pouco tempo, o modelo não estava se ajustando bem. As previsões não estavam ficando boas porque havia poucos dados. Mas é provável que consigamos realizar o estudo com mais detalhes para cá”, conta.
Disparidade entre leitos privados e públicos
Os pesquisadores buscam definir critérios objetivos para adoção ou não de fila única.
“A gente está estudando o aspecto da fila única de maneira bem mais detalhada, porque, por incrível que pareça, existem cenários em que a fila única não ajuda, pois não faz diferença efetiva. Mas há cenários em que faz”, diz o estatístico Alexandre Simas.
Segundo o professor, entre os fatores que mais influenciam a escolha ou não da fila única está a disparidade entre leitos privados e públicos.
“O principal é a desigualdade. Pouca gente com plano de saúde. Mas muito mais leitos privados que públicos. Esses são os cenários que mais fazem sentido a adoção de fila única”, explica.
Subnotificação diminui taxa de letalidade
O modelo utilizado pelos pesquisadores no estudo se baseia no número de mortos, em vez de na quantidade de infectados, por acreditarem ser mais confiável, atualmente, no Brasil. Os autores tomaram como base a metodologia do Report 13, do Imperial College, usando um modelo bayesiano.
Ao considerar os possíveis casos subnotificados, a taxa de letalidade da pandemia muda muito. Para Alexandre Simas, a subnotificação é um problema sério.
“Essa é uma das coisas que a gente está vendo como modelar. O bom é que agora eles estão contabilizando as mortes por insuficiência respiratória, por pneumonia, por síndrome respiratória aguda grave. Então tudo isso está dando para se levar em consideração, calculando excesso de mortes em relação às médias dos anos anteriores, para ter uma ideia da subnotificação e dar uma estimativa mais precisa”, esclarece Simas.
O pesquisador ressalta ainda que é fundamental a adoção das práticas de distanciamento social, utilização de máscaras e cuidados com a higiene, para controlar a pandemia.
Ascom/UFPB