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Pesquisa da UFPB com a planta pitó investiga potenciais anti-inflamatórios, antimicrobianos e de prevenção ao câncer
Uma pesquisa do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), vinculada ao Departamento de Fisiologia e Patologia e ao Laboratório de Ensaios Toxicológicos, verificou possíveis atividades antioxidantes, anticarcinogênicas, antineoplásicas, anti-inflamatórias e antimicrobianas na planta Helicteres velutina, popularmente conhecida como pitó.
A descoberta foi feita por meio de uma análise de toxicidade que constatou que a substância tilirosídeo, encontrada na planta, pode possuir tais propriedades, o que ajudaria no desenvolvimento de fontes e materiais farmacêuticos.
O artigo “Analysis of the toxicological and pharmacokinetic profile of Kaempferol-3-O-β-D-(6”-E-p-coumaryl) glucopyranoside -Tiliroside: in silico, in vitro and ex vivo assay” foi desenvolvido pelo biomédico e pesquisador da UFPB Aleson Pereira e é fruto dos estudos de doutorado em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Medicamentos do pesquisador.
O trabalho é um recorte do tema central que o doutorando está trabalhando na sua tese de conclusão do doutorado: “Avaliação da toxicidade e determinação do potencial antimicrobiano dos flavonoides vitexina, tilirosideo e 5,7-dihidroxi-3,8,4'-trimetoxi: estudos in silico, in vitro e ex-vivo”.
Sob a orientação da Profa. Rita de Cássia da Silveira e Sá, do Departamento de Fisiologia e Patologia (CCS-UFPB), e coorientação do Prof. Abrahao Alves de Oliveira Filho, do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Campina Grande (UACB/UFCG), o trabalho conta com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e teve como colaboradores os pesquisadores: Diégina Araújo Fernandes, Maria Denise Leite Ferreira, Laísa Vilar Cordeiro, Maria de Fátima Vanderlei de Souza, e Hilzeth de Luna Freire Pessoa.
Aleson Pereira, pesquisador responsável pelo artigo, explicou que a molécula estudada, kaempferol-3-O-β-D- (6 ”-E-p-coumaroil) glucopiranosídeo (tilirosídeo), é um flavonóide natural oriundo da planta nativa do Brasil, Helicteres velutina, conhecida por pitó, bastante utilizada no tratamento de infecções. Ela é comum em regiões de clima temperado, como no Norte e Nordeste do país.
“O tilirosídeo é um flavonoide isolado da Helicteres velutina. Encontra-se em específico nas folhas da planta. Os flavonóides agem na proteção da planta e atuam no seu desenvolvimento. As moléculas possuem várias atividades biológicas, como ação anti-inflamatória, larvicida e antibacteriana”, esclarece.
Contudo, o pesquisador pontua que, uma vez que a molécula possui uma atividade promissora, é preciso averiguar a toxicidade dessa molécula nos ambientes biológicos e nos seres vivos. “Por isso precisamos verificar a substância, o nível ideal de concentração dela, de que modo ela atua na capacidade da homeostase, ou seja, no equilíbrio daquele organismo e se a substância causa algum dano à saúde. E é isso que o nosso estudo de toxicologia analisou em específico, com o tilirosídeo”.
Ao todo, três modelos de análise foram adotados para o estudo toxicológico. In silico, in vitro e ex vivo. No modelo in silico, estruturas químicas, propriedades bioativas preditivas e toxicidade teórica foram analisadas por meio de dois softwares que indicaram, teoricamente, qual seria a probabilidade da molécula ser tóxica. O resultado apontado indicou uma toxicidade moderada, segundo o pesquisador Aleson.
Com as técnicas in vitro e ex vivo, um dos diferenciais foi que a pesquisa utilizou amostras humanas saudáveis e não amostra de animais. “Com a técnica in vitro, utilizamos sangue humano para avaliar a citotoxicidade da molécula das hemácias do sistema ABO. Com o modelo ex vivo, trabalhamos amostras de mucosa nasal para verificar o comportamento da molécula e se o tilirosídeo alteraria o núcleo da célula ou não”, explicou.
Como resultado, a pesquisa identificou que não houve alterações citotóxicas e genotóxicas nas hemácias e células da mucosa, significativas para o tilirosídeo, ou seja, a molécula, mesmo que em alta concentração, não seria capaz de gerar alterações degenerativas, o que indica, como o pesquisador aponta, a possibilidade de criação de novas tecnologias para a área da saúde.
“Na pesquisa verificamos a toxicidade do tilirosídeo. Com base nos resultados, podemos sugerir avanços e explorar atividades biológicas como o efeito anti-inflamatório e antimicrobiano da substância na segurança de que ela não ocasionará nenhuma toxicidade à célula”, pontuou. Ainda segundo ele, o objetivo é incorporar a molécula em fontes farmacêuticas, gerando inovação tecnológica para a área da saúde. “Desenvolver, por exemplo, futuros produtos antimicrobianos para a cavidade oral ou fármacos de aplicação por via intravenosa”, exemplifica.
Confira o artigo completo.
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Reportagem: Mellody Oliveira
Edição: Aline Lins
Foto: Divulgação