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Pesquisa da UFPB aponta potencial de substância natural para uso em medicamentos antibacterianos
No Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), um estudo destaca o potencial do terpinen-4-ol, substância que pode ser extraída de várias plantas, a exemplo da folha da Melaleuca, como produto antibacteriano eficaz contra bactérias da espécie Staphylococcus aureus. Essa bactéria é causadora de diversas infecções no organismo humano, como infecções na pele, terçol, foliculite e até mesmo intoxicações alimentares, além de poder levar a casos de pneumonia e endocardite, quando invade a circulação sanguínea.
O estudo também fornece subsídios para futuros estudos farmacológicos da molécula visando aplicação terapêutica como um novo medicamento antibacteriano. O trabalho foi realizado pelos pesquisadores Laísa Cordeiro, Pedro Figueiredo, Helivaldo Souza, Aleson Sousa, Francisco Andrade Júnior, Daianne Medeiros, Jefferson Nóbrega, Daniele Silva, Evandro Martins, sob a coordenação dos professores José Barbosa Filho e Edeltrudes Lima, do Programa de pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (PPGPN). O estudo foi realizado no Laboratório de Pesquisa em Atividade Antibacteriana e Antifúngica, do Departamento de Ciências Farmacêuticas (DCF).
Diante de bactérias resistentes aos antimicrobianos que levam a casos de insucesso no tratamento médico, pesquisar novas alternativas para o desenvolvimento de fármacos antibacterianos é de grande relevância.
“Dentro desse contexto, os óleos essenciais extraídos de espécies vegetais, bem como seus componentes isolados, apresentam-se como uma ampla fonte de novas moléculas bioativas, ou seja, que têm efeito sob um organismo vivo, tecido ou célula. Contudo, havia poucos relatos na literatura científica sobre a atividade antibacteriana e antibiofilme do terpinen-4-ol, que é uma molécula presente em diversas espécies vegetais com pronunciada atividade antibacteriana, a exemplo da melaleuca alternifolia”, disse a pesquisadora Laísa Cordeiro, aluna egressa do doutorado no PPGPN, atualmente, também professora substituta da UFPB.
Para o estudo foi utilizado o terpinen-4-ol em sua forma pura e isolada adquirida comercialmente. Segundo Laísa Cordeiro, além de avaliar a atividade antibacteriana da substância terpinen-4-ol contra bactérias da espécie Staphylococcus aureus, a pesquisa também objetivou verificar o efeito da combinação da substância com outros antibacterianos comumente utilizados na prática clínica, como a cefazolina, oxacilina e meropenem. O resultado apontou para o trabalho em sinergia das substâncias no tratamento farmacológico.
Outro resultado importante da pesquisa é o potencial antibiofilme da terpinen-4-ol. Laísa explica que alguns tipos de microrganismos, quando em contato com certos tipos de superfície, como cateteres ou sondas utilizadas no tratamento de pacientes, conseguem se aderir de forma forte às superfícies, formando colônias diferenciadas e envoltas em uma espécie de gel protetor, o chamado biofilme, o que representa um problema na terapia antibacteriana, haja vista que os medicamentos atualmente no mercado, cuja propriedade antibiofílmica foi estudada, possuem pouca ação nos biofilmes, uma vez que não são facilmente removidos.
“Então, esse paciente até se trata, o medicamento reduz a carga das bactérias, mas não consegue eliminar as bactérias presentes no biofilme no dispositivo que está no corpo do paciente, de forma que isso causa grandes problemas na terapia, as bactérias podem apresentar resistência ao tratamento, podem se soltar e ir para a corrente sanguínea do paciente e, além de estarem dentro do biofilme protegidas, quando essas bactérias saem, são normalmente mais resistentes aos medicamentos”, explica a pesquisadora.
Diante deste cenário, o resultado da pesquisa que aponta que o terpinen-4-ol apresentou pronunciada atividade frente aos biofilmes formados pelo Staphylococcus aureus é de grande relevância. Além disso, as análises indicaram parâmetros farmacocinéticos favoráveis para futura administração da molécula in vivo e os parâmetros computacionais sugerem boa viabilidade para administração por via oral.
O estudo foi realizado no Laboratório de Pesquisa em Atividade Antibacteriana e Antifúngica do Departamento de Ciências Farmacêuticas (DCF). A pesquisa, que levou um ano para ser concluída, foi publicada no periódico International Journal of Molecular Sciences em maio de 2020. O trabalho foi apoiado pela Chamada Interna da Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq/UFPB) nº 01/2020 – Pró-Publicação, programa de apoio à produção científica na pós-graduação, além de ter recebido financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com Laísa Cordeiro, o grupo responsável pela pesquisa tem a intenção de seguir com os testes, primeiramente, para analisar a atividade da substância terpinen-4-ol contra outras bactérias que apresentem índices muito elevados de resistência aos antimicrobianos e que também formam biofilmes. Uma etapa posterior será a realização de estudos in vivo para formulação de novos medicamentos.
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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Angélica Gouveia