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Estudantes da UFPB denunciam racismo estrutural em espetáculo

Peça de teatro relaciona práticas naturalizadas à morte de jovens negros
publicado: 17/03/2020 19h55, última modificação: 18/03/2020 00h29
Encenação é idealizada por estudantes de Direito em Santa Rita, Região Metropolitana de João Pessoa. Foto: Divulgação

Encenação é idealizada por estudantes de Direito em Santa Rita, Região Metropolitana de João Pessoa. Foto: Divulgação

O projeto “Baobá – Ymyrapytã: o racismo matou meu filho”, idealizado por estudantes da graduação em Direito, no campus Santa Rita da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), discute, por meio da arte cênica, como o racismo estrutural contribui para o assassinato de jovens negros no Brasil. 

A peça de teatro narra a história de dois jovens negros da periferia que tentam, através da educação, ascender socialmente. No processo de formação, passam por diversas situações de racismo. A trama envolve o universo escolar, midiático, segurança pública e o sistema de justiça. 

De acordo com o coordenador do projeto, professor Eduardo Fernandes de Araújo, a ideia surgiu após os alunos protagonizarem uma peça sobre a Grécia antiga em sala de aula. “Quando estudaram os direitos dos grupos socialmente vulneráveis, passaram a entender melhor sobre o racismo no Brasil e queriam dar continuidade ao grupo de teatro. Resolvi incentivar e sugeri uma antologia de peças teatrais produzidas por escritores e escritoras negras”, ressalta. 

O professor afirma que os estudantes aceitaram o desafio e começaram a se preparar em dezembro de 2019. “Aperfeiçoaram a performance, criaram o roteiro, a direção, a interpretação e a produção, conduziram todo o processo. Apenas indiquei textos, vídeos, relatórios, legislação e leram alguns casos de racismo contra quilombolas”, acentua. 

A expectativa do grupo – que se apresentaria hoje (17) no campus Santa Rita (cancelada diante da suspensão das atividades acadêmicas por causa do novo coronavírus) –  é realizar debates e apresentações em escolas e nos campi da UFPB, para expor “exemplos ficcionais e experiências reais de racismo vivenciadas pelos próprios estudantes idealizadores, no âmbito escolar e social”. 

Na concepção do professor Eduardo Fernandes, o projeto é ideal para se tornar uma atividade de extensão, ensino e pesquisa continuada. Podemos nos vincular, por exemplo, ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da UFPB. Seria uma oportunidade de ampliar o diálogo com professores, estudantes, técnico-administrativos, terceirizados e Organizações Não-Governamentais (ONGs). Surgiriam novas ideias, vivências e conhecimentos para um público maior”, almeja. 

Racismo e assassinato 

O Atlas da Violência, divulgado ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que 75% das vítimas de assassinatos no Brasil são jovens negros. Por exemplo, em 2017, foram 49,5 mil homicídios contra negros e 16 mil de não negros. 

Pesquisa realizada pela Fundação Abrinq enfatiza que – em 20 anos, de 2007 a 2017 – o número de jovens negros assassinados aumentou 429%. Em média, quatro em cada cinco casos de homicídios, no ano de 2017, foram cometidos contra negros. 

Para o professor de Direito da UFPB, Gênesis Cavalcanti, isso é um reflexo da história do Brasil, que é “marcada pela completa inferiorização dos povos negro e indígena, o que possibilitou o controle e a punição deles. É a realidade que a elite do país impõe aos grupos sociais marginalizados”. 

Ascom/UFPB