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Estudante da UFPB conquista 1º lugar no Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário
A discente Ana Carolina Monteiro Paiva, do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), conquistou o 1º lugar na categoria de Trabalho Acadêmico do Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário.
A cerimônia de premiação aconteceu no dia 13 de maio, na sede da Escola Superior da Magistratura de Pernambuco (Esmape), no Tribunal de Justiça do estado, durante o II Encontro Nacional de Memória do Poder Judiciário.
A premiação, que trabalhou o tema “Portal da Memória”, contou com mais de 100 inscritos em sete categorias sendo: Especial (subdividida de acordo com os cinco ramos do Poder Judiciário); Difusão cultural e direitos humanos; Trabalho acadêmico ou científico; Patrimônio Cultural Arquitetônico; Patrimônio Cultural Arquivístico; Patrimônio Cultural Bibliográfico e Patrimônio Cultural Museológico.
O trabalho premiado da estudante foi a sua dissertação de mestrado, elaborada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e orientada pelo Prof. Tiago Bernardon, do PPGH da UFPB.
“Trabalho e cotidiano na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (1907-1919)” baseou-se em um amplo conjunto de fontes históricas, jornais, periódicos, relatos, telegramas e ainda processos, documentos e relatórios que constituem parte do acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.
Divididos em quatro capítulos, o estudo aborda o cotidiano de trabalhadores da ferrovia durante a construção e primeiros anos de funcionamento da linha férrea e analisa o cenário como parte da estruturação de um sistema de controle e manutenção da força de trabalho pela empresa responsável pelo empreendimento.
Considerando as relações sociais de trabalho, a pesquisadora analisa alguns elementos que fazia parte desse cotidiano como: a organização do sistema de trabalho, espaços de trabalho e moradia, atividades sociais, mobilizações, conflitos, resistências, normas de comportamento social, doenças e condições sanitárias, medidas de disciplinarização dos corpos, impactos do trabalho na saúde física e mental.
“Este empreendimento movimentou um contingente de homens e mulheres atraídos por grandes promessas de riqueza e progresso. Havia um fluxo de 25 a 30 mil trabalhadores, de cerca de 40 nacionalidades diferentes, circulando na obra durante o período de construção (1907-1912), dos quais em torno de 6.000 chegaram a óbito. Portanto, era um núcleo populacional e um campo de trabalho pulsante em uma obra pioneira e desafiadora no meio da floresta amazônica”, explica a estudante.
Ana Carolina conta que o desejo de conhecer intrinsecamente as histórias que ouvia na infância foi um dos motivos que a levou a trabalhar com a temática.
“Eu sou natural de Porto Velho e até os 14 anos, quando mudei para Campina Grande, morei lá. Ouvir a sirene da ferrovia já desativada fazia parte da rotina, mas até então eu era criança e não imaginava que fosse estudar sobre isso, apesar de ter muita curiosidade sobre as histórias que eram contadas”, comentou.
No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a estudante escreveu sobre o romance histórico “Mad Maria” que aborda, discutindo os diálogos entre história e literatura, a construção da ferrovia. Durante as pesquisas para o TCC, Ana Carolina atentou-se a novos questionamentos e, a partir deles, sentiu a necessidade de continuar debruçando-se sobre o assunto.
“Na reta final, soube da existência de poemas e jornais produzidos por trabalhadores estrangeiros da ferrovia e, juntamente com os processos judiciais, comecei a pensar como muito se falava do maquinário da ferrovia [patrimônio também importante], dos grandes nomes de empresários, políticos e empreiteiros envolvidos no projeto, no simbolismo por a ferrovia representar o nascimento da cidade de Porto Velho, mas que pouco sabia sobre quem eram, como chegavam e como viviam os homens e mulheres que formavam esse contingente de ‘trabalhadores’ e foram, primordialmente, responsáveis pela construção e funcionamento da ferrovia”, explicou Ana Carolina.
Segundo a historiadora, apesar de tratar de um tema sobre um Estado do outro lado do país (Rondônia) em uma pós-graduação na Paraíba, a formação, o apoio e orientação dos professores contribuíram em diversos aspectos no que diz respeito ao desenvolvimento da pesquisa.
“Tive uma formação e orientação excelentes no PPGH UFPB. Tiago Bernardon de Oliveira, como professor e orientador, ajudou bastante no embasamento teórico que a pesquisa exigia e em como olhar/ler as fontes. A professora Ana Beatriz Barros acompanhou a ideia desde o pré-projeto, durante a seleção de mestrado, passando pela banca de qualificação e defesa, portanto, foi como uma co-orientadora que apoiou nas leituras e críticas”, enfatizou.
A mestra, que também integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em História do Trabalho da UFPB (GEPEHTO), destacou que as discussões e o apoio durante as aulas, com colegas e demais professores no grupo, também contribuíram para essa jornada. “Tem um trabalho dedicado e atencioso de orientação, com rigor nas leituras e análises, o que possibilitou que meu texto chegasse a esse nível de reconhecimento. Portanto, não tenho como não ser grata aos professores e professoras que me ajudaram compartilhando livros, fazendo leituras e sugestões”.
Ana Carolina lembra que a escrita e conclusão da dissertação foi realizada durante um momento delicado, devido à pandemia da Covid-19, o que representou desafios. “A dissertação foi feita durante o ano de 2020. Enfrentei muitas dificuldades, em que, sinceramente, pensei em parar. Alunos e professores se apoiaram durante esse momento, a coordenação do PPGH/ UFPB trabalhou incansavelmente para dar suporte a todos, apoiei-me nas atividades do GEPEHTO, que me orgulho de fazer parte, e consegui finalizar. Portanto, acredito que é uma conquista conjunta e de valorização da ciência feita nas universidades públicas”, afirma a historiadora, para quem ganhar o primeiro lugar no prêmio dá a sensação de dever cumprido.
Agora, embora continue no GEPEHTO UFPB, a historiadora também passou a integrar o Laboratório de Estudos em História Social do Trabalho na Amazônia (Lehstam), vinculado à Universidade Federal do Amapá (Unifap).
No que se diz respeito à importância do trabalho no cenário da historiografia brasileira, Ana Carolina acredita “que a dissertação tenha sua contribuição para a discussão do tema da Madeira Mamoré na historiografia”.
Uma versão de sua dissertação, já premiada anteriormente no âmbito do próprio PPGH/UFPB, deverá ser publicada em livro pela Editora da UFPB. A íntegra da dissertação pode ser acessada livremente no Repositório Institucional – Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFPB, pelo link: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/20305.
O vídeo que registra o momento da premiação, está no canal do YouTube do grupo de estudos GEPEHTO no link: https://youtu.be/50v00y5VQlo.
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