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Combate à violência doméstica passa pela política de informação de gênero, diz pesquisadora

Pesquisa foi desenvolvida na Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFPB
publicado: 29/01/2020 15h12, última modificação: 29/01/2020 18h02
Tese trata de políticas de gênero, empoderamento e protagonismo de mulheres que sofreram violência doméstica. Crédito: Divulgação

Tese trata de políticas de gênero, empoderamento e protagonismo de mulheres que sofreram violência doméstica. Crédito: Divulgação

A pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Claudialyne Araújo alerta, em sua tese "Políticas de informação de gênero e protagonismo das mulheres em situação de violência doméstica", que uma política de informação de gênero é fundamental no combate à violência doméstica.

De acordo com o trabalho, que tem orientação das professoras Gisele Cortês e Joana Coeli Ribeiro, as políticas de informação de gênero são constituídas a partir de diretrizes e ações que, intercaladas a outros mecanismos políticos, interferem nas práticas culturais e econômicas da sociedade.

“Isso acontece quando se utiliza, como elemento imprescindível, a informação tratada e articulada para alcançar as representações sociais que apresentam situações de desigualdade social e discriminação”, destaca Claudialyne Araújo.

A pesquisadora afirma que analisou, em seu trabalho, políticas de gênero com o empoderamento e o protagonismo social de mulheres que sofreram violência doméstica durante seus relacionamentos.

“As relações eram afetivo-sexuais, moravam na mesma residência e tinham filhos. As violências aconteciam na frente das crianças, mas escondidas de parentes, mesmo todos os familiares sabendo das agressões que as mulheres sofriam cotidianamente”, revela.

Durante a realização das entrevistas no Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes (CERMFL), no município de Campina Grande, Claudialyne conseguiu distinguir a história de três mulheres em atendimento.

“O Centro tem oito anos e a quantidade de mulher em situação de violência vem aumentando. Ao entrevistar as três mulheres, identificamos em suas falas elementos que demonstravam um fortalecimento emocional, mesmo passando por todas as situações de violência psicológica e física”, relata.

Por meio dos relatos das entrevistadas, a pesquisadora cruzou, a partir de dados disponibilizados pela Secretaria da Mulher, as histórias das mulheres com as políticas públicas de gênero desenvolvidas nacionalmente e aplicadas na Paraíba.

“Assim, conseguimos vislumbrar as duas pontas das políticas de gênero, que foram: as mulheres que passaram por situação de violência e a gestão que articula, estrutura e implementa as políticas”, comenta a pesquisadora.

Nesse cenário, Claudialyne Araújo notou que as necessidades são diversas, mas que a informação é um elemento primordial no processo de fortalecimento pessoal, psicológico e emocional.

“Quando as mulheres descobrem que existem lugares para orientá-las em procedimentos que desconheciam, elas se sentem fortalecidas. O empoderamento e o protagonismo são estruturas que se formam internamente, mas que são influenciadas pelo meio externo”, assegura.

Empoderamento e protagonismo

O empoderamento de mulheres é, explica Claudialyne, a conquista da autonomia e da autodeterminação. Trata-se de um instrumento que resulta na libertação das mulheres de amarras da opressão de gênero e do patriarcado.

Por sua vez, afirma a pesquisadora, o protagonismo social é um modo de existência que exige do indivíduo força e determinação para construir e buscar sentido em sua vida, deixando de lado uma posição de vítima e rompendo as condições adversas da vida social.

Nesse sentido, uma política de informação que satisfaça a necessidade informacional de mulheres que vivenciaram violência doméstica exige, reforça Claudialyne, procedimentos específicos de como as informações devem se vincular às realidades delas.

Políticas públicas

A pesquisadora argumenta que, desde a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2003, as políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres foram fortalecidas por meio da elaboração de conceitos, diretrizes e normas.

“A partir dos relatos das mulheres se percebe que as ações governamentais foram recebidas com êxito, pois elas reforçam a importância do Centro da Mulher em suas vidas”, reforça Claudialyne.

No entanto, a pesquisadora acredita que informações estratégicas, elaboradas a partir de dados previamente tratados e analisados, diretamente para atender demandas sociais das mulheres são essenciais na prevenção à violência de gênero.

“As políticas públicas de informação de gênero são elaboradas com foco na informação pensada para ressignificar o papel das mulheres na sociedade. Desconstruir padrões deterministas que diminuem a importância delas e que naturaliza a violência contra elas”, singulariza.

Para Claudialyne, as questões socioculturais devem ser repensadas e reestruturadas a partir de mudanças comportamentais. Essas transformações, segundo a pesquisadora, serão alcançadas apenas com informações sobre distinção de gênero cotidianamente introduzidas nos ambientes educacionais, profissionais e familiares.

“Quando as mulheres sentem que o Estado apoia políticas de acolhimento, de integração e de direitos pensados a partir de fragilidades expostas nas mais diversas situações, elas se sentem cidadãs com direitos e deveres iguais”, assevera.

Jonas Lucas Vieira | Ascom/UFPB