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Cientistas da UFPB desenvolvem pomada para controle de microrganismos na orofaringe
Cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveram uma pomada para controle de microrganismos na orofaringe, parte do corpo localizada atrás da cavidade oral, incluindo a base da língua, o palato mole, as amígdalas e a parte lateral e posterior da garganta.
A preparação farmacêutica tem micropartículas com o medicamento antimicrobiano sintético clorexidina, muito utilizado como antisséptico na desinfecção das mãos e da pele para cirurgia ou na prevenção de infecções. Um dos principais diferenciais do produto é a liberação lenta da clorexidina na cavidade bucal.
Nos experimentos realizados pelos pesquisadores da UFPB, a pomada apresentou uniformidade após o preparo, estabilidade durante 24 meses e perfil de liberação lenta e gradativa em um tempo aproximado de duas horas.
Nas análises de microscopia eletrônica, foi constatado que as micropartículas com clorexidina são compatíveis com a técnica de preparo da pomada por liofilização, tecnologia de secagem por meio da remoção da água através da sublimação. Análise química comprovou a incorporação da clorexidina às micropartículas. Já nas avaliações térmicas, foi observado uniformidade da clorexidina nas micropartículas e não houve absorção de umidade em 12 meses, o que evidencia a manutenção da estabilidade das micropartículas.
Do mesmo modo, nas investigações científicas por infravermelho, não se evidenciou mudanças nas características estruturais dos grupos funcionais dos componentes das micropartículas.
O estudo microbiológico bactericida e fungicida com cepas livres (planctônicas) e em biofilme (espécie de película protetora para comunidades microbianas viverem aderidas em superfícies) apresentou resultados semelhantes aos observados com a clorexidina livre, demonstrando que a clorexidina é liberada das micropartículas, mantendo as propriedades antimicrobianas tanto na ausência quanto na presença de saliva.
De acordo com a pesquisadora Michelline Cavalcanti Toscano de Brito, professora do Departamento de Odontologia Restauradora da UFPB e principal inventora do produto, os resultados microbiológicos semelhantes da pomada de micropartículas com clorexidina, em relação à clorexidina livre, indicam que a molécula de clorexidina não perdeu a sua atividade antimicrobiana durante o processo físico-químico de liofilização para o preparo das micropartículas.
“A pomada orabase preparada apresenta características farmacológicas satisfatórias e os testes microbiológicos mostraram atividade antimicrobiana para bactérias e fungos na forma livre (planctônica) e em biofilme maduro uniespécie”, ratifica a docente da UFPB.
Michelline Brito pontua que a atividade antimicrobiana da pomada orabase com efeitos de liberação lenta da clorexidina foi o esperado enquanto objetivo da pesquisa de ter uma forma farmacêutica nova com liberação gradual e lenta da clorexidina para uso na cavidade bucal.
Pomada orabase é uma forma farmacêutica semissólida para aplicação na mucosa bucal. Consiste na solução ou dispersão de um ou de mais princípios ativos em baixas proporções, em uma base não aquosa. As micropartículas com clorexidina, com testes farmacológicos e microbiológicos satisfatórios, foram consideradas um produto farmacêutico intermediário, podendo ser testado em diversas formas farmacêuticas.
A pesquisadora da UFPB alerta que foi verificada a oxidação da pomada de micropartículas com clorexidina e da pomada-controle com maltodextrina, após período de preparo de 30 dias. A maltodextrina é um carboidrato complexo produzido a partir da transformação enzimática do amido de milho e, nas micropartículas que compõem a pomada, funciona como excipiente para permitir a liberação lenta da clorexidina.
Ela explica que a clorexidina é uma molécula ativa que, na forma de sal (digluconato de clorexidina), torna-se mais estável e com ação antimicrobiana. “O digluconato de clorexidina possui características desinfetantes e antissépticas e é amplamente usado em produtos para a saúde humana e animal, tendo alta atividade com ação antimicrobiana, agindo contra bactérias, alguns fungos e vírus”, explica.
A pesquisa foi realizada nos Laboratórios Unificados de Desenvolvimento e Ensaios de Medicamentos e no Laboratório de Biologia Bucal do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB, no campus I, em João Pessoa, de maio 2017 a outubro 2019.
Todos os testes foram executados por Michelline Brito, enquanto discente do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos da UFPB. Os professores Fábio Sampaio, do Departamento de Clínica e Odontologia Social, e Fábio Souza, do Departamento de Farmácia, colaboraram como orientador e coorientador, respectivamente.
A pomada orabase com incorporação de micropartículas com clorexidina é uma inovação tecnológica registrada junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), em 27 de dezembro de 2018, como patente de invenção, sob o título “Pomada orabase com clorexidina antisséptico”.
Prevenção em UTI
Desenvolvido em três fases, o estudo que culminou no desenvolvimento da pomada partiu da problemática do controle do crescimento microbiano na cavidade bucal de pacientes internos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A ideia é a de que a pomada funcione como mecanismo de prevenção da pneumonia nosocomial, que se desenvolve durante a hospitalização e está fortemente associada à ventilação mecânica (intubação), método de suporte comumente utilizado nesta pandemia de Covid-19, em pacientes em estado grave da infecção.
De acordo com Michelline Brito, a clorexidina é considerada o padrão ouro quanto antisséptico bucal com ação fundamentada contra o crescimento de bactérias e fungos e o seu uso associado à remoção mecânica do biofilme dentário diminui a colonização por patógenos bucais e respiratórios que podem colonizar a cavidade bucal.
A pesquisa completa pode ser visualizada por meio deste link.