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Surdo

Caixa de Marabaixo s. f. ou caixa guerreira é um tipo de caixa artesanal. A caixa de marabaixo do estado do Amapá é feita com madeira cavada ou materiais recicláveis e é o principal instrumento que guia, dá ritmo e sonoridade na tradição do Marabaixo.
publicado: 10/10/2016 09h24, última modificação: 31/08/2022 08h23

Surdo, s. m. é um membranofone cilíndrico com grandes proporções, o que dá a característica marcante de um grave potente nas escolas de samba. Existem três tipos de surdos numa bateria de escola de samba: o primeiro é o de marcação, sendo o mais grave; o segundo é o de resposta, sendo um pouco menor e menos grave; e o terceiro é o cortador, o mais agudo dos três.

Na classificação formal podemos dizer que o surdo é um membranofone (2) percutido (2.1.) diretamente, (2.1.1.) tubular (2.1.1.2), cilíndrico (2.1.1.2.1), com dupla membrana (2.1.1.2.1.2.) tocado individualmente (2.1.1.2.1.2.1).

Mário de Andrade diz ser o surdo um instrumento de percussão, tambor pequeno da família dos atabaques. Arthur completa que o instrumento é utilizado no Rio de Janeiro e seu nome é provavelmente em função do seu som “surdo” que produz. (p. 482. 1989)

O surdo surge com os sambistas do bairro Estácio na área central do Rio de Janeiro, mais especificamente com o sambista e compositor Alcebíades Barcelos, o Bide. Foi no bloco carnavalesco “Deixa Falar” que o surdo foi utilizado pela primeira vez com seu grave marcante. Bide possuía habilidade com couro, por ser sapateiro, então com algumas latas de manteiga e couro de cabrito na produziu os primeiros surdos que viriam fazer a marcação do tempo forte do samba na avenida. Bide também integrou enquanto percussionista grupos formados por grandes músicos e de diferentes musicalidades como Pixinguinha e Benedito Lacerda (MACHADO, 2019).

Muitos creditam a criação do surdo ao Bide, inclusive ele próprio (Barcelos, 2015),  mas D'anunciação (2008) comenta também que o surdo sempre existiu nos folguedos da cultura popular. 

Acontece que Bide foi quem introduziu seu uso pensado e confeccionado para escola de samba e suas novas necessidades, como por exemplo sua utilização como referência sonora de grande alcance para sinalização da entrada do refrão:

O grupo de pessoas que acompanhavam o desfile [...] crescia a cada cortejo, assim era muito difícil para os participantes cada vez mais distantes dos instrumentos do bloco saber em que parte estava sendo cantado o samba, [...]. Criou-se então um código; toda vez que entrasse o surdo seria o refrão, momento em que todos cantariam juntos. (GUIMARÃES, 2018)

 

É preciso também falarmos sobre Tião Miquimba, da escola de samba “Mocidade Independente de Padre Miguel", o criador do surdo de terceira ou cortador. Na verdade,  “Mestre André” se motivou a construir um surdo só para Tião ao observá-lo tocando num surdo de marcação tradicional para diferenciar as batidas de primeira e segunda. Fonseca (2019) também nos conta que, ao ouvir as intenções de mestre André, Tião retrucou que este deveria ter proporções menores que dos outros surdos que já existiam. 

Assim como possuem nomes e tamanhos diferentes, os surdos também exercem funções específicas dentro da bateria da escola de samba. O surdo de marcação é executado no segundo pulso do andamento, o que dá a marcação referência para toda a escola de samba. O surdo de resposta marca o primeiro pulso do andamento e o surdo cortador faz marcações sincopadas e de ritmos mais complexos, preenchendo os pulsos marcados pelos outros dois (GUIMARÃES, 2018). Para a execução é necessário um talabarte, uma tira de couro ou nylon, que serve para pendurar o instrumento no ombro, facilitando para deixar as mãos livres: uma para o toque com a baqueta e outra para abafar.

A variedade de toques no instrumento abre a possibilidade de interpretar o surdo como um instrumento híbrido, membranofone e idiofone, pois com a baqueta é possível e comum tocar com o cabo no aro do surdo, gerando um som mais agudo e repenicado, o que proporciona um swing a mais evidenciando a marcação do pulso.



Referências:

ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro. Coord. Oneyda Alvarenga, 1982-84, Flávia Camargo Toni, 1984-89. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: Ministério da Cultura; São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Universidade de São Paulo, 1989.

BARCELOS, Alcebíades; VERDADEIRO, Samba. Depoimento do Bide Inventor do Surdo (Áudio Original). 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jAbkgq2Id_k. Acesso em: 09 fev. 2022.

BARSALINI, Leandro. Sobre baterias e tamborins: as jazz bands e a batucada de samba. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 70, p. 59-77, ago. 2018.

D’ANUNCIAÇÃO. Luiz. Melódica Percussiva. Normas de concepção para escrita dos instrumentos populares brasileiros da percussão com som de altura indeterminada. Volume V, Caderno I. Rio de Janeiro: Melódica Percussiva, 2008. 

FONSECA, Eduardo. A Mocidade presta homenagem ao criador do surdo de terceira Tião Miquimba. 2019. Disponível em: https://www.carnavalesco.com.br/mocidade-presta-homenagem-a-criador-do-surdo-de-terceira-tiao-miquimba/. Acesso em: 02 jan. 2022.

GUIMARÃES, Luiz Augusto Lima. Proposta pedagógica ao ensino dos instrumentos de percussão da roda de samba a partir dos estudos de melódica percussiva de luiz d'anunciação. 2018. Disponível em: http://www.domain.adm.br/dem/licenciatura/monografia/luizguimaraes.pdf. Acesso em: 15 fev. 2022.

MACHADO, Gabriela de Melo. Choro-sambado: reflexões sobre os aspectos rítmicos e suas repercussões melódicas. in: Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. 29., 2019, Pelotas. Anais eletrônicos [...] Pelotas: editora, 2019. Disponível em: https://anppom.org.br/anais/anaiscongresso_anppom_2019/5977/public/5977-20681-1-PB.pdf. Acesso em: 21 fev.

 

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