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Atabaque

Termo genérico para vários tambores cônicos abertos e de membrana simples, sendo assim classificado como 2.1.1.2.5. No Brasil, similar à conga afro-cubana em suas formas e usos.
publicado: 12/09/2016 09h55, última modificação: 05/11/2018 10h35
Exibir carrossel de imagens Imagem de um atabaque (Foto: capoeiraaltoastral¹)

Imagem de um atabaque (Foto: capoeiraaltoastral¹)

Atabaque s.m. Termo genérico para vários tambores cônicos abertos e de membrana simples, sendo assim classificado como 2.1.1.2.5. No Brasil, similar à conga afro-cubana em suas formas e usos. O atabaque artesanal, com corpo feito de madeira (as vezes de jacaranda) e coberto com pele de cabra ou bezerro. Ele poderá ser constituído numa forma cilíndrica, normalmente, um acordo entre a forma cônica e a de barril e, as vezes, pode comportar uma base em forma de ampulheta. Nos atabaques de cunha, a pele de cabra é fixada por um aro de ferro colocado por cordas até um aro perto do meio do corpo. O aro está preso no corpo por pedaços de madeira chamadas de cunhas, usadas para apertar ou afrouxar a pele e mudar a afinação (ver Melo 2011). Alguns tambores modernos usam parafusos afinadores de metal.

Segundo Béhague, o atabaque é tocado ou com baquetas, com uma mão e uma baqueta ou, principalmente com as mãos apenas, dependendo de grupos particulares religiosos ou repertório de músicas. A música com tambores é usada principalmente em danças de rituais e para chamar os deuses, induzindo possessões de espíritos. Nos ritos de religiões afro-brasileiras, os atabaques são geralmente tocados em grupos de três, cada um com um tamanho diferente. Nos rituais do candomblé baiano e em outras partes do Nordeste, eles são conhecidos como rum (maior), rumpi, e (menor; ver ilustração). Melo observa que apenas esses tambores que foram batizados ou submetidos a um ritual de consagração — em honra a um orixá, orin ou “encantado” (divindades)  específico — podem ser tocados nos rituais. Os tocadores alabês também são batizados, mas não entram em transe durante a execução dos ritmos. Na retomada da chamada e músicas de reação, lidera inicialmente à capella por ogans, os atabaques, agogô, adjás e mãos batendo palmas, são tocadas em ordem para convocar os orixás. O repertório é composto por hinos relacionados às plantas sagradas, sacrifício, oferendas e para “baixar” e “tirar o santo”. 

Alvarenga indica que o atabaque provavelmente foi trazido pelos sudaneses ou bantus, e os tambores usados em rituais de Yoruba, são chamados ilu (maior), bata-cotô (médio), e batá (menor). No candomblé de caboclo, o atabaque é chamado de roncó; no Rio de Janeiro, surdo; e no Rio Grande do Norte, chama. Nomes adicionais para atabaques maiores, medindo entre 1,5 m e 2 m de altura, incluem ingono, engoma, ingomba, ngomba, angomba, angomba-do-congo, ingome, engomo, pai-toco, pai-joçao, angona-puíta, carimbó — na dança do carimbó e no ritual do batuque no Pará — guanazamba, tambu — no círculo de dança do jongo e batuque de São Paulo e região sudeste — e caxambu. Atabaques de tamanho médio, medindo entre 1 m e 1,5 m  de altura são chamados: joana, angona, candongueiro — no jongo e batuque de São Paulo — sangavira, quinjengue, mulemba. Os tambores menores são chamados gonguê, mangonguê, perenga (Goiás e Mato Grosso), surdo, pequenino, cadete, guzunga, chama-de-puíta, e biritador (Cascudo).  

O uso do atabaque é disseminado internacionalmente através da popular capoeira, onde é tocado junto com berimbaus, pandeiro, agogô e reco-reco. Os instrumentos acompanham músicas com referências ao candomblé, ou episódios da história da escravidão. Considerada como jogo ou como dança, a capoeira é composta por mais de quarenta golpes ou formas virtuosos e maliciosos, que podem ser ofensivos ou defensivos. Para acompanhar o samba de roda — uma dança de roda do Nordeste, especialmente da Bahia, que simula uma disputa de duplas com músicas de chamadas e respostas — o atabaque é usado com pandeiro, agogô, prato, faca e as vezes, berimbau, violão e banjo. Em certas congadas (danças dramáticas, ou bailados com cenas de conversão) em São Paulo, o atabaque é tocado com os membranofones: adufe, pandeiro e a zabumba. (Béhague; Alvarenga).

Vídeo com exemplos de 15 toques de atabaque (Melo, 2011):

https://www.youtube.com/watch?v=J16C1jfEqYc

Gerard Béhague / Alice L. Satomi

Tradução: Gabriel da Rosa Seixas

Referências

L. C. Cascudo. “Atabaque”. In: Dicionário do Folclore Brasileiro. 9th ed. (Rio de Janeiro, 2000).

O. Alvarenga et al. “Atabaque”. In: Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. (São Paulo, 1977).

G. Béhague. Musiques du Brésil: de la cantoria a la samba-reggae (Paris, 1999).

R. S. Melo. A tradição juremeira e suas relações com os rituais de candomblé e umbanda na casa Ilê Axé Xangô Agodô. (João Pessoa, 2011).

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¹ Disponível em: <https://capoeiraaltoastral.wordpress.com/sobre-capoeira/o-atabaque/> Acesso em: 12 set 2016

² Disponível em: <http://filhoscomfe.blogspot.com.br/2011/05/ogan-e-atabaques-rum-rumpi-le.html> Acesso em: 12 set 2016