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O sistema de digitações de Willian G. Leavitt

Conheça Um dos primeiros autores que nortearam alguns fundamentos na perspectiva do processo de ensino formal da guitarra elétrica
publicado: 24/03/2024 10h50, última modificação: 24/03/2024 10h50

CONHECENDO WILLIAM G. LEAVITT

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Um dos primeiros autores que nortearam alguns fundamentos na perspectiva do processo de ensino formal da guitarra elétrica, em relação à produção e organização de uma metodologia de ensino sistemática, foi o norte-americano William George Leavitt, conhecido como Bill Leavit, que nos apresenta um sistema de entendimento do braço da guitarra elétrica “por posição”, conceito que iremos abordar mais à frente neste texto. 

William G. Leavitt, nasceu em 04 de outubro de 1926 e desencarnou em 04 de novembro de 1990, foi professor, guitarrista e arranjador de jazz, mas se tornou mundialmente conhecido pelos seus livros. Estes livros se tornaram base para o programa de guitarra elétrica da Berklee College of music (localizada na cidade de Boston, estado de Massachusetts). No período de sua docência, e até hoje, estes livros estão entre os mais importantes para a bibliografia da guitarra elétrica em todo mundo. A Berklee também foi uma instituição pioneira na elaboração de cursos de bacharelado em música popular a partir de sua fundação no ano de 1945. Em relação ao ensino superior em guitarra elétrica, também é creditado o pioneirismo à Berklee College of Music.

Nesta universidade, na fase inicial dos cursos de música popular, os professores procuravam adaptar materiais da música erudita para o ensino dos instrumentos com o viés e as peculiaridades da música popular, elaborando novos materiais didáticos para suprir as necessidades da implementação da música popular em seu currículo. 

O primeiro guitarrista a assumir a cadeira de guitarra elétrica no Berklee College of Music foi Jack Leroy Petersen, entre os anos de 1962 e 1965. Leavitt iniciou seus estudos acadêmicos no Berklee College of Music em 1948, tendo se graduado em 1951. Em 1965 foi-lhe oferecida a cadeira de guitarra elétrica da instituição, quando ele começou a desenvolver seus métodos de guitarra, que se tornaram mundialmente conhecidos. 

Os estudos dos cursos de música popular no Berklee College of Music, e especificamente de guitarra elétrica, neste período inicial, eram direcionados principalmente ao jazz. Com a expansão do ensino em música popular nos Estados Unidos e em outras regiões do globo, outras vertentes da música popular foram sendo admitidas pelas universidades, e hoje podemos ver diversos cursos na área de produção de música pop, culturas étnicas, e uma possibilidade de abrangência de abordagens de diversos outros gêneros, apesar de o jazz ainda se manter como a maior influência metodológica dentro do contexto acadêmico do ensino da guitarra elétrica no mundo. 

 

Em 1948, William Leavitt foi o terceiro aluno que tocava guitarra a ser aceito na Berklee, se formando em 1951. Em 1965, foi lhe oferecido o cargo de chefe para organizar o então recém-criado departamento de guitarra da própria Berklee e começou a escrever os três volumes do “A Modern Method For Guitar” e os livros associados. Parte do material do livro foi inspirado e recebeu contribuição do colega educador e guitarrista Jack Peterson (Birch, 2013).  William Leavitt é considerado o pioneiro no estudo de guitarra elétrica com o uso de palheta no ensino superior. O seu método estabelece uma base sólida em termos de leitura, técnica e harmonia. O objetivo era treinar um guitarrista nas habilidades consideradas fundamentais, não sendo um estudo que treinaria para desenvolver a técnica de um estilo musical definido, como jazz ou rock (Birch, 2013, APUD ZAFANI, 2014, p. 33).

 

Willian G. Leavitt foi um guitarrista, professor de guitarra e arranjador de Jazz norte americano, mas se destacou muito por seus livros e por ocupar a cadeira de professor de guitarra elétrica da Berklee College o f Music de 1965 a 1990, tendo uma influência profunda no currículo de guitarra desta instituição, e consequentemente, expandindo-se para outros horizontes. 

Sua visão de formação do guitarrista é apresentada basicamente em seus três volumes do “A Modern Method for Guitar”. Os métodos de Leavitt (com exceção do “Classical Studies for Pick-Style Guitar”) foram todos desenvolvidos com estudos e repertório originais, onde são abordados conteúdos de melodia (escalas e arpejos), harmonia (acordes, condução de vozes e funcionalidade), improvisação, técnica, palhetada, repertório, estudos de leitura à primeira vista e estudos de “levadas rítmicas” para mão direita, entre outros, bem como, dá subsídios ao estudante para a prática de improvisação (apesar de não trabalhar este tópico evidentemente ou diretamente) a partir dos conceitos trabalhados em seus livros e do aprofundamento do conhecimento das possibilidades de digitação pelo braço da guitarra elétrica.

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Foto: capa do volume único do “A Modern Method for Guitar” (W. Leavitt).

 

A escolha pelos métodos do autor para servir de base e inspiração para uma observação mais criteriosa se deu devido ao entendimento da importância desta escola metodológica para a área da guitarra elétrica em nível global e de sua influência, bem como pela constatação de uma escassa bibliografia no Brasil que reflita sobre esta produção, que traz como base um conceito bem elaborado de estudo por posição, que também pode servir como ponto de referência terminológico central para a compreensão de diversas outras metodologias ou sistemas de digitação. 

Pela sua ampla abrangência consideramos uma abordagem significativa, no sentido do reconhecimento do braço do instrumento, e que, este sistema, dentro de si, pode subsidiar outras possibilidades de entendimento de sistemas de digitação na guitarra elétrica.

 

Um dos grandes problemas a serem dominados pelo professor de guitarra é conhecer o objetivo metodológico do método utilizado por ele. A maioria desenvolve seu trabalho como professor, onde segue os estudos e exercícios do livro, sem traduzir, ao aluno, sua significação e representação, como objeto teórico/prático pedagógico, não conseguindo resultados satisfatórios (PACHECO, 2005, p. 04).

 

Muitos métodos e livros atuais trabalham com uma boa variedade de recursos, como o (1) uso de diagramas do braço da guitarra associado às partituras ou tablaturas e textos; (2) gravações com playbacks para a prática dos assuntos em contextos técnicos, práticos e de improvisação; (3) exercícios propostos e explicação dos conteúdos abordados em vídeo-aulas associadas; (4) criação de grupos em redes sociais e salas de aulas virtuais para estimular reflexões e facilitar a comunicação entre o professor/autor e estudantes, etc. 

Todos estes recursos citados, em uso atualmente, e muitos outros que estão disponíveis, também podem auxiliar o trabalho de sala de aula do professor de música, além de proporcionar acesso mais facilitado a todos os estudantes interessados no material que vem ser utilizado.

Este texto visa trazer uma reflexão a partir de uma experiência pessoal desenvolvida em nosso estudo e com a experiência de ensino que temos com estudantes de guitarra elétrica que instruímos com o uso desta filosofia de ensino, entre outras que, naturalmente, são trabalhadas paralelamente.

 

O CONCEITO CENTRAL

 

William G. Leavitt, em seus volumes do “A Modern Method For Guitar” trabalha o conceito de “posicion playing”, que podemos traduzir como “tocando por posição”, se referindo à localização da mão esquerda no braço do instrumento e às suas diversas possibilidades de digitação. 

A posição básica em que está localizada a mão esquerda no braço é centrada na disposição dos dedos 1, 2, 3 e 4, sendo caracterizada por estes estarem localizados naturalmente em casas vizinhas. Desta maneira, pode-se determinar a posição pela localização do dedo 1 no braço quando todos os dedos estão dispostos em casas vizinhas. Por exemplo, dedo 1 na primeira casa, primeira posição, dedo 1 na quinta casa, quinta posição, e assim por diante. No entanto, existem três variações desta postura básica da mão esquerda, devido ao uso de aberturas dos dedos 1 e 4, sem que haja mudança de posição. 

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Segunda posição (disposição natural dos dedos em casas vizinhas).

A primeira variação é a abertura do dedo 1, mantendo os dedos 2, 3 e 4 em casas vizinhas; a segunda variação é a abertura do dedo 4, ficando os dedos 1, 2 e 3 em casas vizinhas; a terceira variação é a abertura de ambos os dedos, 1 e 4, ficando os dedos 2 e 3 em casas vizinhas. 

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Segunda posição (abertura do dedo 1).

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Segunda posição (abertura do dedo 4).

 

Nestes casos de abertura, para exata determinação da posição, tomamos como base o dedo 2, da seguinte maneira: na casa que o dedo 2 estiver, a posição é determinada em uma casa anterior. Por exemplo, dedo 2 na quarta casa, terceira posição, dedo 2 na décima terceira casa, décima segunda posição, e assim por diante. 

Esta forma de localizar a posição pela localização do dedo 2 é mais segura, e também serve, naturalmente, para a posição natural, com todos os dedos posicionados em casas vizinhas (já que nenhuma destas variações trabalha com abertura do dedo 2). Desta forma, usamos como referência principal para a determinação da posição, a localização do dedo 2. Na casa que o dedo 2 estiver, subtraímos uma e aí está a nossa posição.

Dentro de nossa perspectiva pedagógica, procuramos manter e desenvolver o conceito de estudo de guitarra elétrica por posição, como é apresentado por William G. Leavitt nos três volumes da obra “A Modern Method For Guitar”, que se apresentam em níveis básico, intermediário e avançado, respectivamente.  A partir desta concepção de estudo e digitações verticalizadas no braço do instrumento, também nos propomos a refletir a respeito de mecanismos de movimentação diagonal e horizontal pelo braço, em relação às direcionalidades do movimento da mão esquerda, através de soluções de mudanças de posição em arpejos e escalas. 

Posso sintetizar os passos para alcançar os objetivos propostos para execução desta abordagem nos seguintes pontos gerais:

 

  • Leitura e prática integral dos exercícios propostos nos três volumes “ A Modern Method for guitar”, para obter um conhecimento prático e abrangente da proposta do autor
  • Posterior separação de todo material dos três volumes em alguns tópicos básicos, tais como: 1- Escalas; 2- Arpejos, 3- Acordes e Harmonia, 4- Guitarra rítmica, etc, para entender a progressão do desenvolvimento dos estudos em cada um destes tópicos no decorrer dos volumes. 
  • Observação e levantamento das particularidades de cada digitação proposta pelo autor, visualizando facilidades e possíveis dificuldades. 
  • Ideias para possibilidades de aplicação e adaptação de diferentes técnicas de palhetada nos padrões de digitação dos exercícios propostos, utilizando principalmente as possibilidades de palhetada alternada e palhetada varrida (Sweep Picking), entre outras, de acordo com a prática do estudante.
  • Outro ponto fundamental é a organização de um conjunto de exercícios de base que favoreçam a prática da técnica necessária para uma boa execução, melhor desenvolvimento e compreensão deste sistema de padrões de digitação das escalas, arpejos e acordes propostos, associado a práticas pedagógicas que favoreçam o uso prático deste sistema.

 

A IMPORTÂNCIA DE SUA METODOLOGIA

 

Estes volumes que estamos abordando neste texto foram criados com o intuito de fundamentar o ensino de Guitarra Elétrica no Berklee College of Music, no período inicial de sua implantação, quando o professor William Leavitt assume a cadeira de guitarra elétrica desta instituição, mas também são de fundamental importância estes outros métodos lançados pelo mesmo autor, como o “Reading Studies for Guitar”, “Advanced Reading Studies for Guitar”, “Melodic Rhythms for Guitar”, “Classical Studies for Pick-Style Guitar”, “Beklee basic guitar: phase 1”, e “Berklee Basic Guitar: phase 2”. 

Estes métodos são basilares para se compreender o caminho traçado inicialmente pelo ensino de instrumento guitarra elétrica em contexto acadêmico, por terem sido utilizados no primeiro curso superior de guitarra elétrica que se tem conhecimento. Foram fundamentados com base em metodologias clássicas de ensino de instrumentos tradicionais e da música erudita. “Apesar de tratar de técnicas e posições específicas da guitarra elétrica, seu material possui forte apelo à leitura musical tradicional (partitura, pentagrama) ” (GARCIA, 2011, p. 51).

Todos estes livros do autor podem ser considerados referência mundial em termos de estudo e ensino da guitarra elétrica, se complementam e dialogam entre si. No entanto, aparentemente ainda não existe no mercado brasileiro um material que trabalhe ou traga reflexões mais aprofundadas a partir deste ponto de vista das doze posições ou doze digitações por posição (posicion playing), que é a sua proposta mais aprofundada de estudo dos caminhos de digitação pelo braço do instrumento que o autor apresenta. 

A grande parte dos métodos e livros encontrados em minha revisão bibliográfica, escritos por autores brasileiros, focam no sistema 5 (de cinco padrões de digitação) ou CAGED, que é um sistema simplificado, bem como no sistema de sete padrões de digitação que usam três notas por corda, ou outros sistemas que também compreendem sete digitações.

Utilizamos este conceito de posição apresentado por William Leavitt para abordar todos os sistemas de digitações que conhecemos, como o sistema 5 (CAGED) e os sistemas 7 (de sete digitações pelo braço). Os mais populares sistemas que trabalham com sete digitações focam em digitações diagonais com três notas por corda e também em possibilidades de organização do estudo das digitações de forma mais verticalizada, em sete modelos de digitação numa mesma posição ou numa mesma região com pequenas mudanças de posição para se evitar abertura dos dedos da mão esquerda. Mesmo nas aplicações mais horizontalizadas, que utilizam um conjunto mais restrito de cordas para o desenvolvimento das digitações de escalas e arpejos (consequentemente, gerando mudanças frequentes de posição), pensamos dentro deste conceito apresentado por Leavitt para um melhor entendimento do caminhar pelo braço. 

O sistema de digitação proposto por William Leavitt trabalha basicamente com digitações respeitando uma mesma posição, utilizando, para isto, além do posicionamento padrão e natural dos dedos da mão esquerda na posição, com estes posicionados em casas vizinhas, as possibilidades de aberturas dos dedos 1 e 4 da mão esquerda (ou de ambos os dedos em algumas digitações). Nestes outros sistemas com 5 e 7 digitações percorrendo o braço do instrumento, as quais foram citados anteriormente, também é comum observarmos digitações com mudanças de posição, trabalhando-se com posições vizinhas compreendendo uma determinada região em seus desenhos ou modelos padrões. 

Para amadurecermos nossa compreensão do sistema de doze posições proposto por Leavitt em seu terceiro volume da série “A Modern Method For Guitar”, procuramos desenvolver uma observação crítica a respeito dos três volumes, em relação a como ele vem apresentando gradativamente os fundamentos deste conceito, trabalhando inicialmente com cinco digitações nos primeiros volumes e posteriormente ampliado para doze digitações no volume terceiro. Neste movimento, podemos fazer observações e levantamento de vantagens e possíveis desvantagens da maneira como são tratados os assuntos pelo sistema de estudo por posição e pelo sistema de doze digitações, a partir de reflexões de experiências pessoais práticas e de aplicação desta proposta em experiências de ensino. 

Esta construção tem como base uma observação minuciosa de como este assunto é tratado nos métodos citados, que nos deram a base de compreensão do que reconhecemos como as digitações que cada posição contém em seus diversos desenhos pelo braço da guitarra. 

Focamos nossa atenção na abordagem de estudo do instrumento pelo reconhecimento e prática sistemática das possibilidades de digitação de escalas, acordes e arpejos em cada posição no braço da guitarra, denominada pelo autor de “posicion playing”, dando igual importância a cada uma das doze digitações geradas por este sistema, até a repetição dos padrões de digitação a partir de uma nova oitava de cada digitação de escala ou arpejo praticadas. 

Também procuramos contemplar as peculiaridades da primeira posição aberta, ou seja, da primeira posição com uso de cordas soltas. 

 

UM POUCO MAIS A RESPEITO DE SUA CONTRIBUIÇÃO

 

Podemos imaginar como se deram os primeiros passos na sistematização do ensino da música popular e dos instrumentos que antes não tinham uma escola específica, como é o caso da guitarra elétrica, um jovem instrumento, com cerca de trinta anos, quando os esforços de William Leavitt para trazer uma metodologia consistente de ensino culminaram no material que este produziu, trazendo uma fundamentação bibliográfica para o ensino da guitarra elétrica dentro da academia. 

A referência que estes pioneiros do ensino da guitarra elétrica tinham, eram dos métodos de ensino instrumental da música de concerto, já consolidados por séculos de experiência e publicações. Sempre que algo traz uma inovação, é necessária uma base para que esta inovação se estabeleça, base trazida invariavelmente pela ancestralidade, pelas experiências que já foram vividas, e neste caso do ensino de um instrumento tão jovem e tão diferenciado dos instrumentos tradicionais, pelo fato de ser eletrificado, a base veio dos métodos tradicionais de outros instrumentos, que já existiam anteriormente como escola sedimentada, trazendo inspiração para a criação de uma metodologia posteriormente emancipada de ensino gradual para a guitarra elétrica.

 

William Leavitt, editou vários livros, entre os quais, “A modern Method for guitar”, em três volumes, compreendendo um grande número de matérias, desde os princípios básicos até temas mais aprofundados, como o reconhecimento das posições de um número variado de escalas e acordes. Cada tópico é acompanhado por uma sequência de exercícios para o desenvolvimento rítmico, melódico e harmônico, além de pequenas peças envolvendo uma ou mais guitarras. Pode-se até dizer que esta série de volumes se tornou um item praticamente obrigatório para o ensino do instrumento, pois houve a preocupação em formular uma base literária sólida para uma linguagem historicamente nova, emergente da pura intuição e destreza natural de seus pioneiros, e que precisava ser sistematizada (MEDEIROS FILHO, 2002, p. 13)

 

Estes métodos de Wiliian G. Leavitt, tem uma proposta didática ampla, apesar de vermos bastante utilizados direcionado ao jazz, podemos entender que sua proposta de estudo do instrumento pode abrir-se para diversas vertentes, pois o autor procura dar ao instrumentista as ferramentas necessárias para ele se desenvolver em qualquer estilo. Em sua proposta de trabalho, nos três volumes dos livros “A modern method for guitar”, o autor não trabalha com fraseados pré-estabelecidos ou característicos de um gênero ou outro, mas sim, com o mapeamento do braço, posição a posição. 

O volume 1 do “Modern Method For Guitar”, está organizado em duas sessões, a primeira sessão lida exclusivamente com a primeira posição aberta, ou seja, com a mão localizada próximo à pestana da guitarra, com os dedos 1, 2, 3 e 4 tocando respectivamente as notas das casas 1, 2, 3 e 4, priorizando o uso de cordas soltas. Na segunda sessão são apresentados cinco modelos de digitação de escalas maiores, sempre em exercícios onde é preciso ler as notas na partitura para o aprendizado da digitação. Estes modelos podem ser usados em cada uma das demais posições do braço, pois são modelos móveis. 

O trabalho, nesta segunda sessão do volume 1, é feito com exercícios nas segunda, terceira e quarta posições, privilegiando-se as escalas de cada posição que podem ser executadas com os cinco modelos básicos de digitação apresentados. É importante frisar que cada um destes modelos é executado dentro de uma mesma posição, sem mudança alguma de posição em cada modelo, mantendo a mão esquerda preferencialmente fixa na posição, podendo haver apenas os movimentos de abertura dos dedos 1 ou 4 da mão esquerda para alcançar as notas da escala ou arpejo. Estes modelos de digitação são, por conseguinte, verticalizados ou verticais. 

Em todos os livros da série “Modern Method For Guitar” os assuntos são apresentados numa sequência progressiva de dificuldade, e também são trabalhados diversos assuntos a cada grupo de páginas, ou seja, não há um foco específico por assunto. Por exemplo, no volume 1, temos nas páginas 60 e 61, exercícios de escala, seguidos por exercícios de arpejo na página 61, acordes na página 62, um dueto na página 63 e estudos de leitura à primeira vista na página 64. Todo o método segue nesta maneira de organização, variando apenas a sequência dos temas abordados apresentados em grau de dificuldade crescente. 

Na maneira que organizamos os conteúdos, baseados no sistema de posições, após uma leitura completa dos volumes, também sugerimos organizar e trabalhar os assuntos por tópicos específicos, como em cadernos separados, determinando alguns temas gerais, como por exemplo, escalas, arpejos, acordes, repertório e guitarra rítmica, entre outros. Cada um destes temas gerais pode ser estudado em diversos focos, tendo como eixo o sistema de estudo por posição e posteriormente o sistema de doze posições gerado por este. Queremos reforçar que mesmo quando tratamos de outros sistemas de digitação, também nos baseamos no conceito de localização da mão esquerda neste sistema apresentado por Leavitt para localizar e nomear as posições das digitações. 

Em nossa abordagem didática, sob influência dos caminhos propostos pelo autor, mas já assimilando e incluindo outras experiências pessoais, inicialmente, trabalhamos com a proposição de exercícios de base, criados e desenvolvidos especificamente para se ter maior consciência da posição em que está tocando e para aprimoramento técnico, associando sempre a parte mecânica estudada com o desenvolvimento do viés criativo em contextos de criação musical, interpretação, improvisação e composição.

 Pessoalmente, em nosso trabalho, as escalas são observadas inicialmente em suas digitações verticais, primordialmente em cinco modelos básicos de digitação por posição ou com pequenas mudanças de posição em uma mesma região, e depois expandidas para sete modelos básicos, expandindo mais uma vez para doze modelos em um aprofundamento do reconhecimento das possibilidades de digitação pelo braço. Também costumamos apresentar modelos com mudança de posição para adaptação das digitações anteriores, de maneira que não se digite com abertura de dedos, mas sim com a opção da movimentação da mão esquerda para uma posição vizinha acima ou abaixo da posição original, tocando posições vizinhas para se manter numa mesma região. Outros modelos que trabalhamos são os que se estruturam com mudança de posição e se apresentam com direcionamento diagonal pelo braço, devido seus padrões de três ou quatro notas por corda. 

Independente do sistema de digitação, a abordagem sempre é feita dentro da perspectiva da localização de cada posição da mão esquerda e de seus dedos, da maneira como é conceituado por Leavitt. Mesmo quando a digitação abrange mais de uma posição, trabalhamos o entendimento de onde a mão está localizada, se há abertura de dedos e outros aspectos que nos deixem conscientes da localização da mão esquerda no braço do instrumento. 

É no volume 2 do método que o autor começa a trabalhar as digitações caminhando todo o braço, abrindo a perspectiva horizontal do estudo de reconhecimento a partir das digitações verticais. As digitações verticalizadas por posição se mantém, no entanto, são estudados mecanismos de mudanças para posições vizinhas, dentro dos mesmos padrões de digitação de escalas estudados no volume 1. 

O sistema de doze posições é apresentado apenas no volume 3 do método, para o guitarrista em nível mais avançado, pois algumas digitações são de difícil execução, como aquelas que exercitam a abertura do dedo 4, principalmente no início do estudo deste sistema mais ampliado. As maiores dificuldades em digitações que nós encontramos nas proposições de Leavitt são aquelas que trabalham com a abertura do dedo 4 da mão esquerda, as quais também podem ser substituídas por outras soluções de digitação na mesma região, normalmente, através de pequenas mudanças de posição. 

Este sistema de doze posições é assim denominado por mim, adaptando o termo posicion playng cunhado por Leavitt, devido ao fato de oferecer a possibilidade de digitar cada escala ou arpejo no instrumento de doze maneiras diferentes, em doze posições diferentes, com o uso das fôrmas ou desenhos de digitação que trabalham a posição natural dos dedos da mão esquerda no braço ou de suas possibilidades de abertura dos dedos 1 e 4. 

A partir desta perspectiva, somam-se ainda as possibilidades da primeira posição aberta, ou seja, com uso de cordas soltas, que formam padrões inerentes a esta posição. Podemos considerar esta maneira de pensar o instrumento, reconhecendo-se cada posição, um recurso que faz parte de seu idioma, devido a maneira que é construído o instrumento.

O verbete “idiomático” (idiomatic), no The new Havard dictionary of music, explica que idiomatismo significa “exploração das capacidades particulares do instrumento. Estas capacidades podem incluir timbres, registros e meios de articulação, como também combinações de alturas que são mais facilmente produzidas em um instrumento do que em outro (Randel, 1986 APUD VASCONCELOS, 2003, p. 80). 

Neste nosso estudo, observamos como as qualidades idiomáticas da guitarra elétrica em relação ao sistema de digitação por localização da posição podem contribuir na formação do instrumentista, dando-lhe uma visão mais ampla do braço do instrumento e de comunicação de suas possibilidades, bem como das maneiras de se caminhar por este, entre formações de escalas, arpejos e acordes.

Para finalizar nosso texto, compartilhamos esta composição de John Grady e William Leavitt, denominada "My Baby's Coming Home", popular na época de seu lançamento e interpretada aqui por Les Paul e Mary Ford,  lançado como lado A de um single em vinyl 7'' e 45 RPM pela capitol (2265) em 1952 (o lado B continha uma interpretação instrumental de Les Paul da música "Lady of Spain", de Erell Reaves e Tolchard Evans). Esta interpretação foi uma das quais Les Paul e Mary Ford alcançaram o Top 10 do Pop Charts norte americano durante a década de 1950:

 

My Baby's coming Home

 

MU BABY'S COMING.jpg

BIBLIOGRAFIA

 

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GARCIA, Marcos da Rosa. Ensino e aprendizagem de guitarra em espaços músico- educacionais  diversos  de  João Pessoa. Orientador: Luis Ricardo Silva Queiroz. Dissertação (Mestrado em Música). João Pessoa, 2011.

LEAVITT, William G. – A Modern Method For Guitar Vol. I. Boston: Berklee Press Publications, 1966.

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LEAVITT, William G. – Melodic Rhythms for Guitar. Boston: Berklee Press Publications, 1969.

LEAVITT, William G. – Reading Studies For Guitar. Boston: Berklee Press Publications, 1979.

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MEDEIROS FILHO, João Barreto de. Guitarra elétrica: um método para o estudo do aspecto criativo de melodias aplicadas às escalas modais de improvisação jazzística. Dissertação de mestrado, Campinas (UNICAMP), Instituto de Artes, SP, 2002.

PACHECO, Fernando. Tradução intersemiótica no ensino superior de guitarra elétrica no Brasil. Anais... XIV Encontro Anual da ABEM. Belo Horizonte. Outubro. 2005.

VASCONCELOS, Marcus André Varela. Recursos Idiomáticos em Scordaturas na Criação do Repertório para Violão". Autor. Dissertação de mestrado. Orientador: Marcos Siqueira Cavalcante, Unicamp, 2003.

ZAFANI, Jose Tadeu Dutra Zafani. “Ensino de guitarra e violão: uma construção social e pessoal”. Dissertação (mestrado), Orientador: Jorge Luiz Schroeder, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, SP, 2014.