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Preaca (Flecha de índio)
Preaca s.f. Conhecido como flecha, ou arco, segundo Guerra Peixe (1966: 139). O termo preaca é empregado em Pernambuco e, na Paraíba, é conhecida como Flecha de índio. Conforme a segunda e terceira designação, o idiofone é constituído de “arco e flecha de madeira Quiriri (Cordia Goeldiana) ou Imbiri (Esterhazya esplendida)”. Embora, nos dias atuais o tamanho seja menor e variado vale o registro de Guerra Peixe, que descreve a estrutura e o modo de tocar.
Compõem-se das seguintes partes: ‘preaca’, o arco que mede 80 cm [de comprimento], 4 cm de largura e 5 mm de espessura; ‘lança’ ou ‘espigão’, a flecha, medindo 40 cm; ‘batedor’, o suporte que reforça o lugar onde a lança percute quando solta, [...] com 12 cm; e ‘ponteira’ ou ‘cordel’, a corda de fabricação ponteira, de onde lhe vem o nome, que ao todo mede mais de 3 metros, a fim de dar diversas voltas por entre os extremos da preaca. É apertada até ser obtida a pressão necessária para impulsionar a lança (Guerra Peixe, id.)
Como não há uma categoria específica na classificação do MIMO para idiofone percutido indiretamente, sugerimos que seja adicionado um quarto item 112.4 cuja especificação no modo de extração sonora poderia ser denominado de “estalejado”, pois o é som produzido de forma breve e seca por objeto que vibra, a partir de um impulso. O volume varia conforme a tensão desse impulso ao estirar a flecha no arco. Anteriormente, como segue o princípio do arco e flecha, consideramos que o modo de tocar apresenta um gestual semelhante ao de uma "flechada" ou "estilingada".
O instrumento é utilizado como adereço da dança em manifestações religiosas ou seculares. No primeiro caso, durante o toque de Oxossi, num dos ritos do candomblé de origem africana ou afro-indígena, como a Jurema. No segundo caso a preaca, ou flecha de índio, é comumente empregada no auto de caboclinhos, conhecido como “cabocolinhos” em Pernambuco, ou “tribos de índios de carnaval”, na Paraíba. Entre os apetrechos dos personagens do auto, descritos por Guerra Peixe (1966: 138-39) constam o estandarte, lança, machadim, apitos e preaca ou flecha. Estes dois últimos são os únicos apetrechos sonoros. Os apitos são usados como toques de comando do cacique, que determina o começo e final da dança, ou do capitão e tenente, que conduzem suas alas. A preaca, tocada pelos caboclos ou “índios” de carnaval, marcam o pulso mais simples do bumbo, surdo, maracás, caixa, ganzá, que, por sua vez, acompanham a gaita de caboclinhos, ou “inúbia” (termo nativo). Assim a preaca não integra o grupo de instrumentistas, mas acentua o gesto coreográfico dos “índios”, além de marcar o pulso da própria dança. O auto reporta ao massacre e ressureição indígena e, conforme Alvarenga é exibido “no carnaval, nos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas e Minas Gerais” (1977).
Alice L Satomi/ Gabriel Seixas
Referências
Alvarenga, Oneyda. “Caboclinhos”. In Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art, p. 123-24, 1977.
Guerra Peixe, César. Os cabocolinhos do Recife. Revista Brasileira do Folclore 15/6:135-58, 1966.
Fonografia
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XqwOqAuwDFk> Acesso em 08 jul 2019