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Matraca Maranhense
Matraca s.f. um dos principais instrumentos do bumba-meu-boi. Durante a pesquisa e as leituras, foi possível perceber que existe mais de uma definição do que é o instrumento matraca. E entendemos que isso ocorre devido ao mesmo nome dado a diferentes instrumentos, em diferente manifestações, culturas e regiões. Mário de Andrade (1989, p. 315), no seu Dicionário Musical Brasileiro, define matraca como, “instrumento de percussão do mesmo princípio construtivo do reco-reco. Consiste basicamente numa lâmina de madeira relar sobre outra, esta dentada. Produz assim um trilo de ruído. É também importante colocar que as matracas utilizadas no tambor de crioula são tocadas de maneira diferente das utilizadas no bumba-meu-boi, portanto, é importante salientar que apesar de terem o mesmo nome, elas tem diferentes utilizações e funções.” Essa seria uma definição para o instrumento utilizado nos rituais das igrejas católicas no período de semana santa. Já Albernaz (2004) coloca que, “A matraca, no Maranhão, é o nome de um instrumento de percussão constituído de duas tábuas de madeira, cujo tamanho mais comum é 20 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2 cm de espessura. São tocadas batendo-se uma contra outra pelos brincantes chamados “matraqueiros” e são fundamentais para marcar o ritmo no bumba meu boi”. Assim é possível perceber a diferença existente entre a matraca utilizada no boi e a utilizada em outras manifestações.
As matracas são utilizadas no bumba-meu-boi, que como afirma Alvarenga (1997), é uma “(...) dança dramática ou folguedo que apresenta bem mais claramente do que sua congêneres o aspecto de suíte. Representada em várias localidades brasileiras, tem nomes diversos, variações coreográficas e de personagens, conforme a zona onde aparece. Segundo Luís Câmara Cascudo, “bumba-meu-boi” significaria “bate! chifra, meu boi!”. É o reisado mais popular do nordeste, considerado como o mais significativo, tanto do ponto de vista estético, como social. Apresentado no Nordeste durante o ciclo de Natal e festejado na Amazônia em junho, na época de São João, é o testemunho mais vivo do chamado ciclo do boi, que engloba vasto cancioneiro” (ALVARENGA, 1997, p. 118). As matracas também são utilizadas na dança Tambor de Crioula, “(...) uma dança marcada por fortes traços africanos, na qual uma roda de mulheres baila diante da parelha de três tambores (grande, meião e crivador) tocados por homens” (IPHAN, 2005, p. 09 apud RAMASSOTE, 2007). Entretanto, no tambor de crioula, a matraca não possui a mesma função e nem é tocada na mesma forma que no bumba-meu-boi. No tambor de crioula, entendemos que a matraca seria mais uma espécie de baqueta que toca no corpo do tambor grande. Para mais informações, clique aqui e confira o verbete do tambor grande.
As matracas, como foi dito anteriormente, são dois pedaços de madeira, geralmente retangulares, batidos um contra o outro, lembrando um bater de palmas. Como afirma o Dossiê do Registro do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão (2011), este instrumento é responsável “(...) pela grande adesão aos Bois desse sotaque, por inserir os apreciadores que, durante as apresentações, de modo informal, se agregam aos grupos multiplicando o número de integrantes”. As matracas possuem um som agudo e podem ser percutidas em ritmo lento ou rápido, isso costuma variar conforme o grupo, “as (...) maiores são utilizadas no sotaque da ilha e as menores no sotaque da baixada.”. (MANHÃES, 2009)
O processo de construção da matraca é relativamente simples, “(...) são feitas, preferencialmente, com pau d´arco, mas podem ser utilizados outros tipos de madeira, levada a uma serraria para ser cortada nos tamanhos determinados. Em alguns casos é serrada pelos brincantes com auxílio de instrumentos manuais. Aquelas fornecidas pelos grupos para seus brincantes, em geral têm tamanho padronizado, mas as matracas de propriedade particular dos boeiros têm tamanhos variados, conforme a preferência do matraqueiro, podendo chegar a um metro de comprimento” (Dossiê do Registro do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão, 2011).
Lucas B. Potiguara
Referências
ALBERNAZ, Lady Selma. O “urrou” do Boi de Atenas: instituições, experiências culturais e identidade no Maranhão. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
ALVERENGA, Oneyda. Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica. Art Editora, 1997.
DE ANDRADE, Mário. Dicionário musical brasileiro. Ministério da Cultura, 1989.
Dossiê do Registro do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão. São Luís: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2011. In Site: www.iphan.gov.br
MANHÃES, Juliana Bittencourt. Memórias de um corpo brincante: a brincadeira do cazumba no bumba meu boi maranhense. Dissertação de Mestrado em Artes Cênicas. Rio de Janeiro: Uni-Rio, 2009.
RAMASSOTE, Rodrigo Martins. Notas Sobre o Registro Do Tambor De Crioula: da pesquisa à salvaguarda. Revista Pós Ciências Sociais, v. 4, n. 7, 2007.
Fonografia
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wfcPCNO12IA>. Acesso em 08 jul 2019
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eLfL7ckaLoo>. Acesso em 08 jul 2019