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Charamela

Charamela s.f. - Ou Chorumela, Xorumela que consta desde o medievo europeu. Trata-se de um aerofone feito de madeira cujo corpo é levemente cônico. Similar ao oboé é constituído de palhetas duplas, corpo e campânula. Toca-se na vertical, soprando diretamente, fazendo o ar incidir e vibrar as palhetas. Seu uso no Brasil foi mencionado desde a época dos jesuítas, em cerimônias religiosas, da corte ou em desfiles de pequenos grupos de sopros.
publicado: 17/08/2017 13h11, última modificação: 27/04/2023 20h31

Charamela s.f. - Também identificado como chorumela, xorumela, pífano, pífaro, churumbela (de Andrade 1989: 129). Conforme o musicólogo Marcos Holler empregava-se o termo “para denominar instrumentos de sopro de metal nos séculos XVII, XVIII e XIX, exatamente como é o caso de clarins e trombetas ” (Holler 2010: 9). Câmara Cascudo (1929: 9) descrevia como “flauta delgada”. Com base na ilustração e gravura podemos descrevê-la e classificá-la, seguindo a revisão organológica de Montagu et al. (2011: 22), como um aerofone, onde o ar é o fenômeno vibratório (4) e é confinado no próprio instrumento através do sopro (42), que faz vibrar a palheta (422), no caso, são palhetas duplas (422.1), inseridas em um corpo individual (422.11) de formato cônico (422.112) com furos digitadores (422.112).

 

Museu de Música Lisboa. 2002  

Planta da charamela (Toscano s.d. )

Feito de madeira, geralmente, de sorveira ou Sorbus Aucuparia. O instrumento é constituído de palhetas móveis, inseridas na parte superior, corpo, na parte central, e campânula, na parte inferior.  A charamela da foto apresenta uma chave para a nota mais grave, mas deve ser de feitura mais  recente, pois Mário de Andrade descreveu a chorumela como instrumento de sopro “sem chaves, de som muito agudo”.

Toca-se na vertical, a boca envolve as palhetas, de forma a não escapar o ar, e as faz vibrar soprando diretamente com uma certa pressão. Apoia-se o tubo nos polegares e os demais dedos para cobrir os furos conforme a altura desejada. Seu uso foi mencionado em desfiles de bandas ou em cerimônias religiosas católicas. Cascudo registra a sua utilização no breve artigo intitulado Instrumentos musicaes dos negros do norte do Brasil: “Tabaque ou atabaque [...] esteve figurando com as charamelas [...] e sacabuxas [similar ao trombone] em todas as festas portuguêzas do século XV ao XVII” (Cascudo ibid.).

Conforme a musicóloga Mayra Pereira, em meados do século XVIII:

Além dos espaços e momentos de sociabilidade, os instrumentos de sopro mantinham-se presentes nas atividades eclesiásticas. A única citação ao emprego destes instrumentos para as práticas musicais religiosas encontra-se no inventário dos bens pertencentes à igreja dos jesuítas. Naquele momento havia os seguintes instrumentos de sopro sob a posse dos inacianos: duas flautas doces, oito charamelas – um baixo de metal, um tenor de madeira com pé de metal, um contralto de madeira [...] – e três oboés (Archivo  apud Pereira 1894:77)

Mario reforça a ação catequética também para os indígenas:

“A charamela foi introduzida no Brasil no início do século XVII e estava entre os instrumentos europeus ensinados aos índios, ‘Estando assim preste aguardando os inimigos (Baltazar Aragão Capitão Mor da Guerra desta Bahia), soube que andavam na Barra [...], levando consigo suas charamelas, baixela de prata e as mais ricas alfaias de sua casa [...]’ (Salvador [...] 1918:482)” (De Andrade 1989: 129)

Banda de charamela em “A Liberdade Guiando o Povo” (Delacroix 1846)

Como podemos observar no registro da pintura acima, a charamela, a trompa, o flautim e o trombone eram aerofones afeitos ao ar livre pelo seu longo alcance. Assim sendo propícios para desfiles, anúncios, ou chamadas e procissões.

Di Bona. 2021.

Para apreciação de áudio-visuais sugerimos: Charamela, Charamela 2

Gabriel Sena e Alice L. Satomi

Referências:

Cascudo, Câmara. 1929. Instrumentos musicaes dos negros no Norte do Brasil. Movimento Brasileiro, Rio de Janeiro: 1(3):9.

De Andrade, Mário. 1989. Dicionário Musical Brasileiro. Brasília; São Paulo: Itatiaia; USP.

Delacroix, Eugène. 1846 Banda de charamela em “A Liberdade Guiando o Povo”. Imagem do Catálogo Online de Bandas de Música PE/Reprodução. Disponível em https://vermelho.org.br/2021/12/02/o-samba-e-a-integracao-cultural-do-brasil/ Acesso em 06/12/2022

Di Bona, Raffaele. 2021. La ciaramella nella tradizione musicale napoletana. Disponível em https://www.21secolo.news/la-ciaramella-nella-tradizione-musicale-napoletana/ Acessado em 06/04/2023

Holler, Marcos. 2010. Os jesuítas e a música no Brasil colonial. Campinas: Unicamp.

Museu de Música de Lisboa. 2002. Fábricas de Sons: instrumentos de música europeus dos séculos XVI a XX. Disponível em: MatrizNet (dgpc.pt) Acesso em 21/10/2022.

Pires, Célio. 2015. Xaramela - Charamela de Célio Pires. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CoU8sAFaodw Acesso em 09/12/2022

Pereira, Mayra Cristina. 2013. A circulação de instrumentos musicais no Rio de Janeiro do Período Colonial ao final do Primeiro Reinado. Tese em música. Rio de Janeiro: UFRJ.

Toscano, Alfonso. s.d. Planta da ciaramella. Disponível em http://www.alfonsotoscano.it/-ciaramella.htm Acesso em 02/12/2023.