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Cangoeira
Flauta de osso da coleção Mário de Andrade, IEB-USP
Cangoeira (s.f.), canguaca ou cangüeira - trata-se de um aerofone de sopro, “feita dos ossos [provavelmente, da tíbia humana] dos mais célebres finados” (Melo[1] apud Andrade 1982:92), bravos guerreiros entre os Tupinambás ou mesmo de seus inimigos derrotados.
Etimologicamente Fernão Cardim[2]explica que o termo em tupi é formado por Cang, que significa osso, e “com o sufixo do pretérito Guer, designando osso já fora do corpo, depois particularizado para exprimir osso de canela, tíbia” (apud Andrade ibid.). Portanto, genericamente, o termo se ampliou e passou a ser sinônimo de canudo, ou tubo. Alguns registraram como cachimbo e outros como instrumentos. Mário de Andrade (ibid.) e Manuel Veiga (1981) levantaram a diversidade lexicográfica do instrumento indígena. Como tipo de “flauta primitiva” Cascudo (1962) registrou congoêra e por Sinzig (1976:72) cangoeira. E como reco-reco Marcuse (1975) documentou como cangoerá. Suzel Reily (200:250-51) notou que as primeiras transcrições, feitas por viajantes, de música nativa no Brasil foram as cantigas dos Tupinambá. Léry[3], um desses viajantes do século XVI, foi um dos primeiros a exprimir o impacto entre os Tupinambá, descrevendo sua dança como “ritual selvagem” devido aos “chocalhos e flautas feitos de esqueletos e ossos humanos”.
Com base na atualização de Montagu (2011:12) podemos classificar como aerofone (4) assoprado (4.2) na categoria das flautas (4.2.1) sem ducto (4.2.1.1) de embocadura na parte superior (4.2.1.1.1) constituída de um tubo (4.2.1.1.1.1) aberto (4.2.1.1.1.1.1) com digitadores (4.2.1.1.1.1.1.2)
Alice L. Satomi
Referências
Veiga, Manuel V. 1981. Toward a Brazilian Ethnomusicology: Ameridian phases. Los Angeles.
M. de Andrade. 1989. “Cangoeira”. In: Dicionário musical brasileiro. O. Alvarenga and F. Toni. Brasília; São Paulo: Ministério da Cultura e Instituto de Estudos Brasileiros/USP.
S. Reily. 2000. “Brazil: Central and Southern areas”. The Garland handbook of Latin American music. Olsen & Sheehy ed.: Garland. Pp. 250-71