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Dia da Consciência Negra

publicado: 20/11/2021 09h22, última modificação: 20/11/2021 09h23

O dia 20 de novembro representa um importante marco na luta antirracista em nosso país. Em 20 de novembro de 1695 foi morto o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi dos Palmares, grande líder da resistência e da luta abolicionista.

Esta data foi escolhida pelo Movimento Negro para homenagear os inúmeros Zumbis e Dandaras que continuam resistindo e, tragicamente, morrendo a cada dia.

De acordo com o Atlas da Violência 2020 produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil viu na última década o índice de casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentarem 11,5%. Os dados do referido relatório revelam os efeitos do racismo estrutural brasileiro e apontam como a violência tem sido direcionada à população negra. Se considerarmos apenas o ano de 2018, por exemplo, a taxa de homicídio a cada 100 mil habitantes foi de 13,9 casos entre não negros, enquanto entre negros chegou a 37,8.

Reparem que os dados são de antes do “Black Lives Matter”, antes de Miguel (garotinho que foi deixado sozinho no elevador e caiu do nono andar de um prédio em Recife), de João Alberto (homem negro que foi morto no Carrefour), e de tantas outras vidas negras.

Celebrar o dia da Consciência Negra é uma forma de denúncia das inúmeras violações dos direitos das pessoas negras, mas também, uma forma de anúncio de uma grande mobilização social pela horizontalização das relações raciais e superação do racismo.

Esse anúncio se faz na tensão entre três categorias que agrupam pessoas que se encontram em diferentes estágios de disposição e abertura para o enfrentamento do racismo, são elas: Praticantes, Enfrentantes e Aprendentes.

• Praticantes: quem se vale do privilégio de se aproximar dos padrões raciais estabelecidos, ainda que esteja no lugar social subalternizado, para ratificar sua pretensa superioridade em relação aos que estão classificados racialmente como inferiores;

• Enfrentantes: quem está entre aqueles classificados racialmente como inferiores e diante da necessidade de se defender das atitudes racistas, enfrenta o racismo cotidianamente;

• Aprendentes: quem deve se submeter à educação das relações étnico-raciais para desconstruir as consequências da hierarquização racial e promover a horizontalização das relações étnico-raciais.

Estas categorias são processuais, contudo, não são estanques e não agem de forma isolada, uma pessoa pode, ao mesmo tempo, transitar por mais de uma delas. Mas, é entre as(os) aprendentes que estão as pessoas capazes de promover as fissuras que começam o processo de demolição das estruturas racistas que conformam nossa sociedade.

Aprendentes são pessoas que transformam e se transformam, que passam a perceber e combater o racismo internalizado em si próprios, começam a questionar os privilégios da branquitude, questionam também a cultura que consomem, quebram padrões, provocam mudanças reais em si e ao seu redor.

Por causa das(os) aprendentes, cada dia mais crianças negras se veem representadas em lugares de destaque na sociedade e podem ser quem realmente são e sonhar em ocupar o espaço que quiserem.

Aprendentes são pessoas que tomam a Consciência Negra como estratégia para se orgulhar da História e da Cultura de nossos ancestrais da África e da diáspora, para lutar por ações afirmativas, por representatividade, por respeito, por justiça social, por direitos para todas as pessoas.

Como dizia Nelson Mandela em sua autobiografia: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”, desse modo, nosso convite nesse Dia da Consciência Negra é que sejamos capazes de aprender a amar.

Profa. Dra. Michele Guerreiro Ferreira 

DED | CCAE | UFPB - Campus IV