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Uso indiscriminado de medicamentos e automedicação no Brasil

publicado: 14/03/2024 09h46, última modificação: 14/03/2024 09h47

Antes de falarmos sobre saúde, doenças, medicamentos e as práticas que os envolve, é necessário lembrarmos que para gozarmos de uma boa saúde é preciso alguns cuidados como: ter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, ter uma boa noite de sono e se manter hidratado.

Tendo isto em vista, a automedicação é caracterizada pelo uso de medicamentos escolhidos pelo próprio indivíduo, comumente indicado por pessoas não habilitadas no âmbito da saúde como amigos, vizinhos e familiares, ou seja, ocorrendo sem orientação médica, farmacêutica, odontológica ou profissional de saúde qualificado. Sendo assim, é importante frisar que doenças diferentes podem apresentar sintomas similares ou iguais. Dessa forma, se levarmos em conta que cada organismo possui características diferentes, logo pode-seapresentar reações diferentes, para um mesmo medicamento, o que pode gerar reações alérgicas ou mesmo, risco à vida.

Nessa perspectiva, os riscos e consequências da automedicação e do uso indiscriminado de medicamentos podem levar ao autodiagnóstico incorreto, interações medicamentosas perigosas,erros comuns tanto na administração, quanto na dosagem e na escolha incorreta da terapia.  Podendomascarar uma doença grave, além de haver risco de dependência e abuso. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos durante um longo prazopode promover resistência a patógenos e consequentemente a ineficácia do tratamento em infecções futuras.

Uma pesquisa realizada pelo ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação), no ano de 2018, mostra que as recomendações de terceiros, como familiares,amigos e vizinhos compreendem respectivamente 68%, 41% e 27% e de balconistas de farmáciacerca de 48%, ou seja, os principais prescritores de medicamentosas são indivíduos quenão possuem domínio a cerca do tema. Outrossim, a  Indústria Farmacêutica está intrinsecamente relacionada com  a comercialização de doses fracionadas, o que leva a sobras de medicamentos e estocagem das sobras, o que geralmente culmina na reutilização, caso ocorra repetição dos sintomas apresentados.

 Com isso, vale ressaltarque osmeios de comunicação divulgam propagandas desenfreadas e massivas sem uma política de regularização efetiva, as quais só recomendam a orientação do profissional de saúde e lerem à bula.Isto, no Brasil, que possui cerca de 11,8 milhões de analfabetos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua),no ano de 2017, podendo acarretar consequências gravíssimas  a este público leigo. Levando em conta também que apenas50% dos pacientes fazem uso correto de seus medicamentos, 29% das intoxicações são causadas por medicamentos e 18,3% dos casos de morte são deste fato no país.

Enquanto, o uso indiscriminado de medicamentos está relacionado ao uso excessivo de medicamentos de forma constante. Esta forma de uso é caracterizada pela medicalização da vida, a qual envolve processos vastos que não se limitam apenas ao produto medicamento e possui uma lógica sutil e perversa de controle da vida das pessoas e da sociedade.  A medicalização está intimamente ligada a medicamentalização, sendo considerada uma consequência da mesma, a qual se refere ao uso de medicamentos em situações que, anteriormente, não eram consideradas problemas médicos e, consequentemente, não existia um tratamento farmacológico para tal. Sendo assim, utilizadas como uma forma de promover o bem-estar. Nessa prerrogativa, os medicamentos com tarja vermelha ou preta presentes em sua embalagem, somente são dispensados/ adquiridos mediante prescrição medica ou odontológica, pois os mesmos estão sujeitos a controle especial. Além disso, trazem na embalagem a inscrição “VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA”. Enquanto os medicamentos sem tarja, comumente chamados de MIP (Medicamentos Isentos de Prescrição), possuem venda livre, ou seja, são isentos de prescrição médica, logo não se faz necessário à apresentação de receita para ser adquirido, entretantoé necessária a orientação de um profissional responsável, como o farmacêutico, para evitar reações alérgicas, adversas, interações medicamentosas ou mesmo serem contraindicados para o paciente em questão.

Os medicamentos mais comuns na praticada automedicação no Brasil, de acordo com ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação), no ano de 2018, estão: analgésicos (48%), antiinflamatórios(31%), relaxantes musculares (26%), antitérmicos (19%), descongestionantes nasais (15%), expectorantes (13%), antiácidos(10%) e antibióticos (10 %). Nesse viés, as reações adversas mais comuns são: 

Classificação:

Medicamentos mais comuns: 

Reações adversas:

  1. Analgésicos e Antitérmicos 

Dipirona, paracetamol

Náuseas, vômitos, dores abdominais, lesões hepáticas e problemas hematológicos.

  1. Antiinflamatórios

Ácido Acetilsalicílico,Ibubrofeno, Nimesulida e Diclofenaco(entre outros)

Problemas gastrointestinais,renais e cardiovasculares. 

  1. Relaxantes musculares

Ciclobenzaprina, Carisoprodol e Orfenadrina

Alterações neurológicas como: confusão mental; secura da boca, alterações visuais e anormalidades do batimento cardíaco.

  1. Expectorantes 

Acetilcisteína, Cloridrato de Ambroxol, Iodeto de Potássio(entre outros)

Cefaléia, náuseas, vômito, diarréia, estomatites, refluxo, exantema, sonolência e erupções cutâneas. 

 

Destarte, devido a infinidade de problemas relacionados ao uso indiscriminado de medicamentos, a OMS resolveu definir uma estratégia global na tentativa de reduzir danos graves e evitáveis associados a medicamentos em todos os países nos próximos cinco anos, chamada,GlobalPatientSafetyChallengeonMedicationSafety. Para atingir a meta imposta é necessária uma ampla mobilização e engajamento das instituições de saúde, órgãos reguladores, profissionais de saúde e da população. Por conseguinte foram estabelecidas três áreas prioritárias nas quais eles se tornam mais vulneráveis. A primeira é denominada situações de alto risco na qual esta incluído os pacientes sujeitos a risco maior de danos graves(como: pacientes internados, crianças e idosos), os erros mais frequentes nessa situação são: a administração da dose errada, o uso da via de administração errada e falhas em seguir os regimes de tratamento. A segunda é a chamada polifarmácia, que segundo a OMS é o uso rotineiro de quatro ou mais medicamentos ao mesmo tempo por um paciente, o que aumenta a probabilidade de reações adversas, de erros de medicação e de interações medicamentosas, além de dificultar a adesão ao tratamento. E por fim, como ultima área prioritária temos as transições de cuidado, a qual se refere ao deslocamento de um paciente entre instalações físicas ou profissionais de saúde com a finalidade de receber cuidados em saúde, as transições aumentam a possibilidade de erros de comunicação, o que pode levar a graves erros de medicação.

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