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Cine-debate, Projeto Galerias e Chã de Jardim
uma história sobre empreendedorismo, inovação e senso de pertencimento
Na última quarta-feira, dia 12 de agosto de 2020, ocorreu o I Cine Debate. A ação foi desenvolvida pelos membros do Projeto de Extensão Cine Bruxaxá, em parceria com a Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Agrárias (BSCCA), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O Cine Debate busca promover encontros virtuais entre as pessoas e, ao mesmo tempo, aproximá-las das experiências que vivenciam e produzem em sociedade. Através da exibição on-line de curtas metragens, seguido de debate, a pessoa convidada compartilha seu relato de experiência ou vínculo com o tema proposto pelo curta exibido.
Para a realização do Cine Debate, utilizou-se a plataforma Webconf, onde estiveram presentes 22 participantes de diversas instituições, UFPB, UFPE, IFPB, FIP, Faculdade de Ciências Econômicas – Universo, Unilab, entre outras, e diferentes localidades do país, como Pernambuco, Ceará, Paraíba e Minas Gerais. Foi possível perceber também uma diversidade de profissões do público envolvido, composto por historiadores, bibliotecários(as), pedagogos(as), assistentes administrativos, entre outros. Destacamos também a presença de Rejane Ribeiro, cantora, compositora e moradora da Chã de Jardim.
Na ocasião foi exibido o curta metragem “Projeto Galerias – Arte em Comunidade”, que foi resultado da experiência de doze artistas plásticos vindos de várias regiões do Brasil, e transformaram as casas da comunidade Rural Chã de Jardim na cidade de Areia/PB, em uma galeria de arte a céu aberto. O Projeto Galerias é uma idealização do artista plástico Guataçara Monteiro e do administrador de empresas João Paulo Pessoa. O curta, que registra a execução do projeto e depoimentos dos artistas e moradores da comunidade foi filmado por Amanda Mello.
Guataçara buscou em seu projeto uma comunidade que já tivesse despertado para os seus valores, seu patrimônio, possibilidades e potencialidades existentes na localidade, nesse sentido a Chã de Jardim já desenvolve, sustentavelmente, diversos projetos que envolvem, gastronomia, ecoturismo, dança, teatro, e música, porém existia pouco acesso às artes plásticas.
No curta, é possível ver que foram dez dias intensos de atividades, com a pintura dos murais nas casas. Utilizando diversas técnicas, cada artista contribuiu para deixar a comunidade ainda mais viva e colorida. Entre os artistas envolvidos nas pinturas estão nomes como o paraibano Clóvis Júnior, uma referência da Arte Naif na América Latina; Vespa, grafiteiro com reconhecimento mundial; além dos artistas Douglas Reis (SP), Perron Ramos (PE), Dennis Mota (PB), Guilherme Mendicelli (SP), Márcio Bizerril (PB), Bruno Brito (SP), Eliana Chaves (AM), Walfredo de Brito (PB) e Guataçara Monteiro (SP).
Após a exibição, iniciou-se o debate com Luciana Balbino, que é historiadora, líder comunitária, empresária, palestrante e precursora do projeto de desenvolvimento da comunidade da Chã do Jardim.
Inicialmente Luciana compartilha como foi sua vivência durante a semana que envolveu a pintura das casas do Projeto Galerias.
“Foi uma semana de muita emoção e alegria, ao ver as pessoas da comunidade envolvidas com o projeto que veio para transformar a todos.”
Luciana conta sua trajetória de vida, e de como se tornou uma líder comunitária, e uma empreendedora de sucesso. Desde muito nova comenta que já tinha visão de empreender algo e recorda de quando, aos nove anos, trabalhava ajudando seu avô, plantava, colhia e vendia maracujá na feira para comprar material escolar. Na mesma época em que fazia parte de um grupo de jovens da igreja, após a crisma, Luciana propõe que o grupo desenvolvesse alguma atividade através da percepção das necessidades da comunidade, para que juntos pudessem buscar por melhorias. Esses jovens começaram a fazer rifas, bingos, organizar festas, vender pastéis e bolos em festas da cidade para arrecadar dinheiro e ajudar a comunidade.
Ao concluir um curso de associativismo, realizado pelo SENAR, a comunidade já estava organizada em uma associação. Inicialmente eram realizadas apenas poucas atividades, como trilhas e piqueniques na mata, e após um curso de empreendedorismo através do SEBRAE, foi possível perceber que a comunidade tinha um grande potencial e que muito mais poderia ser feito. Luciana relata sobre as dificuldades em deixar a sua comunidade e ir estudar em outra cidade, historiadora de formação, tornara-se então a primeira mulher a possuir um curso superior da Chã de Jardim. Durante a vivência como professora em um grupo de mulheres, no qual tinha o papel de ajudá-las a ler e escrever melhor, Luciana percebe que poderia fazer um pouco mais por elas, e passa a incentivá-las a produzir artesanato e a buscarem dignidade e orgulho de morar em uma comunidade rural. Hoje as mulheres da Chã são artesãs reconhecidas, produzindo diversos produtos em palha de bananeira.
Nesse contexto, a comunidade de Chã de Jardim já oferecia diversos serviços aos visitantes, como trilhas, piqueniques, lembrancinhas feitas pelas artesãs, porém, no entanto, faltava um local para as pessoas comerem. Foi então que surgiu a ideia do restaurante, fruto do trabalho já realizado de forma associada, sendo mais uma atividade criativa, com foco na produção associada ao turismo. Dentre os diferenciais, o restaurante apresenta um cardápio regional com produtos oriundos da produção da própria comunidade de forma orgânica e sustentável. Os pratos são bem típicos, e vão desde buchada, macaxeira com charque, galinha guisada, até um cafezinho com tapioca ou beiju. Vale salientar que dentro da perspectiva de uma alimentação saudável e regional, o restaurante não dispõe em seu cardápio de bebidas como refrigerante, ou sucos industrializados, sendo que toda a polpa utilizada na produção dos sucos é fruto da Cooperativa de Polpa de Frutas Doce Jardim da própria comunidade. O restaurante também se destaca pela decoração feita também pelos artistas e artesãs locais, com elementos como a palha da bananeira, móveis e utensílios rústicos.
Sobre o nome escolhido para o restaurante, Luciana encontrou as referências em sua bisavó que se chamava Maria, e que produzia uma farofa sempre no final da tarde para os netos e netas. Era uma farofa simples com água, coentro e cebola, mas carregada de amor e afeto tornava-se a alegria da criançada. Entre outras receitas da Vó Maria o restaurante traz o tradicional pé-de-moleque e o doce de mamão verde.
Hoje o Restaurante Vó Maria coleciona diversos prêmios, como o Prêmio Melhores do Turismo da Paraíba, Prêmio Braztoa de Sustentabilidade, Selo Referência & Qualidade Empresarial da Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação (ANCEC), Prêmio Referência Nacional de Gastronomia, mostrando que através de uma construção coletiva é possível buscar melhorias e realizar sonhos, utilizando o potencial humano e natural da região, buscando o desenvolvimento sustentável e devolvendo o senso de pertencimento à comunidade.
Após a exposição da convidada, abriu-se um espaço para perguntas e interação com o público. Entre muitos elogios e em clima de emoção e alegria encerrou-se o I Cine Debate, com o coração cheio de esperança e um exemplo a ser admirado.
“Mostra o valor da simplicidade, o valor da região e das pessoas...” (Luano Franklin)
“Gente do céu, deu pra sentir cada pedacinho de laços que foram formados!” (Airla Sousa)
“Gente, esse documentário tinha que existir. Ele completa a grandiosidade do projeto de uma forma mais que simbiótica.” (Welânio Guedes)
“Junto com a tinta que nós misturamos ali no pote, também tem muito sentimento, envolvimento com as pessoas, com as crianças, e o projeto tomou uma dimensão que a gente não imaginou...” (Guataçara Monteiro)