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Caminhos da Reportagem: saúde mental bem longe dos manicômios

publicado: 19/05/2023 11h38, última modificação: 19/05/2023 11h38

Quem vê Patrícia Ruth pintando calmamente seus quadros nem imagina os horrores que ela já sofreu. Encarcerada em reformatórios e manicômios desde a infância, recebeu castigos físicos, contenções e chegou a passar por eletrochoques. Ao longo de décadas isolada em hospitais psiquiátricos, perdeu os laços familiares e até a identidade. 

Foi com o início da Luta Antimanicomial no Brasil que, aos poucos, trajetórias como a de Patrícia ganharam novos rumos. Ela, que foi uma das pacientes da antiga Colônia Juliano Moreira, último manicômio a ser fechado no Rio de Janeiro, hoje é uma artista plástica reconhecida. “Mudou muita coisa para mim. Coisa que não tinha e nunca esperava ter, minha casa.  Esses trabalhos que eu faço hoje são o meu ouro porque eu vendo e faço exposição para fora”, comemora Patrícia.
 
Caminhos da Reportagem desta semana mostra os avanços da Luta Antimanicomial no Brasil e acompanha pacientes psiquiátricos que passaram por internações de longa duração e retornaram à vida fora dos muros das instituições. 

O movimento da sociedade civil lançado no fim dos anos 1970 critica os métodos tradicionais da psiquiatria e defende os direitos das pessoas em sofrimento psíquico. “A luta contra os manicômios é uma luta pela cidadania, uma luta pelo reconhecimento das pessoas com fragilidade, a superação da ideia de que existem pessoas com menor valor. Então, tudo entra nesse jogo: racismo, LGBTfobia e qualquer forma de discriminação”, afirma Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental do município do Rio de Janeiro.

Com a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, em 2001, houve uma redução programada de leitos psiquiátricos no Brasil.  De acordo com a ONG Desinstitute, o número de pacientes internados em longa duração caiu de 50 mil, em 2002, para menos de 14 mil, em 2020.  Evitar retrocessos ainda é um desafio para os defensores da Luta Antimanicomial, segundo a presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, Ana Paula Guljor. 

O fechamento de manicômios não é sinônimo de falta de atendimento aos pacientes e seus familiares. O cuidado em liberdade, mantendo o paciente integrado ao seu território de origem, seu círculo social, é o mais eficaz, garante Guljor. 

Entre os mecanismos de apoio aos pacientes, além dos Centros de Assistência  Psicossocial (CAPs), que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), estão as Residências Terapêuticas, uma espécie de república - para no máximo seis pessoas - oferecida aos egressos dos hospitais psiquiátricos que ainda necessitam de algum suporte para retornarem à vivência comunitária. A equipe do Caminhos da Reportagem foi conhecer a rotina de uma dessas casas. 

Existem mil outras formas de se cuidar, de se tratar a loucura, o sujeito em sofrimento psíquico”, defende Erika Pontes e Silva, diretora do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.  Oficinas de arte e atividades em hortas comunitárias são exemplos de terapias adotadas nas antigas instituições psiquiátricas que foram remodeladas. 

O programa mostra como locais de encarceramento e sofrimento no passado hoje são espaços dedicados à arte e ao tratamento com afeto e liberdade, como o Museu Bispo do Rosário e o Instituto Nise da Silveira, ambos no Rio de Janeiro. 

Ficha técnica

Produção e reportagem: Clarice Basso
Reportagem cinematográfica: Gabriel Penchel, Gilson Machado, Marcelo Padovan, Ronaldo Parra e Sandro Tebaldi
Auxílio técnico: Adaroan Barros, Caio Araujo e Yuri Freire
Apoio à produção: Luiz Filipe Salvador - estagiário
Roteiro: Ana Passos e Clarice Basso
Edição de texto: Ana Passos
Edição de imagem e finalização: Eric Gusmão
Arte: Julia Gon e Marco Bravo
Pesquisa do Acervo EBC: Aline Brettas, Erick Pinheiro, Fabio Araujo Jorge, Fernanda Buarque, Mariana Nazareth, Pedro Modesto e Thiago Guimarães

Caminhos da Reportagem vai ao ar neste domingo (21), às 22h, pela TV Brasil (afiliada em João Pessoa, TV UFPB, canal aberto 43.1).

Com informações da TV Brasil

FOTO: Patricia Ruth - da vida encarcerada ao sucesso como artista plástica, por Divulgação/TV Brasil