Notícias
Coral Gazzi de Sá
Cinco décadas de canto em coral na UFPB
Em uma região tão rica culturalmente como a nordestina, com tantos talentos já sacramentados no cenário cultural, a falta de oportunidades ainda inviabiliza a descoberta de vocações. Com isso, o projeto de extensão “Coral Universitário Gazzi de Sá”, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), abre espaço para estudantes, funcionários, professores e também para a comunidade. Criado em 1963, a partir da necessidade cultural da universidade, o Coral atualmente tem a regência do maestro Eduardo de Oliveira Nóbrega, que está à frente do projeto há 15 anos.
O projeto oferece a oportunidade da prática do canto coral, utilizando, também, a música como instrumento de humanização e socialização, trazendo novas formas de agir, pensar e sentir. Além disso, os integrantes herdam uma educação horizontalizada, usando essa forma de expressão cultural como ferramenta de melhoria da socialização e da autoestima.
O coordenador do projeto enfatiza que “O coral é uma das mais democráticas expressões musicais, pois abre espaço para qualquer pessoa, independente de saber música ou não”. Ainda segundo Eduardo Nóbrega, a função do Coral é dar a pessoas que não estejam ligadas à área músical a chance de navegar por outro universo, e através dela vivenciar experiências que elas não estão habituadas a lidar. Essa metodologia de trabalho sacramenta o projeto como o grupo artístico cultural mais antigo da UFPB.
Segundo Eduardo, o nome do coral é uma homenagem a Gazzi de Sá pela sua representatividade e por ser referência para a música da Paraíba. Ele conta que o músico paraibano foi fundamental para o segmento no Estado, onde implantou na década de 30, o movimento orfeônico (o canto orfeônico é um tipo de canto coletivo amador), além de contribuir para o nascimento da orquestra sinfônica e dando ainda o pontapé inicial para o primeiro coral local.“Como Villa-Lobos é para o Brasil, Gazzi de Sá é para a Paraíba”, afirma.
O processo seletivo para o coral acontece através de audições periódicas no Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA). Para ingressar no coral, Eduardo Nóbrega enfatiza que não é necessário ter vocais surpreendentes ou dons musicais, apenas que tenha confiança, otimismo e vontade de aprender. Qualquer voz pode compor o canto coral.
Há também um potencial formativo e educativo não-formal na atividade coral. Ela desenvolve um processo de socialização e cidadania no indivíduo, pois no conjunto todos são iguais, não importando sua condição social ou pessoal. Eduardo acrescenta que quando se trabalha com um grupo vocal, é colocado em jogo os esquemas de valores e filosofias de vida de cada membro. Existe também um espaço para que todos possam colaborar e participar de forma igual, aprendendo a conviver com o outro. Cantar em conjunto ajuda o indivíduo a compreender as opiniões e o tempo de cada um, unidos em propósitos comuns.
Antes de maestro, Eduardo Nóbrega diz que se considera um educador. “Eu tento usar a música como processo de formação e educação das pessoas. Enquanto eu estiver à frente do projeto, o coral tem que ser um elemento de socialização, de educação, formação e respeito. A parte artística vem com o trabalho. O mais importante é essa porta que o coro abre para que as pessoas entrem aqui e saiam pessoas diferentes”, finaliza o regente.
Uma das voluntárias do projeto é Tainá Albuquerque, de 21 anos.Ela já conhecia o cântico coral desde a infância e viu no Coral Universitário a oportunidade de seguir no caminho da música, área que pretende seguir na vida acadêmica. Tainá não é estudante da UFPB, ela teve a oportunidade de ingressar no coro através dos processos de seleção. “Eu era muito tímida, e o coral me ajudou a trabalhar a postura, a técnica vocal e o jeito de me expressar”. Ela diz ainda que, no princípio de sua escolha por essa área, enfrentou o receio da família, mas que a metodologia de trabalho acabou quebrando a resistência familiar.
O coral é reconhecido nacionalmente pelo seu desempenho. Nos últimos anos, o grupo se apresentou em vários estados do Nordeste e também em outras regiões do País. Além do mais, o seu maestro foi selecionado no começo do ano para o programa de intercâmbio internacional da Associação Americana de Diretores de Coral (ACDA), credenciado pelo trabalho realizado no Coral Universitário. Lá ele teve a oportunidade de ter o contato com os coros norte-americanos e vivenciar a cultura coral local.
O maestro espera que o projeto contribua para que os participantes tenham um maior domínio do aparelho vocal, resultando no crescimento qualitativo do coral. Ele espera que as experiências ao longo do projeto ajudem os participantes na transferência de habilidades, conceitos e de novos conhecimentos adquiridos com as novas situações vivenciadas. A intenção é que o programa possa ser uma prática enriquecedora, atingindo vários aspectos sociais da vida de cada integrante.
* Reportagem de Arthur Tigre - Bolsista PRAC (2017) |
---|