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Constelação Familiar
Constelação Familiar
Sem aparelhos tecnológicos, conversas paralelas nem distrações, o silêncio e o contato visual predominavam entre as pessoas que estavam presentes em mais uma realização da Constelação Familiar, método psicoterapêutico que busca observar os comportamentos atuais dos indivíduos e buscar, nas gerações familiares, as razões desses comportamentos. A ação é desenvolvida na Universidade Federal da Paraíba, numa parceria da Coordenação de Educação Popular (COEP) com o Centro de Educação e faz parte do projeto “Cuidar-se”, que oferece atividades abertas ao público durante a semana, na Capela Ecumênica.
Como tudo começou
A Constelação Familiar foi desenvolvida pelo psicoterapeuta Alemão Bert Hellinger, que fundamentou seu método em três princípios: a necessidade de pertencer ao grupo ou clã, a necessidade de equilíbrio entre o dar e o receber nos relacionamentos, a necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã. Dessa forma, ele observou a ligação entre muitos dos conflitos que a geração atual vem enfrentando com fatores acontecidos no passado da família. Por exemplo, uma relação conturbada entre pai e filho pode ter sido originada de uma outra relação entre esse pai e seus familiares.
Na Universidade, a ideia de criar um núcleo para realizar a terapia surgiu a partir da observação dos problemas que alguns alunos apresentavam. Com históricos de cansaço mental, depressão, frustração e outros problemas psicológicos, muitos alunos acabam sendo prejudicados na vida acadêmica e também pessoal devido ao acúmulo de estresse e à constante pressão exercida sobre eles, quer dentro da instituição de ensino, quer na própria casa. De acordo com a professora de Psicologia do Centro de Educação Vilmaria Fernandes, mediadora da Constelação, inicialmente o público alvo eram os alunos da UFPB, em seguida, decidiu-se abrir para a comunidade em geral.
Repassando o que foi aprendido
“Como educadora, já presenciei casos preocupantes de acúmulo de estresse entre os meus alunos, um deles chegou a desmaiar na minha frente. É uma situação preocupante e um problema que precisa ser tratado. Quando nos reunimos, todas as terças-feiras, damos a oportunidade de o outro transmitir o que está passando e aí vamos em busca do que pode estar por trás desses conflitos, que geralmente têm origem na própria família”, relatou Vilmaria.
Reunidos em um formato de círculo, os participantes têm a oportunidade de fazer uma pequena representação dos seus problemas. Para isso, escolhem algumas pessoas para interpretar os supostos causadores deles. Em um caso de depressão, por exemplo, haverá alguém que será a doença e outros farão as pessoas ou fatores que contribuem para o agravamento da doença.
A psicóloga Heloísa Lonato, também mediadora, explicou que a atividade consiste em expressar o problema sem precisar contar a história de vida da pessoa, privando-a de se expor. “O que chama mais a atenção é o fato de as pessoas virem abertas, muitas vezes desesperadas para demonstrar o que estão passando. Além disso, acontece de o conflito que ela está vivendo, e que está sendo representado naquela pequena encenação, ser o mesmo de outros indivíduos ali presentes. É uma relação mútua, na qual todos saem ganhando, direta ou indiretamente”, explicou Heloísa.
Parte do grupo reunido antes de iniciar a terapia - Imagem: Raian Lucas 2017 |
As impressões de quem se expressa
Na Constelação Familiar, alguns minutos de silêncio e concentração na hora de representar o que o outro está passando são o suficiente para que haja um sentimento de empatia, de reciprocidade entre a dor de quem sente e a de quem está responsável por dar vida a ela.
Jandira Nogueira, psicóloga por formação e empreendedora atualmente, viu na terapia uma oportunidade de compartilhar com o grupo um pouco do que vem enfrentando. Apesar de ter sido sua primeira vez no núcleo, decidiu abrir o coração e buscar uma solução conjunta para os problemas. “Se a gente não vier aberto, nada acontecerá. Eu já havia estudado a Constelação, mas a prática é muito mais encantadora, traz uma série de benefício e retira das nossas costas um peso, que era impossível carregar sozinha. Me senti como se cada um pegasse um pouquinho da minha dor e transformasse em carinho, afeto e alegria. É uma experiência maravilhosa”, contou.
Como Jandira, mais duas pessoas abriram o coração. Entre elas, Magda Rego, jornalista e participante de outros núcleos de Constelação. Aprender é algo que ela não dispensa da rotina. Conhecedora de algumas ideias de Bert Helling, encontrou na terapia um apoio para aliviar a dor do passado, entender um pouco sobre si e resolver os conflitos nas diferentes esferas da vida. “Nunca é demais compreender-se e compreender o outro. Vejo isso como uma prática excepcional no convívio social, pois passamos a sentir um pouco a dor do próximo, assim como ele sente a nossa. Parece que nos tornamos mais humanos, recuperamos nossa essência”, disse ela.
Histórias formam uma constelação
Viviane Freitas, estudante do 8º período de Psicologia da UFPB, considera-se uma pessoa lisonjeada por fazer parte de um projeto que agrega práticas integrativas dentro do ambiente acadêmico. Na opinião dela, a Constelação Familiar é uma grande conquista para a Universidade, porque proporciona à comunidade um apoio nas lutas contra os problemas que os indivíduos estão passando.
“Eu sou estudante e entendo o que muitos colegas passam. Somos tão pressionados diariamente, que chegamos a ficar sem um foco, é como se não tivesse mais uma saída. E isso, a longo prazo, pode desencadear uma depressão. Contudo, quando chego na Constelação, sinto-me como se estivesse junto a pessoas como eu, que passam por conflitos e estão em busca de ajuda. Infelizmente há muitos que deixam o orgulho predominar e não procuram uma mão amiga”, contou Viviane.
Início da prática na capela da UFPB - Imagem: Raian Lucas |
Na concepção de Maria Betânia, bolsista da COEP e responsável pelo acompanhamento das atividades do projeto “Cuidar-se”, é emocionante a forma como os problemas são compartilhados e representados nos encontros. De acordo com ela, poder contribuir para o bem-estar de algumas pessoas e fazê-las felizes é uma atitude que não tem preço. “Acredito que a base do nosso projeto é o amor, e é isso o que levamos aos participantes. Na Constelação, abrir o coração é uma forma de libertar a mente das correntes que têm machucado, do passado conturbado e das histórias tristes. Poder fazer parte desse processo é extremamente gratificante para mim, pois estou plantando uma semente que já tem dado frutos maravilhosos”, disse ela.
Se os olhares falam, as lágrimas são as palavras. As pequenas atitudes, os simples movimentos feitos na cena são o suficiente para tocar os que vão dispostos a compartilhar e sentir. O que os membros do núcleo costumam dizer é que o conjunto de histórias, de emoções de cada um gera a empatia e a valorização de sentimentos como carinho, afeto e amor. No dicionário, constelação é o conjunto de estrelas. Já para eles, é o conjunto de pessoas que lutam diariamente contra seus medos, seus pensamentos e que, encontram, no núcleo, uma chance de dividir a sobrecarga, abrir o coração e deixar os olhos brilharem, como uma estrela.