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Extensão com terapia e música

Extensão com terapia e música
publicado: 24/08/2020 14h34, última modificação: 25/08/2020 10h09
Exibir carrossel de imagens Atendimento do Projeto Musicalmente realizada no Ambulatório.

Atendimento do Projeto Musicalmente realizada no Ambulatório.

Atendimento do Projeto Musicalmente realizada no Ambulatório.O dia que essa fotografia foi realizada, conta a estudante de medicina Nathalia Immisch, já fazia mais de um mês que ela atendia a dona Anatalia, de 87 anos, vítima de demência vascular causada por vários AVCs. Ela sempre colocava uma panderola na mão da usuária, mas percebeu com o tempo que dona Anatalia adorava músicas com violão.

Dona Anatalia contava que seu pai sempre tocava violão para ela e suas irmãs quando morava em um sítio no interior e comentou que tinha o sonho desde jovem de aprender a tocar o instrumento, mas nunca teve oportunidade.

Para que a senhora sentisse que estava tocando e realizando seu sonho, a estudante de medicina decidiu levar seu violão e escolher uma música fácil, com apenas três acordes para ensinar. Não deu muito certo de início, Anatalia tinha alguns problemas de rigidez na mão para apertar as cordas, mas a estudante e a senhora não desistiram. Nathalia e Anatalia fizeram uma dupla, a primeira apertava as cordas e a segunda tocava o ritmo.

Esse momento aconteceu no Ambulatório do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HU), em João Pessoa, onde o projeto de extensão Musicalmente utiliza a música como instrumento terapêutico para tratar idosos com sintomas comportamentais da demência, como depressão, irritabilidade e apatia.

O Musicalmente foi idealizado por Nathalia e teve início em março de 2019. A estudante conta que sempre teve o desejo de juntar música e a prática da medicina, então ela procurou a especialista em geriatria Manuella Toledo, que coordena o projeto, para tirar a ideia do papel.

Elas tiveram como inspiração projetos de ONGs estrangeiras, como a Music & Memory dos EUA e Música Para Despertar da Espanha, que possuíam um público alvo parecido com o do ambulatório do HU. Com a colaboração de professores das áreas de Psicologia, Música e Terapia Ocupacional, pesquisaram e fizeram as adaptações para a realidade brasileira.

 Para cada história uma canção

De modo geral, músicas e sons funcionam como estímulo para diversas áreas do cérebro. Contudo, no projeto Musicalmente, a proposta é trabalhar com músicas que possuem um significado particular na vida de cada indivíduo – músicas autobiográficas, que, de acordo com a equipe, são especialmente benéficas para pessoas com síndromes demenciais, pois ativam memórias e emoções.

“Quando eu escuto uma música que representa algo importante, que lembra meu casamento, minha juventude, um período muito bom da minha vida, ela ativa o hipocampo e o sistema límbico. O hipocampo é a parte do cérebro responsável pelo processamento da memória, então quando ele é ativado, é como se viesse uma chuva de memórias, voltando na cabeça do paciente. Ele consegue, de certa forma fazer uma viagem no tempo”, explica Nathalia Immisch.

A estudante lembra ainda que as músicas estimulam o sistema límbico, responsável pelas emoções que cada pessoa sente. Essa sobreposição de estímulos em diversas áreas do cérebro ajuda no tratamento de sintomas depressivos e ansiedade.

Pela experiência vivenciada no projeto, a estudante relata que o tratamento proporciona mudanças evidentes nos usuários. “Às vezes eles chegam bem apáticos, não focam o olhar, não se mexem, não conversam muito e quando começa a música eles mudam totalmente: abrem os olhos, começam a prestar mais atenção no ambiente ao redor, conseguem conversar e olham nos olhos”, relata a estudante.

Para Nathalia, além da formação profissional, o projeto tem sido contribuído para mudar sua percepção como pessoa. “Olhando de fora, vi como é necessário escutar, porque às vezes a única coisa que o paciente precisa é ser ouvido. Isso me fez pôr em prática muitas coisas na minha família, às vezes eu vou para casa da minha avó e fico só ouvindo ela falar de tudo da vida dela e eu sei que aquilo, mesmo que eu não esteja fazendo nada demais, está fazendo toda a diferença.”

Musicalmente e a Pandemia da Covid-19

Na Pandemia, o projeto vem encontrando dificuldades para alcançar seus objetivos. Muitos pacientes voltaram para suas cidades e não é possível entrar em contato com eles, já que não acessam redes sociais ou simplesmente não têm acesso à internet.

Entretanto, o projeto segue em execução, já que parte dos usuários pode ser atendida on-line. Com a colaboração das famílias, que sob a orientação dos extensionistas reproduzem em casa a dinâmica das sessões, o projeto continua oferecendo música e bem estar aos usuários.

Outra forma encontrada pelo projeto foi usar sua página no Instagram (@musicalmente.ufpb) para disseminar informações sobre a terapia com música, síndromes demenciais e cuidados com a pessoa idosa. Dessa forma, o projeto alcança um público bem diversificado, consegue atingir tanto familiares dos usuários quanto pessoas que ainda não conheciam o projeto.

Reportagem de  Grace Vasconcelos (Bolsista PROEX 2020), editada por Comunicação PROEX.