Extensão e cursinhos Pré-ENEM

Preparação para o ENEM gratuita e diferenciada

Garantir o acesso de estudantes de baixa renda e de escola pública à universidade é um dos propósitos dos cursinhos oferecidos pela Extensão Universitária. Atualmente, maio de 2020, a UFPB tem em execução seis projetos que oferecem gratuitamente à população ensino preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Esses projetos, que acontecem em várias cidades da Paraíba, são coordenados por servidores (docentes e técnico-administrativos)  da UFPB e contam com estudantes bolsistas e voluntários na equipe. Ao longo dos anos, vários estudantes puderam acessar os cursinhos populares para ampliar as chances de conquistar uma vaga no ensino superior.

No entanto, no período de pandemia do Coronavírus, a impossibilidade de realizar aulas presenciais está dificultando a realização das atividades. O acesso à internet de qualidade e a um computador são as principais barreiras que impedem a realização das atividades de ensino.

Iniciativas como os cursinhos Pré-Enem do Centro de Ciências Agrárias (CCA), no Campus II - Areia e também do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA), no Campus III - Bananeiras, estão impossibilitados de acontecer plenamente. As equipes destes projetos estão elaborando conteúdo para garantir aos estudantes a melhor preparação possível, dentro das possibilidades. 

Na mesma situação estão os cursinhos realizados nos campi I e IV. Os quatro projetos, três em João Pessoa e um em Mamanguape, estão apostando nas ferramentas digitais e na criatividade da equipe de extensionitas para manter o ritmo de estudos.

 Educa UFPB

 Realizado no Campus I, em João Pessoa, o EducaUFPB é um projeto de extensão recente, mas que já conta com uma grande equipe. Um de seus idealizadores foi o estudante Luiz Henrique Pessoa, que se inspirou em um cursinho gratuito que ele próprio participou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A ação é coordenada pelo professor Wladimir Nunes, que aceitou transformar a ideia de Luiz em uma ação de extensão do Centro de Ciências Médicas (CCM).

Logo após a aprovação do projeto no Edital PROBEX 2020, a equipe realizou uma seleção para estudantes do ensino médio.  A turma é formada por 60 estudantes, em sua maioria jovens na faixa dos 21 anos. As aulas presenciais estavam sendo realizadas de segunda a sexta-feira (18h às 21h) e nos sábados (8h às 15h). Além das aulas, os estudantes participam de simulados mensais, monitorias no período da tarde e acompanhamento com assessores de estudo que elaboram um plano de estudo específico para cada aluno.

No período de isolamento social, o EducaUFPB tem utilizado as redes sociais para manter as atividades. Algumas aulas continuam sendo ministradas através de plataformas online, como o Zoom e o Google ClassRoom. O projeto está preparando atividades de revisão e de reforço com os conteúdos já vistos enquanto os alunos seguem com acompanhamento individualizado.

Considerando o bom funcionamento inicial da extensão, Luiz Henrique lamenta a suspensão das aulas presenciais. “Estamos lidando com muita dificuldade com a pandemia. Cerca de 20% dos alunos tem dificuldade com acesso à internet e muitos também tiveram que voltar para a cidade natal, então não têm internet de qualidade e têm que usar dados móveis que não funcionam bem”, relata o estudante.

 Educação Popular à distância           

O Programa de Educação Tutorial (PET) Conexões de Saberes é outra atividade da extensão da Universidade que oferece preparação o ENEM. Vinculado ao Centro de Educação (CE), o projeto é parte de uma iniciativa articulada entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Observatório de Favelas e o Ministério da Educação. 

Desde 2010 o Conexão de Saberes é desenvolvido na UFPB com o objetivo de garantir o acesso e a permanência de jovens de origem popular na universidade. O curso é gratuito e aberto à comunidade, com aulas presenciais realizadas no Centro de Tecnologia (CT).

Este ano projeto está acolhendo 180 estudantes, sendo  80% deles na faixa etária dos 18 a 45 anos, em sua maioria autodeclarados negros ou pardos, de baixa renda e provenientes de escola pública. Há também adultos que trabalham como vigilantes, recepcionistas, comerciários, domésticas e vendedores ambulantes.

Em razão desse público, a adoção de práticas educativas voltadas para jovens e adultos tornou-se o principal diferencial do projeto. Com a suspensão das atividades presenciais, o PET migrou para as plataformas digitais, mas houve uma resposta muito baixa dos cursistas, como declara a coordenadora do projeto, a professora Suelidia Maria: “Os adultos precisam de um acompanhamento mais particular. Eles apresentam mais dificuldades e nós fazemos um atendimento individual pelo celular”.

Uma das participantes do projeto é Rosana Martins, de 31 anos, moradora do município de Taperoá. Ela sonha em cursar Psicologia e para isso viajava à capital todas as noites, após o expediente, para acompanhar as aulas. Rosana está desenvolvendo trabalho remoto e relata que a suspensão das aulas alterou seu desempenho nos estudos. “Esse período não tem sido dos melhores, a situação mudou de repente. Vinha acostumada com uma rotina, ter o dia e horário do cursinho. Com as aulas suspensas, infelizmente o ânimo para estudar não está o mesmo, não consigo seguir o cronograma e me preocupo”, relata a estudante.

Atualmente, o PET/Conexões de Saberes está utilizando o Google ClassRoom para o envio das atividades e mais recentemente o WhatsApp, que também é usado pela equipe para motivar os estudantes.“Não existem receitas, mas muita sensibilidade e dedicação da equipe. No entanto, sempre adotamos os princípios da Educação Popular e da Educação em Direitos Humanos: dialogicidade, respeito à experiência dos educandos, educação humanizadora e solidária”, conta a professora.

Podemos+

Baseado em princípios similares, desde 2019 a UFPB desenvolve também o cursinho popular Podemos+. A ação de extensão acontece na Escola Cidadão Integral Francisca Ascensão Cunha (FAC), em João Pessoa. Além da capital, essa rede de cursinho comunitário atende estudantes da cidade de Campina Grande e da zona rural de Queimadas, na Paraíba. As aulas preparatórias para o Enem acontecem nos fins de semana.

Segundo o coordenador do projeto, professor José Jonas Duarte, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), a maioria dos jovens atendidos pelo projeto não possui acesso frequente à internet ou computadores. Assim, além de preparar  roteiros e cronogramas de aula, a equipe do projeto está realizando mutirões para ajudar os alunos a realizar as inscrições no Enem. 

O professor revela que encontrar uma ferramenta educacional que alcance todos os cursistas está sendo um grande desafio, pois sem a possibilidade dos encontros presenciais o projeto perde o contato direto com os estudantes e acaba sem ter condições de oferecer a preparação.

Preparação para alunos no interior da Paraíba

A cerca de 60 km da capital, o cursinho Pré-Enem do Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE), no Campus IV da UFPB, vem oferecendo preparação para o ENEM desde 2007. O projeto, que atende estudantes em três polos nas cidades de Mamanguape, Rio Tinto e Jacaraú, teve 340 alunos matriculados em 2019. 

Aula inaugural do cursinho do Litoral Norte - Imagem cedida pela equipe

No entanto, a preparação dos estudantes do Litoral Norte não vai ser como nos anos anteriores, uma vez que as atividades presenciais foram suspensas em virtude da pandemia causada pelo Coronavírus e o projeto não pretende realizar aulas virtuais. Embora esta seja possibilidade interessante, ela exige um acesso às ferramentas digitais incompatível com o perfil dos estudantes do cursinho.

“Nós já pensamos em migrar as aulas para uma plataforma online, mas avaliamos que não teríamos condições de realizar. Nosso público é indígena, é negro, é pardo e são os alunos mais pobres da escola pública de uma região do interior da Paraíba, a internet é ruim até para quem pode pagar”, conta o coordenador adjunto do projeto, o servidor técnico-administrativo Jocelio de Oliveira.

Esse é o caso de Luiz Fernando, de 19 anos, que iria participar do cursinho pela primeira vez. Morador de Rio Tinto, o jovem deseja cursar Letras, mas está com dificuldade de manter o estudo. “Estou me virando como posso. Eu tenho acesso à internet, por isso ainda consigo estudar, mas tem muita gente não tem. Eu concluí o Ensino Médio há dois anos e os assuntos já não estão mais fresquinhos na mente,  então o cursinho tem feito falta”, conta o estudante.

Outra razão que impede a realização das aulas do cursinho é o acesso às tecnologias digitais da própria equipe do projeto. “Os nossos monitores e professores não estão na UFPB, eles estão em suas casas, alguns em outras cidades, em zonas rurais. Nem todos têm acesso à internet e aos equipamentos, [para dar aulas online] iríamos  acabar excluindo do projeto quem não tivesse o equipamento. Não seria um critério justo”, aponta Jocélio.

Para garantir algumas atividades para os estudantes, o projeto está criando alguns conteúdos para disponibilizar nas redes sociais, como explica o bolsista Matheus de Sousa, estudante de Computação: “Estamos investindo em informação para o público, com posts nas redes sociais. Em breve, começaremos a colocar conteúdo no site também. Tentamos nos basear em outras páginas que criam conteúdo com a mesma finalidade para nortear nossas ações”. 

 Pré- ENEM em tempos de distanciamento social, entre desafios e inovações

A preparação para o ENEM oferecida pela extensão, assim com as demais atividades da UFPB, está tendo que se adaptar às condições impostas pelas medidas de distanciamento social, tão importantes no controle da epidemia causada pelo Coronavírus. As equipes seguem atuando para cumprir os objetivos dos projetos, seja oferecendo aulas online ou informações em pequenos formatos.

No cenário da suspensão das atividades presenciais, o desafio de democratizar o acesso aos cursos superiores se torna ainda maior. Contudo, como demonstram as experiências dos projetos aqui mostrados, na extensão universitária, junto com os desafios chegam as soluções. A preparação vai ser diferente, mas não deixará de ser ofertada.

Saiba mais sobre os projetos acessando as redes sociais

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Conteúdo: reportagem de  Ana Livia Macedo, editada por Comunicação PROEX