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Educação Agroecológica

Estudantes visitam a UFPB para aprender sobre o meio ambiente
publicado: 24/07/2018 19h43, última modificação: 09/08/2018 16h16

Estudantes de Gurugi visitam a UFPB para aprender sobre cuidados com o meio ambiente

Gabriel Xavier, estudante do 9º ano, morador da comunidade quilombola do Gurugi, no município do Conde, na Paraíba, tem o solo como a fonte de subsistência de sua família. Filho de agricultores, considera-se, hoje, um jovem consciente dos cuidados necessários para o plantio e a preservação dos recursos naturais que garantem o desenvolvimento e o bem-estar da comunidade. Mas, para obter esse novo olhar sobre o meio ambiente, ele precisou participar de algumas oficinas realizadas na escola em que estuda, entre elas, a de agroecologia.  

Mesmo sem saber, Gabriel estava sendo um dos beneficiados da extensão por meio do projeto “A agroecologia levando a ciência do campo para o Ensino Fundamental”, coordenado pelo docente Fillipe Silveira Marini, do Departamento de Geociências (CCEN) da UFPB. A ação tem como objetivo proporcionar aos moradores do Gurugi conhecimentos básicos sobre o cultivo de alimentos, seus benefícios e os cuidados com a terra.  

Fillipe contou que a iniciativa surgiu quando entrou em contato com alguns moradores quilombolas, pescadores, agricultores rurais e indígenas da região. “Quando saiu o edital  PROBEX, procuramos a prefeitura do Conde para nos indicar uma escola. Ela indicou a Lina Rodrigues e a Albino Pimentel. A partir de então, começamos a trabalhar com base em três eixos principais: agroecologia, Educação Ambiental e Educação no Campo. Dentro dessas ciências, desenvolvemos dois projetos: Horta na Escola e Teatro de Bonecos, nos quais são realizadas oficinas sobre o cultivo de alimentos e os cuidados com o solo”, explicou Fillipe. 

Camila Gadelha, graduanda em Engenharia ambiental, com o intuito de vivenciar mais a Universidade, buscou algum projeto extensionista ligado à Biologia. Desse modo, se envolveu com o projeto da horta nas escolas. Para a bolsista, o retorno das atividades é imediato, fato que traz satisfação para a estudante. “Você ouvir de um aluno que agora tem uma horta agroecológica em casa, e saber que eles têm dentro da cabecinha deles que agroecológico é algo que não agride o meio ambiente, é incrível. Isso pode mudar o futuro, porque serão essas crianças que estarão produzindo no campo, mas agora de uma forma benéfica, tanto para o meio ambiente, quanto para nós” contou.  

O projeto “Teatro de Bonecos – Levando a Educação Ambiental em Escolas do Campo” funciona como facilitador da aprendizagem. Trata-se de um método interativo e prático, no qual as crianças produzem os materiais para as apresentações a partir da reutilização, dando um novo rumo para o que anteriormente era tido como “resto”.  

Victor Hugo, estudante de artes visuais da UFPB, é quem ministra as oficinas. O estudante já tem experiências com a utilização de teatro de bonecos e uniu seu trabalho a seus estudos. No curso de artes visuais, o aluno conta que aprendeu a reutilizar os materiais. “Eu sou artista e o meu trabalho mexe com a parte de reuso das coisas que estão na rua, seja fazer gravura com madeira de demolição ou escultura com papel. Eu faço de tudo pra não jogar nada fora e isso cria esse vínculo com a educação ambiental”, explicou o oficineiro.  

De acordo com Victor Hugo, que é bolsista do projeto do Teatro de Bonecos, o lixo orgânico serve parte da compostagem, e todo material reciclável é utilizado para a criação de bonecos, brinquedos e o cenário do teatro de bonecos. 

Durante as oficinas se trabalha o método dinâmico. “O facilitador da oficina se coloca no mesmo patamar da criança, então, quando a criança cria o boneco, ela o vê como amigo, e, quando o professor faz parte disso, o professor se torna amigo. Com amigo a gente trabalha e aprende mais. Não é só uma hierarquia de sabedoria”, declarou o bolsista. 

Os alunos das escolas atendidas pelos projetos, juntamente com alguns professores e inspetores, visitaram hoje (24 de julho) os laboratórios de Biologia e Geologia da UFPB e participaram de exposições sobre os aspectos hidrológicos e morfológicos da Paraíba. A ideia, segundo o coordenador, é possibilitar o contato entre eles e os conhecimentos que a Universidade oferece, sendo essa experiência uma chance de ampliar a visão a respeito da agroecologia para o desenvolvimento de seus familiares.   

A visita foi articulada pela assessoria de extensão do CCEN, coordenada por Jane Enísia Ribeiro, que  vem desenvolvendo  atividades para fomentar a interação entre os projetos de extensão que estão sendo executados e os laboratórios do Centro.

Na opinião de Maria do Rosário, inspetora da Escola Lina Rodrigues, a visita, uma das etapas do projeto, é uma oportunidade de inspirar o corpo estudantil com relação a importância da sensibilização sobre a adoção de práticas sustentáveis no dia a dia. “Muitos desses jovens dependem da agricultura para sobreviver, e agora estão começando a aprender que essa atividade está interligada à natureza, o resultado é a formação de jovens conscientes do seu papel como sujeito ambiental”, afirmou. 

Laboratório de Biologia - Imagem: Gleyce Marques (2018) Laboratório de Geologia - Imagem: Gleyce Marques (2018)

Sentado na última poltrona do auditório do CCEN estava Charles Miguel, aluno do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professor José Albino Pimental. Com o olhar atento às apresentações e pronto para responder todas as perguntas feitas pelos extensionistas, ele demostrou a paixão que tem pela agricultura. Também filho de agricultores, orgulha-se ao dizer que orientou o pai a criar uma horta em casa. Segundo ele, é uma forma de difundir os conhecimentos obtidos durante os espetáculos dos Teatros de Bonecos. 

 “Sou muito novo, sei disso, mas quem disse que para tomar iniciativas sustentáveis tem idade certa? Amo a natureza e pratico a agricultura, então por que não unir as duas para garantir a subsistência da minha família? E, se duvidar de mim, posso te explicar a diferença entre uma cobra peçonhenta e uma sem veneno”, alegou Charles, uma criança do campo, sustentável e um exemplo para a atual geração.  

Gleyce Marques/ Larissa Maia / Raian Soares - Bolsistas da PRAC