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Meninas nas ciências exatas

Estimulando meninas para as ciências exatas

Projeto estimula o envolvimento de meninas com as ciências exatas
publicado: 14/04/2020 19h06, última modificação: 14/04/2020 19h06

Projeto estimula o envolvimento de meninas com as ciências exatas

 

Há quem goste de ciências exatas quando estudante do ensino médio, mas geralmente a opinião é: detesto, é difícil. Para a maioria a matemática é uma Hidra (monstro mitológico que possui várias cabeças de serpente e corpo de dragão) quando você corta uma das cabeças, aparecem mais duas no lugar, ou seja, quando você resolve um problema, outro já foi criado.  “Mas há uma solução prática, uso como exemplo o filme de Percy Jackson e o Ladrão de Raios, que se resumia em utilizar os olhos da Medusa e petrificar a Hidra, resolvendo o grande enigma”, disse Stefannie Ferreira, que atua em ação que aborda o estigma negativo das ciências exatas.  

Um incentivo para solucionar essa problemática vem do projeto de extensão da UFPB “Women in Engineering: Inspirando Meninas nas Ciências Exatas”, no qual Steffanie é integrante. Esse projeto vai além de intervenções de incentivo para que meninas ingressem nos cursos de exatas, ele busca a melhoria do aprendizado de jovens que estão no ensino médio, nas matérias que são vistas como mais complicadas.  A ideia é facilitar o entendimento oferecendo exemplos práticos dos conteúdos das disciplinas.

O projeto é uma ação de um grupo que busca promover a participação de mulheres nas engenharias, o WIE - Women in Engineering UFPB, que surgiu do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), organização internacional técnico-científica com fins educativos, tecnológicos e científicos. Dessa forma, o projeto entra nas escolas com a proposta de aperfeiçoar a relação dos estudantes com a ciência. A escola pública Pedro Lins Vieira de Melo foi contemplada com as primeiras aulas, nas quais foram dispostas revisões dos conteúdos teóricos, atividades lúdicas, montagens, experiências, programações, robótica, além de ser trabalhado kits educativos para estudos de energias renováveis.  

As aulas acontecem às sextas-feiras, no horário oposto ao das aulas regulares dos alunos do 2º e 3º ano. No início a ação durava cerca de duas horas, mas pela deficiência de conteúdos como matemática básica, os monitores precisaram expandir a carga horária. “Nas primeiras aulas preparávamos os conteúdos do encontro, mas quando íamos aplicar em sala eles estavam bem atrasados ou com deficiências de matemática básica. Esse foi um dos motivos pelo prolongamento das aulas, tivemos que revisar alguns conceitos e aplicabilidades”, relatou Sarah.  

Em uma das primeiras aulas foi perguntado aos alunos quantos queriam seguir para o ensino superior em exatas. Cerca de 80% queria outras áreas, e os demais não sabiam ou não queriam cursar faculdade alguma, salvo algumas excessões que optavam por ciências exatas. Recentemente foi feito o mesmo questionamento e a mudança foi notável, 47% exatas, e 47% nas demais áreas.  

O fator principal para essa mudança é a forma didática como os conteúdos são ensinados, mostrando aos estudantes uma perspectiva na qual é fácil aprender e fazer ciência. Segundo a coordenadora do projeto, Camila Barros, a matemática tem muita abstração, o que dificulta o aprendizado. Quando são oferecidas aulas práticas, os estudantes saem da abstração e passam a enxergar que o conteúdo aprendido tem utilidade concreta. 

Transformar realidades de meninas como Gabriele Virginio é o que motiva os integrantes da equipe. Aos 18 anos e no 3º ano do ensino médio, agora ela tem certeza do que quer para seu futuro. “Eu era péssima em matemática e bem mais ou menos em física, o projeto tem me ajudado muito nessas áreas. Eu quero cursar Engenharia, mas me sentia muito insegura, após as aulas me senti mais confiante e foi muito bom conhecer alunas que estão na universidade”, contou. 

Mesmo que o foco do projeto sejam as meninas, as aulas são disponibilizadas para todos os alunos. Allan Cleyton, 18 anos, está no 2º ano do ensino médio, é um dos alunos assistidos pelo projeto e sente a diferença entre as aulas somente teóricas e aquelas que conciliam conteúdos e praticabilidades. “As aulas apenas teóricas se tornam até chatas, mas quando passa para o lado mais prático a gente percebe que aquilo vai funcionar para alguma coisa, que realmente é útil, a aprendizagem se torna mais sólida”, contou.  

Camila ressaltou a importância de incentivar a participação de meninas para ingresso nas ciências exatas, pois a presença delas na área é defasada em comparação com a presença de meninos. Exemplo disso é o curso de Engenharia da Computação, de 46 alunos feras apenas três são do sexo feminino. “Temos dentro da nossa cultura a predisposição machista. Desde criança somos estimuladas que isso não é coisa para menina. Fazer com que essas estudantes enxerguem mais opções de carreiras e dizer que há possibilidade é essencial”, disse. Lutar contra estereótipos e condições naturalizadas para que a mulher ocupe seu lugar de direito se fez necessário. 

Além das atividades já citadas, o projeto busca proporcionar aos estudantes visitas a locais que inspirem as estudantes, exemplo disso foi a visita realizada no campus da UFPB. “Para que eles estabeleçam os primeiros contatos com ambiente universitário, nessa visita mostramos alguns projetos realizados pelos laboratórios da universidade, exemplo da Fórmula E a impressora 3D”, relatou Sarah Andrade, uma das monitoras e voluntária do projeto.  Aproximar os alunos da realidade universitária é uma forma que a equipe tem para estimulá-los.  

A coordenadora acredita que incentivos como esses podem reverter a situação da atual realidade, mas reconhece a dificuldade de estabelecer intimidade dos alunos com as ciências tão tardiamente. “Acho que seria essencial introduzir essa didática a partir do 6º ano do ensino fundamental, é o ideal para se trabalhar a parte abstrata e concreta das ciências exatas. Porque estaria trabalhando baseado no construtivismo, mas do jeito que fazemos hoje, está um pouco longe de uma mudança drástica”, explicou. Mesmo assim Camila já sente realização com o projeto. Na sua concepção, se ela conseguir transformar a vida de apenas uma pessoa por meio da educação, todo o esforço terá sido válido. 

*Reportagem de Gleyce Marques - Bolsista PRAC (2018)