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Trans-conectando: informação e prevenção para travestis e transexuais

publicado: 22/09/2020 14h13, última modificação: 22/09/2020 14h13

Na pandemia da Covid-19, a vida de pessoas transexuais e travestis foi colocada em risco tanto pelo novo vírus como também por questões econômicas, falta de apoio do Estado e falta de acesso aos principais meios de proteção a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Pensando nisso, o Centro de Orientação e Desenvolvimento de Luta pela Vida, mais conhecido como Cordel Vida, lançou o projeto “Trans-conectando Saúde e Direitos Humanos”. O Cordel é uma organização da sociedade civil que atua desde 2005 desenvolvendo ações que auxiliam na promoção à saúde, defesa dos direitos humanos, da cidadania e da diversidade.

O advogado popular e coordenador do projeto, Igor Bretas, conta que diante da situação pandêmica, a população atendida na Associação de Mulheres Travestis e Transexuais Transfeministas do Estado da Paraíba (ASTRAPA-PB) está entre as mais vulneráveis e a coordenação buscava meios de melhorar a situação dessas pessoas. Isso inspirou o Cordel Vida a entrar em uma parceria levando informações e subsídios que possam impactar na vida dessas pessoas.

“Diante do atual contexto de retrocesso político e social, desejamos não somente atuar na prevenção da Covid-19 e ISTs, contribuindo na diminuição do contágio, mas também desenvolver um ambiente virtual educativo que nos permita dialogar e fortalecer as ações de educação em saúde, cidadania e direitos humanos junto à população TT”, explica Bretas.

Fazendo uso das redes sociais, como Instagram e WhatsApp, o projeto produz conteúdo de caráter educativo e preventivo, além de realizar a distribuição mensal de cem kits de prevenção à Covid-19 e às ISTs. O material pode ser retirados na sede do Cordel ou em conjunto na distribuição de cestas básicas feita pela ASTRAPA-PB.

Na última fase do projeto, será produzido um documentário sobre os sentimentos e a percepção dessa população acerca das políticas públicas de saúde e direitos humanos voltados para elas. Os materiais elaborados também são compartilhados em um grupo do WhatsApp com cerca de 80 pessoas cadastradas na ASTRAPA-PB.

Para a  presidenta da ASTRAPA-PB, Andreinna Villarim, a iniciativa é importante para informar a população trans e travestis, desmistificando boatos que chegam a essas pessoas sobre o tratamento e seus próprios direitos. A falta de informações seguras evidencia tanto uma carência de acesso à saúde básica, como também de políticas públicas destinadas a elas.

“As dúvidas vão sempre existir. É a falta de informação, a falta de acesso a uma informação menos romantizada e menos naturalizada. Eu já ouvi de muitas travestis que ‘eu prefiro ter uma HIV, porque eu tenho um hospital para me tratar”, relata a presidenta da ASTRAPA-PB. Para Andreinna, a pandemia tornou mais difícil ter acesso aos meios tradicionais de evitar infecções e que um projeto que leve a informação tornou-se necessário.

Parceria com o Grupo Marias

A parceria entre o Cordel Vida e o Grupo Marias de extensão e pesquisa em gênero, educação popular e acesso à justiça da UFPB teve início em 2010. Para o projeto Trans-Conectando, o Grupo Marias atua na produção de conteúdos sobre direitos de pessoas trans e das pessoas que convivem com HIV e AIDS. Já os materiais elaborados sobre o tema de saúde são de responsabilidade do Cordel Vida. Além de auxiliar na produção de conteúdo, o Grupo Marias também ajuda na su disseminação.

Para a professora e coordenadora do Grupo Marias, Tatyane Guimarães, o fortalecimento dessa parceria foi muito bem recebida. “O Trans-Conectando é de extrema relevância nesse momento. A gente sabe que a pandemia afetou de forma muito mais violenta alguns grupos específicos, e as mulheres trans e travestis são um grupo extremamente violentado nessa sociedade patriarcal e racista, e que se encontram muitas vezes em vulnerabilidade”, defende.

A estudante de Direito, extensionista Grupo Marias e uma das voluntárias do Trans-Conectando, Raylla Silva, acredita na importância do fortalecimento do movimento de mulheres trans para que ele ocupe vários espaços. Para Raylla, além do crescimento acadêmico e profissional o projeto proporciona um aprendizado mais humanizado.

“Acredito que o principal benefício seja trabalhar a empatia, o olhar humanizado para a realidade do outro, se envolver nas causas buscando uma sociedade melhor, porque quando uma pessoa trans é agredida, a sociedade inteira perde”, salienta Raylla.

O Trans-Conectando é uma iniciativa do Cordel Vida, com apoio do Fundo Positivo e em parceria com a ASTRAPA-PB, Grupo Marias e Coletivo LGBTQIA+ A Resistência e teve início em julho deste ano. Suas ações se estenderão até dezembro, com a entrega de 600 kits de prevenção ao Covid-19 e ISTs.

Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos