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Projeto social distribui internet grátis para mães que moram em periferias

publicado: 09/11/2020 12h21, última modificação: 09/11/2020 12h31

Um dos fatores determinantes para a evasão e atraso educacional é a renda. Segundo os dados divulgados pelo IBGE, em 2019, 11,8% dos jovens mais pobres abandonam a escola antes de concluir o ensino médio; o número é oito vezes maior do que os jovens ricos, que contabilizam 1,4%. Com a pandemia da Covid-19 crianças e jovens pobres estão sentindo o impacto educacional mais fortemente, uma vez que o modelo de aulas remotas não atende aqueles que não têm acesso a internet ou a aparelhos eletrônicos.

“Eu não tenho como colocar internet em casa, cuido dos meus filhos sozinha com o dinheiro que recebo das faxinas. Com a pandemia perdi boa parte da minha renda. Agora está mais difícil que nunca”, lamenta Roseane Brito, que tem dois filhos estudantes da rede pública de ensino em João Pessoa. 

Para Roseane, as aulas remotas não são eficientes, pois nem todos os alunos têm acesso à internet. “A opção que eles deram para quem não tem internet é pegar o material na escola, com os assuntos e atividades. Mas não adianta porque os meninos às vezes têm dúvidas que eu não sei explicar, e eu tenho que perguntar a minha vizinha, ou alguém que entenda do assunto”, argumenta. 

A organização Central Única das Favelas (CUFA) vem intervindo nesta realidade. Durante a pandemia, promoveu ações como distribuição de produtos sanitizantes e de higiene, cestas básicas, auxílio emergencial para mães periféricas. O mais recente é o  projeto “Mães da Favela On”, que pretende entregar mais de dois milhões de chips de celular com acesso gratuito à internet a mulheres com filhos em idade escolar em todo Brasil.

Na Paraíba, a primeira etapa de ações de entrega já começaram neste mês de outubro, na região metropolitana de João Pessoa, a expectativa é que sejam entregues 4 mil chip. Foram beneficiadas mães das comunidades da Matinha, Paulo Afonso, São Luíz, São José, Chatuba, São Rafael, entre outras. A moradora da comunidade Primeiro de Abril, Vilma Felix, foi uma das beneficiárias. “O acesso a essa internet é muito importante para que meus filhos consigam estudar, os planos de wifi são caros e com minha renda eu não conseguiria comprar. Agora, meus filhos  não precisam mais atrasar as aulas, ficar pegando internet dos colegas ou indo na escola pegar as folhas [material disponibilizado pela rede pública].”

A coordenadora da CUFA na Paraíba, Kalyne Lima, explica a necessidade de promover conexões de internet nas periferias. “A internet nesse momento de crise é fundamental, principalmente, para aquelas mães que tiveram sua renda diminuída, que perderam o emprego e que têm filhos que estudam na rede pública de ensino.  Além disso, também queremos que essas mães se qualifiquem. Muitas delas fazem trabalhos autônomos e precisam estar conectadas para realizar as vendas e entrar em contato com os clientes”, defende. 

Vanderleia Santos é moradora da favela Colinas em Gramame e conseguiu ter acesso a diversos benefícios promovidos pela CUFA. “Eu recebi o auxílio emergencial de 240 reais, ovos, álcool em gel. Para mim esse chip foi maravilhoso porque eu usava o wifi da minha vizinha e às vezes faltava o básico para eu poder me comunicar com um parente, resolver alguma emergência e os meus dois filhos poderem estudar. Quem conhece a realidade das pessoas que não têm condições financeiras sabe que isso é uma riqueza muito grande dentro das comunidades”.

Iniciativa

A CUFA comandou uma operação logística com os líderes de comunidade dos 26 estados do país, mais Distrito Federal,  que fez o mapeamento das periferias e o levantamento da situação de vulnerabilidade dos moradores de cada região. Dessa forma, se estabeleceu ordem de prioridade de intervenção para que a conectividade chegasse às áreas de mais difícil acesso e a quem mais precisa. 

“A força de articulação e alcance da nossa rede já se mostrou um grande ativo nos momentos mais desafiadores da crise pela qual passamos. Agora, ao falar de inclusão e retomada econômica e educacional, é hora de usar a nossa capilaridade para fazer os recursos chegarem rapidamente à base da pirâmide social”, explica o fundador da CUFA e idealizador do projeto, Celso Athayde. 

Para o diretor do Data Favela, Renato Meirelles, a iniciativa colabora com a garantia do direito à educação nas favelas, que não está sendo cumprido por falta de acesso à internet. “Hoje, mais da metade dos estudantes que vivem em favelas afirmam não estar assistindo aulas à distância neste período e as principais justificativas são a falta de aparelhos adequados e velocidade de conexão insuficiente. Neste sentido, o “Mãe da Favela On” coloca o tema no centro da discussão e oferece a solução”.  

Para promover as diversas ações a organização depende da ajuda de doações e voluntariado, além disso, firma parcerias com empresas privadas. Quem estiver interessado em colaborar pode fazer sua doação através do site www.maesdafavela.com.br ou entrar em contato através do número (83) 98814-5528

Gleyce Marques | Edição: Lis Lemos