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Projeto da UFPB utiliza literatura no combate à violência contra a mulher

publicado: 06/10/2020 13h58, última modificação: 06/10/2020 14h52

 “O que os livros escondem, as palavras ditas libertam”, escreveu Conceição Evaristo. As histórias dessa escritora trazem dores, angústias e anseios fictícios que se tornam reais para o leitor. São através das palavras, como as de Evaristo, que o projeto de extensão “Palavra-corpo” da UFPB tem trazido a proposta do combate à violência contra a mulher.

O projeto surgiu da pesquisa de Doutorado de Franciane Silva. No estudo, a docente do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFPB teve contato com a encenação da violência contra a mulher nas Literaturas Africanas e Afro-brasileiras. Para dar continuidade a essa atuação, “o projeto surge como uma ferramenta que busca, através do texto literário, sensibilizar para as violências que são praticadas e/ou reproduzidas”.

Conceição Evaristo, Cristiane Sobral e Miriam Alves são algumas das escritoras contemporâneas brasileiras que figuram no projeto. Mas há também espaço para as referências estrangeiras como “Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade”, da bell hooks, que é leitura integrante da formação dos participantes do projeto.

"A literatura é uma ferramenta primordial para a formação escolar do sujeito crítico e reflexivo, porque o texto literário é capaz de incentivar não só o gosto pela leitura, mas também uma maior compreensão dos contextos sociais dos quais os alunos e as alunas fazem parte", Ana Roxelly.

Esses textos têm em comum cenas capazes de desenvolver sensibilidade e empatia em quem os lê. “De cena violenta em cena violenta existe sempre um respiro poético que nos inspira a existir e resistir”, conta Ana Roxelly, estudante de Letras e bolsista do projeto, em sua experiência de leitura de Conceição Evaristo.

Para o estudante João Victor, também participante do projeto, a leitura o fez sentir dentro do suspense, em mais situação de violência contra a mulher. “É uma nova forma de contar uma história, fictícia, não-isenta da realidade”.

Levar essas sensações para estudantes do Ensino Médio e fazer com que reflitam sobre as situações de violência enfrentadas pelas mulheres é um dos objetivos principais do projeto, conforme explica a coordenadora Franciane. “Acreditamos que a adolescência é o momento no qual os jovens começam a manifestar, de maneira mais efetiva, comportamentos violentos em suas relações amorosas. É também nesta fase que as jovens começam a ser violentadas de maneira verbal, física e/ou sexual pelos seus parceiros”, avalia. 

Por essa razão, o projeto traça um diálogo direto com esse grupo para não só fazer com que jovens agressores percebam as violências praticadas, mas também para conscientizar as mulheres. A partir desse contato inicial com a literatura, a intenção é, como pontua Franciane, “encorajar a denúncia, a busca de redes de apoio e, acima de tudo, criar estratégias de fortalecimento da autonomia dessas jovens”. 

Maria do Carmo Melo, professora da Escola Estadual Francisco Leocádio Ribeiro Coutinho, foi uma das primeiras a abraçar o projeto. A docente relembra os casos de violência e feminicídio que têm se tornado recorrente na nossa sociedade e destaca como a literatura pode ter um papel fundamental no entendimento dessa realidade: “A escola como instituição de formação de cidadãos não pode, tampouco deve se furtar de construir diálogos que nos ajude a superar essa mácula em nossa sociedade”.

Durante o primeiro semestre de 2020, a equipe do projeto e a professora Maria do Carmo estiveram em contato para discutir as ações da extensão no formato virtual. Após essa etapa, no início de outubro, as atividades terão início com a leitura e a discussão dos textos entre os jovens. A expectativa é que, ao final do ano, o projeto prepare um e-book com produções realizadas pelos estudantes durante as leituras.

A coordenadora Franciane defende que é através do diálogo com esses adolescentes que se pode ter um dos passos principais para o fortalecimento e a construção de uma cultura de não violência na sociedade. Assim, o projeto “Palavra-Corpo” torna-se um importante aliado para enfrentar essa realidade violenta através da cultura literária.

Ana Lívia Macêdo | Edição: Lis Lemos