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Pré-natal psicológico é alternativa para grávidas durante pandemia

publicado: 17/06/2021 10h03, última modificação: 17/06/2021 10h20

A fase gestacional acarreta diversas modificações na vida de uma mulher. Há mudanças no corpo, na rotina e no estado psicológico. Com a pandemia da Covid-19, muitas emoções já existentes no período de gestação foram intensificadas. 

Pesquisa realizada pelo Departamento de Neuropsicologia do hospital da Universidade de São Paulo (USP), identificou  que as mulheres são as mais afetadas emocionalmente pela pandemia. Das entrevistadas, em média, 40,5% apresentaram sintomas de depressão, 34,9%  de ansiedade e 37,3% de estresse.

A psicóloga perinatal Jacqueline Matias aponta que a pandemia impacta nas emoções das mães, intensificando sentimentos que normalmente fazem parte desse processo. Ela ressalta que isso é ainda mais doloroso para as mães primíparas (mães pela primeira vez). “As emoções foram ainda mais aumentadas com a pandemia. O medo aparece com frequência no relato das mulheres. A pessoa que gesta principalmente pela primeira vez, passa pela construção de um novo papel social e de identidade”, esclarece a psicóloga.

Essa realidade tem feito parte da vida da  empreendedora Ana Karla Campelo, 21 anos, e mãe de Leon Ouriques, de apenas dois meses. Em julho de 2020, ela descobriu estar grávida do seu primeiro filho, em meio ao primeiro ano da pandemia da Covid-19. “Senti algo bom e desafiador. A gestação na pandemia foi assustadora para mim”, confessa. 

Ana relata que após o nascimento do filho, as preocupações aumentaram. O companheiro precisa ir ao trabalho e ela fica sozinha em casa. Sem ter como encontrar os familiares devido à pandemia, a solidão faz parte desse momento. “Está sendo difícil não ter apoio. Evito o contato ao máximo, principalmente, por conta do bebê. Sou eu e meu companheiro para fazer tudo, ele sai para trabalhar e acabo ficando sobrecarregada”, exprime.

Esperando seu primeiro filho, a assistente administrativa Larissa Alves, 23, está preocupada com o momento do parto. A descoberta da gravidez ocorreu no final de 2020 e agora com 31 semanas, ela se sente um pouco aflita. “Eu sempre tive muito medo de cirurgias e ainda mais das complicações que um parto pode ter”, diz.

Recentemente, Larissa tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e a segunda será daqui a três meses. O fato de não se sentir completamente protegida, causa muitas angústias, principalmente por temer que o filho seja contaminado. “Já fui vacinada, senti um certo alívio, mas não me sinto completamente segura. Tenho medo do bebê acabar contraindo o vírus, medo do hospital, de alguém da minha família ser contaminado”, desabafa.

Ela afirma que tem aguardado por dias melhores, nutrindo a esperança de que o filho possa nascer em um momento mais tranquilo. “Espero que tudo esteja melhor quando ele nascer, para ter contato com as pessoas que amo.”

Acompanhamento e apoio

A psicóloga perinatal Jaqueline menciona que recebe muitas pacientes buscando acompanhamento, devido às preocupações no preparo para o parto. Ela conta que o pré-natal psicológico é um atendimento extremamente importante e especializado voltado para mulheres que planejam ter filhos, gestantes, pessoas em processo de adoção ou na fase do pós-parto. 

“A saúde mental é por vezes negligenciada durante a perinatalidade. Essa negligência se dá, em parte, pela idealização e romantização do processo de gestar, maternar e também pelos estereótipos negativos associados às questões psicológicas”, explica, defendendo a importância do cuidado emocional durante e depois do período de gestação.

Jaqueline também afirma que é importante que as mães tenham uma rede de apoio que se inicie desde o ciclo familiar, passando pelo atendimento especializado e a participação em grupos de gestantes para o fortalecimento dos cuidados e suporte nesse processo. 

Em João Pessoa o grupo de apoio à gestação, parto e puerpério A.M.AH,  tem desenvolvido serviços de amparo às mães no processo de maternagem, acolhimento e humanização desde 2019. A equipe é formada por cinco mulheres e também mães, as doulas Daine Wood, Fabiana Malheiros, Mayara Barbalho, Rafaela Paiva e Pamela Siqueira, que acreditam na importância  de uma  maternidade vivenciada em conjunto.

As rodas de diálogo oferecidas pelo grupo são gratuitas e têm como público-alvo gestantes, tentantes e puérperas, abordando temas desde a fase gestacional até o pós-parto.  Devido à pandemia da Covid-19, as rodas de conversa ocorrem de forma online pela plataforma Google Meet. Para participar, basta acessar o Instagram do grupo e solicitar o link da reunião, Há também um grupo no aplicativo Telegram, onde materiais de estudo são compartilhados. O link para acesso está disponível no perfil da equipe.

Em 2020, a psicóloga Jaqueline Matias lançou o  documentário “Vulnerável, sobre o nascer na paraíba”, fruto da sua pesquisa de doutorado sobre a avaliação da assistência obstétrica na Paraíba. A direção do documentário foi realizada em parceria com a cineasta mineira Ana Moravi e está disponível no YouTube .

 Extensionista: Crislaine Honório | Edição: Lis Lemos