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Falta informação sobre saúde sexual para mulheres lésbicas e bissexuais

publicado: 19/11/2020 15h14, última modificação: 19/11/2020 15h19

A invisibilidade das relações entre mulheres lésbicas e bissexuais traz consequências para a saúde sexual desse grupo. Segundo a enfermeira e mestra em Políticas Públicas para Mulheres na Saúde, Brena Meira, os profissionais de saúde, quando estudantes, aprendem sobre  as “funções reprodutivas da mulher”, mas não são ensinados a prescrever técnicas de caráter preventivo para lésbicas ou bissexuais. Uma das razões é que não existem guias e nem métodos específicos e seguros para essa população.

Entre as consequências estão no fato de que muitas mulheres lésbicas e bissexuais não se percebem em risco para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como o HIV/AIDS, por exemplo. Brena conta que existe um pensamento que essas mulheres não precisam ir ao ginecologista e fazer exames. Segundo pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), uma quantidade significativa acredita que não está em risco, uma vez que se relaciona apenas com mulheres.

“Na mulher, as doenças são mais silenciosas, e quando os sintomas aparecem, o quadro patológico está instalado e avançado. Essa impressão que as mulheres têm, de que, se relacionar com outra mulher é mais seguro, também é uma crença cultural. O homem sempre aparece como vetor de qualquer enfermidade, quando não é verdade”, explica a enfermeira.

Sexo seguro

Brena Meira aponta que algumas mulheres preferem chegar ao orgasmo através da estimulação do clitóris, dispensando a penetração. No entanto, isso não significa que elas não tenham contato com mucosas e fluidos, que pode ocorrer através dos dedos, língua ou brinquedos utilizados. 

“A relação sexual entre duas mulheres é abundante em troca de fluidos e toque entre mucosas, logo, é preciso que se pense em uma maneira de minimizar riscos para este grupo. É preciso que essa informação chegue com muita naturalidade à academia e aos consultórios”, defende a enfermeira. A falta de informação pode causar infecções e impedindo a vivência da vida sexual. Para a enfermeira,  é importante fazer exames de rastreio, como o papanicolau e o de câncer de mama, assim como os exames sorológicos.

Ida ao ginecologista 

Segundo a enfermeira, a falta de debate leva a um “distanciamento do profissional por lidar com algo que não foi discutido com exaustão”. Para ela, o principal problema está nas ações de caráter preventivo, que amplia o distanciamento do profissional em relação à sua paciente.

A estudante Thayná Fernandes relata que a falta de informações da médica que a atendia impacta diretamente na relação de confiança em relação a esta. Ela conta que se sentiu desconfortável no ambiente, e decidiu procurar outro profissional. “Na minha antiga médica me incomodava o fato dela não saber como orientar mulheres lésbicas e bissexuais, não falava sobre formas de proteção, IST's e tudo mais, apenas me prescrevia e orientava como se eu fosse uma mulher heterossexual”, relembra a estudante.

O conceito de “sexo” pode levar a milhares de debates, mas durante muito tempo ele foi associado à reprodução e relação entre um pênis e uma vagina. No entanto, embora essa explicação esteja ultrapassada, segue-se mantendo sistemas arcaicos.

“Sei que o sexo e suas "ramificações" ainda são um tabu para a sociedade de uma maneira geral. Existe uma resistência em compreender que as pessoas fazem sexo para ter orgasmo, por prazer, sem demais finalidades. Essa resistência não parte apenas do profissional de saúde, é cultural, e as crenças culturais são as mais difíceis de serem quebradas”, afirma Brena. 

 

Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos