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Mulheres do quilombo Mituaçú fortalecem laços através do artesanato

publicado: 25/06/2021 11h10, última modificação: 25/06/2021 11h14

Localizado a 25 km de João Pessoa, o quilombo de Mituaçú cresceu entre os rios Jacoca e Gramame, no município do Conde, e possui 400 famílias, segundo o Observatório Terras Quilombolas. Há cinco anos, o quilombo recebe a visita do projeto de extensão Histórias de Quilombo, que já desenvolveu na comunidade oficinas de audiovisual, artesanato e até um documentário sobre o Rio Gramame.

A partir de conversas com os moradores do quilombo, o projeto amadureceu as atividades desenvolvidas em parceria, visando sempre a troca e aprendizado com a comunidade. Quando cada morador apresentava sua habilidade, Dona Penha, uma das moradoras, colocou-se à disposição para ensinar a técnica do fuxico. 

A partir daí, em 2019, foi criado o Fuxico de Bem, uma oficina de artesanato composta por uma maioria feminina que aprendeu a bordar e fazer fuxico. Esse fuxico é realmente do bem: é uma técnica, que utiliza tecido franzido e costurado à mão e que pode ser utilizado para ornamentar outras peças, como toalhas de mesa e almofadas.

Apesar da oficina ter o objetivo de ensinar a técnica, um dos pontos altos desses momentos era o próprio ato de fuxicar, no sentido comum da palavra, ou seja, conversar entre elas. Durante as aulas, elas trocavam experiências, contavam histórias da comunidade e cantavam.

Esse fuxico traz paz, esse fuxico é do bem.
Esse fuxico é saudável e não faz mal pra ninguém.
Se quiser junte-se a nós para fuxicar também.
Fuxico é alegria, fuxico é diversão,
fuxico é terapia, fuxico é descontração.
Fuxico faz bem para a alma e também para o coração.
- Cordel de Ivanilda Gusmão, sobre a oficina do Fuxico de Bem.

Patrícia Pinheiro, coordenadora da extensão, explica que o perfil das participantes era bem variado, em termos de idade, profissões ou ocupações. "Algumas delas, já aposentadas, deixavam muito explícito que o objetivo maior era estarmos juntas, cantarmos juntas, ouvirmos histórias e desabafos compartilhados", relembra a coordenadora.

A professora também afirma que, apesar de algumas das mulheres comercializarem seus produtos, a oficina não tinha objetivo de oferecer uma nova opção de renda para as moradoras, mas ser um ponto de encontro e compartilhamento de conhecimento e sentimentos. “As oficinas não tinham o objetivo de renda, e sim de valorização das práticas locais, fortalecimento do grupo, da amizade, da autoestima, por meio da tessitura de fuxicos e também de afetos”, explica.

O projeto é desenvolvido na escola Ovídio Tavares de Morais, localizada dentro da própria comunidade. As participantes do Fuxico de Bem são, em maioria, mulheres da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que funciona na escola. Ainda em 2019, após o período de chuvas da região, elas passaram a desenvolver as atividades em uma casa próxima a instituição, já que a escola ficou incapacitada de sediar as atividades. Segundo Patrícia Pinheiro, o espaço continua sem estrutura adequada.

No meio do fuxico tinha uma pandemia

Em toda celebração da escola municipal, a toalha de Dona Penha era pedida para enfeitar a festividade. A partir daí surgiu a união de extensionistas e mulheres de Mituaçú em um só objetivo: confeccionar um presente para toda a comunidade, a nova toalha da escola. Esse projeto rendeu outro, uma toalha bordada e cheia de elementos significativos para os moradores, mas não houve tempo para terminar. No meio da produção, veio a pandemia.

A artesã Juberlânia Soares, 35, que nunca havia participado de outra atividade do Histórias de Quilombo antes do Fuxico de Bem, conheceu o projeto após o convite da diretora da escola municipal; gostou e passou a frequentar todas as oficinas. Ela começou a trabalhar com artesanato após as aulas e vende algumas das suas peças, mas não vive da renda dos produtos. O fim das atividades é lembrado com melancolia por ela. “Me senti muito triste. Quando a gente se reunia era muito bom, era só alegria.”

O projeto precisou suspender as atividades presenciais e, para diminuir a distância, utilizou a criação desenhos, foto-videos, trocas de áudios; também foram produzidas peças audiovisuais e cards informativos sobre a Covid-19. Além disso, a extensão também buscou fortalecer a comunicação com algumas lideranças locais e agentes comunitários para que fosse possível dar maior apoio para a comunidade. Em parceria com o Observatório Antropológico, projeto de extensão da UFPB, a comunidade foi beneficiada com artigos de higiene e brinquedos.

Em 2021, o projeto pretende produzir e lançar um programa na rádio comunitária, possibilitando que toda a comunidade possa ter acesso ao fuxico. Essa também é uma alternativa da extensão para permanecer realizando atividades remotas e, segundo a coordenadora, o assunto do programa será inspirado em algumas temáticas que surgiram nos encontros do Fuxico de Bem, como a troca de receitas, contação de causos, relatos biográficos, histórias da comunidade e outros. Acompanhe as redes sociais do projeto para conhecer mais sobre seu trabalho.

 Extensionista: Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos