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Gestantes e puérperas enfrentam espera pela vacina contra Covid-19

publicado: 15/06/2021 14h55, última modificação: 15/06/2021 14h55

“Eu me vacinei contra a Covid-19 no dia 1º de maio. Um dia após completar as tão esperadas 12 semanas. Tomei a vacina por ser grávida com comorbidades, porque infelizmente estou com diabetes gestacional. Não tive medo em nenhum momento, confio na ciência e sempre me mantenho informada sobre os riscos da covid na gravidez até antes de saber que estava grávida, por ter uma prima-irmã também grávida. Quando a gente se informa, entendemos tudo direitinho e corremos menos riscos.” 

As palavras são da gestante Marta Barreto. No post do instagram, ela comemora a primeira dose da vacina. No entanto, o alívio dela e de tantas outras mulheres grávidas que se vacinaram com o imunizante Astrazeneca/Oxford se transformou em angústia desde que a Anvisa desaconselhou e suspendeu o uso do imunizante para o grupo de gestantes e puérperas. 

A jovem conta que tem sido muito difícil lidar com o excesso de informações e desinformações lançadas durante a pandemia, principalmente sobre a vacinação. “Fico estressada, cheguei a ter um pico de glicemia quando saiu a notícia que a Astrazeneca tinha sido proibida para gestantes com poucos dias após eu ter tomado a minha. Eu pensei que ia morrer de chorar nesse dia”, lamenta. 

A história de Marta se une a de tantas outras mulheres que estão vivendo um período de temor e incertezas desde que se descobriram mães durante a pandemia. “Sinto muito medo, muita saudade e em alguns momentos me sinto sozinha. Porque não estou podendo ver minha mãe, meus parentes e afins. É difícil vivenciar isso tudo só”, confidencia a jovem. 

A recomendação do Ministério da Saúde é para que as gestantes vacinadas com a vacina da Astrazeneca completem o ciclo vacinal com o imunizante, mas esperem o fim do puerpério, 45 dias após o nascimento do bebê, para tomar a segunda dose. A decisão, no entanto, não é bem vista por especialistas. “Primeiro que, com a própria vacina da Oxford-Astrazeneca, não há risco fetal. O único efeito que foi demonstrado, até agora, foi um risco aumentado, embora mínimo, de trombose. [...] e o risco [de trombose] da covid-19 é em torno de 16,5%. Então, se a gente for fazer uma análise de custo-benefício, é muito melhor vacinar, porque vai prevenir o risco de trombose da covid-19 e a chance de ter uma trombose induzida pela vacina é muito, muito reduzida”, analisa a obstetra e ginecologista Melania Amorim. 

A orientação do governo federal desampara um grupo que tem sido atingido violentamente durante a pandemia. “Eu sou asmática e a diabetes também me coloca num grupo de risco imenso, sem contar a gestação em si. Foram mais de mil mortes maternas pela covid no Brasil e eu posso ser uma delas se nada for feito em relação a segunda dose”, lamenta Marta.

Grupo Prioritário

Quem também vem enfrentando uma longa e angustiante espera pelo imunizante são os grupos de mulheres grávidas sem comorbidades. Isto porque, após ter incluído estas e as puérperas no grupo prioritário do Plano Nacional de Imunizações, o Ministério da Saúde mudou a orientação para que apenas aquelas com comorbidades sejam imunizadas. A decisão foi tomada após a nota emitida pela Anvisa que suspendeu o uso do imunizante da Astrazeneca. 

Melania Amorim alerta para o perigo de deixar as grávidas e puérperas sem comorbidade de fora da vacinação. “A gravidez e o puerpério por si só já são fatores de risco para a doença, então se você vacina somente aquelas com comorbidade, você vai deixar de fora um número grande de mulheres que podem adoecer, ter complicações e morrer em decorrência da covid-19”, afirma. 

A profissional de saúde Gleycia Bezerra está dentro do grupo de mulheres grávidas sem comorbidade e tem sofrido com a espera pela vacinação. Ela conta que desde quando a imunização foi estendida para as gestantes, tenta ser vacinada, mas ainda não obteve êxito. “Tenho a autorização e sou profissional de saúde, eu tenho direito a vacina. Mas o que nos resta, por enquanto, é a rede de apoio, temos muitas médicas lutando pela vacinação de gestantes, independente de comorbidade. Já que está mais do que provado o que a Covid tem causado em gestantes, inúmeros bebês órfãos de mães que poderiam ter tomado a vacina se houvesse um olhar diferenciado para elas”, diz a fisioterapeuta. 

Melania integra a Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, que luta pela vacinação de todas as gestantes, e vem alertando, desde o ano passado, que a gravidez e o pós-parto são períodos com maior risco de desenvolver complicações e de morte materna por Covid-19. "O que não era esperado era esse número absurdo de mortes maternas que o Brasil teve em 2020 e que só tende a piorar, porque é mais de duas vezes maior agora em 2021. Isso pode ser atribuído tanto às falhas assistenciais gritantes que nós tivemos, como também, possivelmente, à emergência de uma nova variante, porque nós estamos tendo um maior número de casos e eles são mais letais”, declara. 

A letalidade da doença no ciclo gravídico-puerperal mais que dobrou este ano em comparação à 2020. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), no ano passado, foram 544 óbitos de mulheres durante a gestação ou pós-parto. Em 2021, até o dia 26 de maio, já foram registrados 911 vítimas. Por isso, a urgência em garantir uma vacinação ampla para gestantes e puérperas com e sem comorbidades. Em alguns estados, a vacinação tem sido para ambos os grupos. A maioria, no entanto, tem seguido a recomendação do Ministério da Saúde, apenas com comorbidades. 

Na Paraíba, grávidas e puérperas com comorbidade estão sendo imunizadas com as vacinas do Butantan e Pfizer. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, as mulheres inseridas no grupo sem comorbidade também podem ser vacinadas, desde que tenham autorização por escrito de seus obstetras e estejam inseridas nas fases da vacinação. 

Extensionista: Aléssia Guedes | Edição: Lis Lemos