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Enfermeiras sofrem com sobrecarga de trabalho durante pandemia

publicado: 25/06/2020 17h27, última modificação: 25/06/2020 17h50

Segundo o Conselho Regional de Enfermagem  da Paraíba (Coren-PB), dos mais de 45 mil profissionais atuando na pandemia da Covid-19, 37 mil são mulheres que atuam enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem. Sendo a maioria no sistema de saúde, as mulheres se deparam com carga de trabalho excessiva, com desgaste psicológico e as escolhas difíceis que precisam tomar entre o trabalho e a família.

A enfermeira da UTI Neonatal da Maternidade Frei Damião, Rossana Araújo, conta que precisou fazer mudanças na rotina. Devido ao perigo da contaminação do novo coronavírus, preferiu ficar em isolamento com o marido para preservar a saúde dos filhos, da mãe e irmã. “O impacto mais cruel foi escolher entre a profissão e a presença e criação dos filhos. O dilema entre meu trabalho e meus filhos foi muito agressivo no primeiro mês, me cobrei e fui cobrada por essa decisão”, conta.

Há dois meses afastada dos familiares, a enfermeira só consegue ver os filhos pelo carro, quando leva as compras na casa da mãe, quinzenalmente. Buscar alternativas na nova rotina foi uma maneira encontrada por Rossana para manter o contato e alguma rotina com a família, mesmo que distante.“Temos feito almoços on-line. Compro o mesmo alimento para eles e para nós, cozinhamos e marcamos um horário de encontro”, relata a profissional. 

Exaustão psicológica                                                                                   

Com o intuito de minimizar os efeitos do excesso de trabalho e auxiliar a categoria, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) tem disponibilizado atendimento psicológico on-line para aqueles que estejam precisando do suporte. O atendimento é feito por meio de chat disponível no site do conselho e pode ser acessado a qualquer hora.

Rossana atribui o desgaste psicológico ao acúmulo de atividades nesse momento. “Estou sacrificando a minha dinâmica familiar em nome de plantões desgastantes, com contenção de EPIs e alimentação de baixa qualidade”, afirma.

Na experiência da enfermeira Isabela Furtado, que trabalha na área de Neonatologia da Maternidade Frei Damião, o desgaste psicológico já resultou em diversas demissões entre os colegas. "Infelizmente no meu serviço não há nenhuma ação de suporte psicológico aos funcionários que estão diretamente voltados à assistência", lamenta.

A exaustão não vem somente do trabalho que tem uma rotina estressante ou da preocupação com os pacientes. Os receios a acompanham também na volta para casa. "A relação com minha família tem sido preenchida por bastante medo, principalmente, porque meus pais são idosos e portadores de doenças crônicas".

As mais afetadas

Apesar do tratamento de heroínas que a mídia vem dispensando a essas profissionais, a média salarial das enfermeiras na Paraíba é um dos mais baixos entre os profissionais de saúde. “Infelizmente não temos um piso salarial nacional aprovado. Dessa forma, os serviços podem contratar por qualquer valor, e como temos uma quantidade grande de profissionais, a lei da oferta e da procura favorece esses baixos valores” ressalta a presidente do Coren-PB, Renata Ramalho.

Para a enfermeira Rossana, é necessário dar visibilidade à realidade de sobrecarga de trabalho dessas profissionais no sistema de saúde, com cargas horárias que podem chegar até 48h. “É a enfermagem que mantém setores abastecidos, que organiza os fluxos, que presta os cuidados. A enfermagem brasileira tem como base mulheres, negras e mães o que culmina em desrespeito a classe por parte do sistema”, defende.

Mortes entre as trabalhadoras

De acordo com o Cofen, as mulheres formam a maior porcentagem das mortes no setor, sendo 64,2% dos óbitos. A Paraíba registrou três mortes, sendo duas mulheres, de São Sebastião da Lagoa da Roça, distante 140km de João Pessoa. As irmãs Simone Calixto de 43 anos e Ana Lúcia Calixto, 40 anos faleceram em maio, com apenas quatro dias de diferença.

 

Michelly Santos | Edição Lis Lemos