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Depressão periparto atinge uma a cada quatro brasileiras

publicado: 09/10/2020 13h36, última modificação: 09/10/2020 13h38

Eu não tinha nenhum sentimento pela minha filha, não suportava o pai dela nem ninguém perto de mim, e só queria dar fim na minha vida”. Esse foi o sentimento da vendedora Rayana Francelino após o nascimento da sua filha. Segundo dados de pesquisa da Fiocruz, uma entre quatro mulheres brasileiras sofrem de depressão pós-parto. Ou seja, a doença atingiu 25% das mulheres que engravidaram em 2019. 

Rayana teve uma gravidez conturbada. Mãe aos 18 anos, sua gravidez era de risco e para garantir um bom ciclo gestacional precisou fazer uso de diversas medicações. Além disso se sentia sozinha, pois não tinha uma relação estável com o pai da criança. “Vivia triste e chorando pelos cantos”, conta sobre o período após o nascimento da filha.

A psicóloga perinatal, Jacqueline Matias, explica que a doença acomete as mulheres não só no período pós-parto. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a depressão periparto não ocorre apenas após o nascimento do filho, uma porcentagem das mulheres desenvolve a sintomatologia dessa depressão no último trimestre de gestação. Por isso, a mudança de nomenclatura, já que periparto significa ao redor do parto.”

Jacqueline explica que a doença é um transtorno mental associado ao humor deprimido, não é simplesmente uma tristeza materna, nem apenas uma variação de humor, como é frequente nas duas primeiras semanas após o parto. “A depressão periparto, assim como outros transtornos mentais, possuem causas multifatoriais. No entanto, nós falamos em alguns fatores de risco que estão associados ao seu desenvolvimento, dificuldades socioeconômicas, como questões hereditárias, a presença anterior à gestação de um diagnóstico de depressão, gravidez indesejada, entre outros", completa. 

Outro fator de risco associado é o estresse durante a gestação, algo que se intensificou na realidade das mães por causa da pandemia da Covid-19. “Eu e meu bêbe fazemos parte do grupo de risco da doença, depois que fiquei sabendo da síndrome (Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica associada a Covid-19) minha tensão aumentou e estou com muito medo”, conta Graziela Medeiros, que está no sétimo mês gestacional e foi diagnosticada com depressão periparto.

A psicóloga acredita que a prevenção é uma das ferramentas para evitar o transtorno. “É possível realizar um trabalho preventivo com as mulheres e suas famílias já durante a gestação. Na psicologia nós chamamos este trabalho preventivo de pré-natal psicológico. Ele não substitui o pré-natal convencional obstétrico, mas é um trabalho de assistência complementar que visa uma abordagem à saúde integral da gestante.”, explica.

Sintomas da doença: Tristeza profunda; Desesperança; Sentimento de culpa e auto-recriminação; Ausência de prazer ou desinteresse pelas coisas e pelo cuidado com seu filho; Insônia ou muito sono; Alterações no apetite

Em João Pessoa, o serviço de acompanhamento psicológico não existe vinculado às maternidades. Segundo o presidente da Maternidade Cândida Vargas, José Gomes, a instituição oferece assistência em alguns casos que julgam necessário. “Chamamos um psiquiatra que presta serviço a maternidade para fazer a avaliação, prescrição médica inicial e encaminhamento para o CAPS mais próximo da moradia da paciente”, informa Gomes. 

O diagnóstico e tratamento são essenciais para a cura da doença. Quando não feito adequadamente as consequências são múltiplas e atingem não só a mãe, mas todas as pessoas que convivem com a mulher em depressão. “O tratamento para a depressão periparto inclui acompanhamento psiquiátrico com uso de medicações e acompanhamento psicológico com psicoterapia. Além dos tratamentos com medicamento e psicoterapia, é importante frisar a importância de uma boa rede de apoio que  esteja disposta a auxiliar a mulher e sua família desde os primeiros dias de vida do filho", avalia Jacqueline.

O apoio dos familiares foi decisivo para Rayana na busca de ajuda profissional e diagnóstico da doença. “Eu tentei  esconder o meu mal estar até o fim, mas minha família percebeu meu comportamento estranho e resolveu me levar ao psicólogo. Além de depressão, eu fui diagnosticada com fobia social. Depois disso eu fui a um psiquiatra e comecei a tomar vários remédios, comecei a praticar exercícios físicos e fazer mais o que eu gostava. Hoje eu me sinto totalmente curada, hoje eu amo minha filha mais que tudo, só sofro por não ter aproveitado quando minha filha era bebê.”

Gleyce Marques | Edição: Lis Lemos