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Com isolamento social, mulheres trabalham mais

publicado: 15/04/2020 10h18, última modificação: 15/04/2020 11h30

Com a pandemia causada pelo novo coronavírus e, consequentemente, com o isolamento social, o espaço doméstico passou a ser o único lugar para todas as atividades de toda a família. Estudar, trabalhar, descansar, se divertir são atividades agora realizadas unicamente em casa. Dessa forma, a dupla jornada de trabalho das mulheres tende a se acentuar.

“O trabalho doméstico tem sido realizado muito mais pelas mulheres, seja qual for a condição em que ela esteja. É importante destacar que historicamente e culturalmente as atividades domésticas e de cuidados com familiares foram delegadas às mulheres”, afirma a professora do curso de Psicologia da UFPB, Valéria Rufino. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de pesquisa realizada em 2018, 92,2% das mulheres realizaram algum trabalho doméstico ante 78,2% dos homens.

Acúmulo de trabalho

Além da sobrecarga de trabalho aliando o home office com os cuidados domésticos, as mulheres estão suscetíveis a uma carga mental ainda maior, pois cabe a elas as decisões da vida doméstica. “Via de regra, o planejamento e a delegação do que fazer compete à mulher”, sentencia Valéria, que desenvolve atividades de pesquisa e extensão sobre a relação entre trabalho e gênero.

Ana Karen Cavalcante é confeiteira, mora com a filha de três anos, um sobrinho de 12 anos e a mãe, com quem divide as responsabilidades pelo cuidado da casa e das crianças. No entanto, mesmo realizando seu trabalho no espaço doméstico antes do isolamento, percebe que sua rotina mudou, uma vez que as aulas estão suspensas desde o dia 18 de março .

“Às vezes a gente se estressa um pouco porque fica uma rotina pesada. Eu continuo trabalhando, produzindo durante a semana e também aos fins de semana e descanso na segunda”, desabafa Ana. Uma de suas principais preocupações é com a renda familiar, pois as vendas dos bolos que produz tem diminuído. Embora tenha solicitado a renda básica emergencial, seu pedido continua em análise.

A pedagoga e doutoranda em Educação na UFPB, Cristiane Sousa de Assis, também avalia que tem trabalhado mais horas nesse período do que antes do isolamento social. Ela é coordenadora do Polo João Pessoa que faz parte da Universidade Aberta do Brasil (UAB) oferecendo apoio presencial a cursos em EaD e professora em uma faculdade particular da capital. Com o trabalho em casa, tem ministrado aulas via plataformas online, além de atendimento aos estudantes e reuniões com equipe.

Adaptação

Cristiane afirma que uma das maiores dificuldades do momento é a organização do tempo, pois ocorreram muita modificações na sua forma de trabalho. “Esses últimos dias têm sido intensos, me sinto muito sobrecarregada com as tarefas do trabalho. Minha jornada de trabalho triplicou. Estamos praticamente 24 horas à disposição”, afirma Cristiane, que mora com o marido e dois filhos de 16 e 19 anos.  

“Às vezes a gente se estressa um pouco porque fica uma rotina pesada. Eu continuo trabalhando, produzindo durante a semana e também aos fins de semana e descanso na segunda”, desabafa Ana.

No entanto, ela afirma que o trabalho doméstico não sofreu alteração e que sempre houve divisão de tarefas na sua família e isso tem sido mantido. “Nós já somos bem resolvidos nesse sentido aqui em casa, então não houve sobrecarga para ninguém”, explica.

Maior equidade da divisão do trabalho doméstico e, portanto, menor sobrecarga sobre as mulheres pode ser um fator positivo da intensficação do convívio famliar. “Podemos aproveitar esse momento para provocarmos a reflexão e a discussão dessa disparidade da responsabilização das atividades domésticas e familiares para que possam chegar ao ideal de modelo de atividades compartilhadas de forma em que haja equilíbrio entre os membros da casa”, considera a professora Valéria Rufino.

 

Lis Lemos