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Catrina é representação de diversas mulheres pelo grafitti
Tudo é correria no cotidiano frenético que movimenta as ruas de João Pessoa. Detalhes do meio urbano podem passar despercebidos, mas para diversos artistas, os muros esquecidos e cinzas da cidade são espaços de expressão e comunicação. Quem transita pela capital pessoense, com certeza conhece a icônica personagem Catrina da graffiteira Priscila Lima, mais conhecida como Witch. Catrina é a força da feminilidade sem estereótipos, de mulheres livres e que lutam.
A luta acompanha Witch desde os 15 anos, quando começou a se inserir no movimento artístico através do pixo. “Minha mãe devia se perguntar onde eu coloquei todo o conhecimento sobre artes e porque não o usava para pintar telas, papel, qualquer superfície em que eu não corresse risco de ser presa”. Por ser uma garota tímida na época, a sua voz era sua TAG (assinatura do graffiteiro ou pixador) nas ruas. “Inicialmente, meus trabalhos eram para ver como as minhas técnicas estavam evoluindo e não era uma coisa que eu tivesse que mostrar para os outros. Era para me sentir bem vendo uma coisa que fiz em um muro legal”.
A produção artística sempre existiu na vida de Priscila. Seu primeiro contato com a arte foi através de leituras; os pais professores sempre incentivaram essa prática. Quando criança tinha a seu alcance materiais que a estimulavam artisticamente, como quadrinhos, livros de história da arte, materiais de pintura como papel, tinta guache, lápis de cor. Uma nova perspectiva se abriu para a artista após a leitura de revistas sobre graffiti. Conhecer diversos artistas brasileiros expondo seus trabalhos em murais, estimulou a artista a investir em bombs (letras ou desenhos de graffiti rápidos).
A inquietação para criar sua identidade urbana começou a fazer parte de seus estudos, mas até então a única coisa que a identificava era a sua assinatura. No final de um evento no Espaço Cultural em João Pessoa, foi feita uma culminância de um mural com bombs. Witch estava grafitando a letra W, mas acabou saindo errado, então do W ela fez a cabeça de uma caveira e gostou do que viu. Foi aperfeiçoando e surgiu sua icônica personagem, a Catrina.
“Catrina é a personagem que criei. Às vezes ela é uma criança, passeando por um universo lúdico, cheio de cores. Às vezes ele é uma mulher que luta por seus direitos, que expõe suas ideias. Há quem pergunte se Catrina sou eu. Tem vezes que acho que é, mas Catrina são várias em uma só. Todas as mulheres que admiro, que amo, que convivem comigo, mulheres que vejo na rua, todas viram Catrina. Todas me inspiram”, conta.
Além das ruas, as oficinas das quais participava foram também espaços de aprendizado. Arte e educação norteiam a sua formação artística. Não demorou muito e passou de aluna a professora, estimulando novas gerações nas produções de intervenções urbanas. Espelhada em sua vivência, comunidades carentes sempre são o alvo das suas produções culturais. Em 2018, seu projeto Festival de Arte Urbana de Ponta a Ponta foi aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura (FMC) e presenteou várias praças da cidade, dando preferência às comunidades como Costa e Silva, Alto do Mateus, São Rafael e outras, com painéis de graffiti.
Além disso, o trabalho de Witch também está sendo estudado em livros didáticos em escolas. “Sempre notei que o fato de saber ler e interpretar direitinho, era quase um privilégio quando se é de um bairro de periferia, onde nem todo mundo ia para escola. Quando o MEC me ligou pedindo para usar meu trabalho como referência em livros didáticos, topei na hora!”, conta animada.
Gleyce Marques | Edição: Lis Lemos