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“Ler mulheres é promover justiça social”: clube de leitura debate obras de escritoras

publicado: 01/12/2020 18h02, última modificação: 01/12/2020 18h02

“Ler mulheres é incentivar escritoras, poetas e a todas nós – que somos, como dizia Freire, primeiro leitoras do mundo e depois, da palavra. Ler mulheres é promover justiça social”. Essa é a afirmação da mestranda em Literatura e mediadora do clube Leia Mulheres João Pessoa, Naíla Cordeiro , voltado para discutir obras de mulheres escritoras. O projeto busca quebrar a realidade  de apagamento das mulheres escritoras e tornam-se protagonistas no fortalecimento de um movimento que se espalhou pelo Brasil e mundo.

Em 2015, três mulheres na cidade de São Paulo decidiram apoiar o movimento #readwoman2014 da escritora britânica Joanna Walsh. Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques criaram um clube literário presencial, chamado Leia Mulheres, com o objetivo de dar visibilidade a escritoras em um mercado editorial ainda muito restrito. A iniciativa se expandiu e, atualmente, o projeto possui mais de 150 clubes espalhados por várias cidades do Brasil.

Em João Pessoa, o clube foi criado em 2016 por cinco mulheres. Segundo Naíla Cordeiro, o projeto tenta suprir uma carência universal: a pouca circulação de escritoras e suas obras. Além disso, o clube busca “promover a literatura de autoria feminina e toda a potência que ela pode causar - e causa”, explica.

A diversidade na escolha das obras, passando por autoras clássicas, contemporâneas, de países diferentes ou da Paraíba, de etnias e orientações sexuais diversas é um dos objetivos do grupo. A escolha das temáticas é feita pelas mediadoras. São elas também que escolhem três opções de livros, a partir de pesquisas e sugestões, para uma votação aberta no perfil do Instagram e a obra mais votada é escolhida para a discussão dos próximos meses. A votação é trimestral para permitir que as participantes consigam se planejar melhor. 

Para a psicanalista e participante Stephanie Olimpio, o grupo se tornou também um espaço para socializar e poder conversar sobre o mundo, sobre histórias e literatura, produções de outros países e cultura que  não conhecia, além da possibilidade de poder trocar isso com pessoas com os mesmo interesses na literatura que o seu.

“Eu acho que fazer parte do grupo é reescrever a minha história no feminino. Poder construir a minha voz dentro do feminino, com ajuda dessas mulheres tão fortes, poderosas e corajosas por colocarem algo de si no mundo”, conta a psicanalista. 

Stephanie  frequenta o clube há mais de um ano e o conheceu através de uma amiga, que era uma das colaboradoras. A participante relata que é um processo de fortalecimento, de valorização do pensar e de união, pois é um espaço para a construção de laços e escuta da fala de pessoas diferentes. O clube se tornou um espaço para refletir, respeitar e acolher.

Escritoras paraibanas 

Outro ponto importante para Stephanie, é o contato com escritoras e obras paraibanas. Segundo a participante, ela não tinha muita familiaridade com as obras e escritoras da Paraíba, e foi a partir do clube que teve a oportunidade de conhecer o trabalho dessas mulheres. “Poder ver essas mulheres em um grupo de literatura, é de certa forma outorgar e dizer: ‘Poxa vocês todas existentes e eu existo dentro do meu estado’, e isso é de uma força tremenda”, reflete a psicanalista.

No clube, já foram discutidas obras das escritoras paraibanas Débora Gil Pantaleão, Jennifer Trajano, Anna Apolinário e da escritora premiada nacionalmente, Isabor Quintiere. Além disso, elas também estiveram presentes nos encontros para ouvir, comentar e responder às perguntas das participantes. Segundo Naíla Cordeiro, a experiência foi muito positiva e deixou os encontros ainda mais empolgantes.

Os encontros

Antes da pandemia, o clube se reunia presencialmente, mas por causa das novas regras de isolamento social, as discussões estão sendo realizadas pela internet. A mediadora Naíla Cordeiro conta que a experiência está sendo difícil, pois a proposta sempre foi fazer encontros presenciais, mas apesar disso, os encontros virtuais ganharam um novo significado durante o período de pandemia.

“Em julho, decidimos por voltar aos encontros de maneira online porque é a única forma possível neste momento. Apesar de perdemos em alguns pontos, corroboro os sentimentos de muitas participantes quando elas dizem que os  encontros são um acalanto em tempos de tanta aflição, sofrimento e incertezas”, relata Naíla Cordeiro.

O clube é aberto para o público em geral, basta apenas ter lido o livro do mês e estar disposto a discutir a obra. No perfil do Instagram, o grupo coloca todas as informações sobre os encontros, você precisa sinalizar que deseja participar e receberá as instruções em seguida.

Além da capital, há clubes também em Areia e Campina Grande. Para fundar um clube no seu município, basta entrar em contato com o e-mail do projeto para receber as orientações: contato@leiamulheres.com.br

Grace Vasconcelos | Edição: Lis Lemos